Uma intervenção psicológica precoce por telefone para apoiar famílias enlutadas em tempos de COVID-19

A phone-based early psychological intervention for supporting bereaved families in the time of COVID-19

 

Borghi, L., Menichetti, J., Vegni, E., & The Early Bereavement Psychological Intervention Working Group. (2021). A phone-based early psychological intervention for supporting bereaved families in the time of COVID-19. Frontiers in Public Health, 9. https://doi.org/10.3389/fpubh.2021.625691

 

Resenhado por Luana C. Silva-Santos

 

Atualmente, o mundo vive a sexta Emergência em Saúde Pública de importância internacional, declarada pela Organização Mundial da Saúde. Perder familiares e entes queridos neste período de extrema preocupação e marcado por medidas restritivas de contato é extremamente desafiador, principalmente dadas as limitações em receber apoio social e realizar os rituais de luto (como velórios, por exemplo). Ademais, as mortes costumam ocorrer no hospital, que também teve sua dinâmica alterada e nos casos de COVID-19 não permite acompanhantes ou visitas ao paciente hospitalizado. Em estudo anterior, os autores observaram que as famílias enlutadas que lidam com uma perda relacionada à COVID-19 podem precisar de um apoio da equipe hospitalar no sentido de dar sentido à experiência vivida, expressar as emoções relacionadas à situação, conseguir despedir-se do ente querido e manter suas lembranças, além de resolver questões práticas. No entanto, a escassez de tempo, a falta de recursos e as restrições de segurança, que caracterizaram especialmente as fases de emergência da pandemia, podem limitar a possibilidade de apoiar as famílias enlutadas. Assim, os autores objetivaram descrever uma experiência de intervenção psicológica precoce por telefone com famílias de pacientes hospitalizados que morreram por COVID-19 em Milão.

A intervenção psicológica precoce por telefone às famílias de pacientes falecidos com COVID-19 acontecia cerca de 48 a 72 horas após a família receber a notificação do falecimento do ente querido. Assim, entre 19 de março e 15 de junho de 2021, 246 familiares receberam a intervenção. Após a comunicação do falecimento pelo corpo clínico do hospital e contato com o agente funerário para organizar o sepultamento e formalizar o óbito, após 2 a 3 dias o psicólogo entrava em contato por telefone com o familiar designado pelo paciente para receber suas informações, geralmente seu familiar mais próximo. No primeiro contato também descobria outros familiares que pudessem precisar de apoio psicológico. Com duração média de 30 a 40 minutos, a intervenção psicológica servia para fomentar e sustentar estratégias e recursos espontâneos, mas também para avaliar as dificuldades psicoemocionais e os fatores de risco para dificuldades no processo do luto. O profissional avaliava, em diálogo aberto com o familiar e/ou com perguntas de triagem focalizadas, a sua resposta emocional à perda, a presença prévia de transtornos físicos e/ou psiquiátricos ou outros traços de personalidade predisponentes à vulnerabilidade psicológica, as estratégias de enfrentamento e mecanismos de defesa e a disponibilidade de recursos sociais. Após essa avaliação, ao familiar avaliado como de risco para dificuldades de luto, era oferecida a possibilidade de ser encaminhado para um acompanhamento psicológico adicional por uma equipe de psicólogos comunitários. Essa equipe proporcionava sessões psicoterapêuticas individuais de luto por videochamadas, com duração flexível de acordo com as necessidades do familiar e trajetória de recuperação.

Em suma, a intervenção breve e simples serviu como fechamento do caminho de atendimento hospitalar e como um link, eventualmente, para outros serviços de apoio baseados na comunidade. Por fim, a descrição de como se organizou a intervenção no percurso assistencial hospitalar e dos seus conteúdos, componentes e estrutura pode potencialmente fornecer indicações às organizações hospitalares que lidam com óbitos por COVID-19 sobre como organizar o apoio às famílias enlutadas nas circunstâncias especiais da pandemia e prevenir problemas psicológicos posteriores.



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