Doença renal crônica leva mais de 120 mil brasileiros para hemodiálise

14:43
Postado por Mariana Menezes
Uma das doenças crônicas que tem recebido grande atenção dos profissionais da saúde nos últimos anos é a Doença Renal Crônica. Ela é responsável por altos índices de morbidade e mortalidade, além de exercer impacto negativo na qualidade de vida das pessoas. No Brasil, o número de pacientes que precisam se submeter ao tratamento hemodialítico cresce em torno de 10% a cada ano. Por essas e outras razões se torna fundamental a presença de psicólogos nas equipes de clínicas de hemodiálise, pois a intervenção psicológica é importante à medida que auxilia o paciente a aceitar a própria condição, lidar com as limitações que são impostas pela doença, melhorar a adesão ao tratamento, explorar suas capacidades individuais e desenvolver estratégias de enfrentamento eficazes.

Todas as noites até o fim do mês, a cúpula do Senado receberá uma iluminação vermelha para alertar a população sobre a necessidade de cuidar bem dos rins. As luzes foram instaladas na última quinta-feira, 9 de março, data em que todos os anos se celebra o Dia Mundial do Rim. Nesse mesmo dia, os senadores fizeram uma sessão especial no Plenário que tratou da relação entre a obesidade e a doença renal. Atualmente, mais de 120 mil brasileiros têm insuficiência renal e fazem hemodiálise. A cada ano, segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, 21 mil pessoas entram nesse grupo. Entre as causas do problema, estão a hipertensão, o diabetes e o uso excessivo de anti-inflamatórios, vendidos sem controle nas farmácias. Esse tipo de medicamento, se consumido rotineiramente ou em excesso, pode provocar lesão nos rins.
Política pública 
O senador Eduardo Amorim (PSDB-SE), que foi quem pediu a sessão especial realizada no Dia Mundial do Rim, afirma: “A prevenção é o melhor, o mais barato, o mais eficiente e o menos sofrido de todos os remédios, mas tem efeito lento e gradativo. Nós precisamos ter uma política preventiva mais eficiente e mais capilarizada pelo país. Muitas vezes o cidadão é hipertenso, mas não sabe disso, e alguns anos depois, por causa desse desconhecimento, acaba desenvolvendo uma doença renal crônica”. O rim é um órgão vital para o equilíbrio da saúde. Do formato de um grão de feijão gigante e do tamanho de uma mão humana fechada, é normalmente duplo, mas pode-se viver com apenas um. É o filtro do corpo humano e precisa de muita água. O Dia Mundial do Rim foi criado para chamar a atenção da sociedade para a doença renal crônica, que é a perda progressiva — e muitas vezes irreversível — da função dos rins, o que pode fazer o paciente necessitar de hemodiálise ou transplante para não morrer.
Toxinas
A hemodiálise é o procedimento no qual uma máquina faz o trabalho do rim doente, ou seja, limpar e filtrar o sangue, eliminando resíduos prejudiciais à saúde, controlando a pressão arterial e mantendo o equilíbrio de sódio, potássio, ureia e creatinina, entre outros sais e minerais. Todo o sangue é filtrado várias vezes ao dia, fazendo com que ele volte limpo ao coração. As toxinas são eliminadas na forma de urina.
Doença silenciosa
A retenção de toxinas resulta numa condição muito séria conhecida como uremia. Os sintomas da uremia incluem náuseas, debilidade, fadiga, desorientação, dispneia e edema nos braços e pernas. Beber muita água e ter a urina clara, porém, não é garantia de que os rins estão saudáveis. Muitas das doenças que atingem o órgão são silenciosas, detectáveis apenas por meio de exames clínicos ou de imagem, e têm sintomas tardios. A doença renal crônica não acomete apenas idosos, mas também muitos jovens.O publicitário Felipe Peçanha, de 26 anos, sentiu os primeiros sintomas aos 17, quando foi internado com pressão alta e inchaço nos pés. “Na época, eu era muito jovem, estava na escola, não levei o problema a sério e não me cuidei direito. Um ou dois anos depois, tive outra crise e comecei a fazer hemodiálise”. Ele hoje precisa fazer hemodiálise três vezes por semana e espera poder se submeter logo ao transplante — seu pai lhe doará um dos rins. A nefrologista Isadora Calvo, do Hospital Regional de Sobradinho (DF), alerta para a necessidade de exames de sangue e urina periódicos, pelo menos uma vez ao ano, para que qualquer problema seja detectado precocemente. “Muitos pacientes apresentam os sintomas e em muito pouco tempo já estão na hemodiálise. Chegam em estágio avançadíssimo” — diz. O centro de hemodiálise do Hospital Regional de Sobradinho atende atualmente 60 pacientes. A unidade tem 13 máquinas de hemodiálise, sendo uma exclusiva para a UTI. Cada paciente geralmente precisa de três sessões por semana, com duração média de quatro horas. No entanto, o número de casos de doentes renais supera a capacidade de atendimento — realidade que a nefrologista acredita estar presente em muitos hospitais públicos. Outro problema lembrado pelo senador Eduardo Amorim é a defasagem no valor que o Sistema Único de Saúde (SUS) paga por sessão de hemodiálise. O valor é inferior aos reais custos do tratamento, o que, segundo ele, tem levado muitas clínicas pelo país a fechar as portas. “Veja que contradição: aumenta o número de pacientes renais crônicos, que precisam de hemodiálise, e muitas clínicas estão fechando. Os leitos de hemodiálise são insuficientes. O que o SUS paga, dizem os especialistas, não é suficiente para cobrir os custos”. 
Fatores de risco
No Brasil, a campanha iniciada todo ano no Dia Mundial do Rim é coordenada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia. Neste ano, o foco é obesidade, situação que pode causar ou agravar problemas renais. A entidade chama a atenção para os fatores de risco que obrigam o cidadão a ter ainda mais cuidado com os rins: pressão alta, diabetes, idade superior a 50 anos, histórico de doenças renais na família, uso de remédios sem orientação médica, tabagismo e doenças cardiovasculares, além do sobrepeso ou da obesidade. A Clínica de Doenças Renais de Brasília tem 150 pacientes em hemodiálise. O diretor do estabelecimento, nefrologista Rafael Bagustti, explica que a obesidade está diretamente relacionada ao estilo de vida das pessoas. E a obesidade, como a hipertensão e o diabetes, aumenta a filtração realizada pelos rins, causando envelhecimento precoce do órgão. 
Escolas
Bagustti concorda que prevenção é uma das melhores soluções: “Se conseguirmos ter uma dieta saudável, sem excesso de calorias e com baixo teor de açúcar e sódio, teremos uma população menos obesa, menos diabética, menos hipertensa e menos portadora de doenças renais crônicas”. Segundo o médico, a prevenção deve começar na infância: “Seria importante fazer em todas as escolas uma aferição básica de pressão arterial, porque na criança a hipertensão é um sinal claro de que o rim pode estar afetado. O check-up anual é muito importante, desde a juventude”. O médico lembra ainda que vários outros tipos de doenças podem atingir os rins, como infecções do trato urinário, cálculo renal, rins policísticos, lúpus, artrites que acometem o rim e muitas outras.

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