Doença renal crônica leva mais de 120 mil brasileiros para hemodiálise
Postado por Mariana Menezes
Uma das doenças crônicas que tem recebido grande atenção dos
profissionais da saúde nos últimos anos é a Doença Renal Crônica. Ela é
responsável por altos índices de morbidade e mortalidade, além de exercer impacto
negativo na qualidade de vida das pessoas. No Brasil, o número de pacientes que
precisam se submeter ao tratamento hemodialítico cresce em torno de 10% a cada
ano. Por essas e outras razões se torna fundamental a presença de psicólogos nas
equipes de clínicas de hemodiálise, pois a intervenção psicológica é importante
à medida que auxilia o paciente a aceitar a própria condição, lidar com as
limitações que são impostas pela doença, melhorar a adesão ao tratamento,
explorar suas capacidades individuais e desenvolver estratégias de enfrentamento
eficazes.
Todas as noites até o fim do mês, a cúpula do Senado receberá uma iluminação vermelha para alertar a população sobre a necessidade de cuidar bem dos rins. As luzes foram instaladas na última quinta-feira, 9 de março, data em que todos os anos se celebra o Dia Mundial do Rim. Nesse mesmo dia, os senadores fizeram uma sessão especial no Plenário que tratou da relação entre a obesidade e a doença renal. Atualmente, mais de 120 mil brasileiros têm insuficiência renal e fazem hemodiálise. A cada ano, segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia, 21 mil pessoas entram nesse grupo. Entre as causas do problema, estão a hipertensão, o diabetes e o uso excessivo de anti-inflamatórios, vendidos sem controle nas farmácias. Esse tipo de medicamento, se consumido rotineiramente ou em excesso, pode provocar lesão nos rins.
Política pública
O senador Eduardo Amorim (PSDB-SE), que foi quem pediu a sessão especial realizada no Dia Mundial do Rim, afirma: “A prevenção é o melhor, o mais barato, o mais eficiente e o menos sofrido de todos os remédios, mas tem efeito lento e gradativo. Nós precisamos ter uma política preventiva mais eficiente e mais capilarizada pelo país. Muitas vezes o cidadão é hipertenso, mas não sabe disso, e alguns anos depois, por causa desse desconhecimento, acaba desenvolvendo uma doença renal crônica”. O rim é um órgão vital para o equilíbrio da saúde. Do formato de um grão de feijão gigante e do tamanho de uma mão humana fechada, é normalmente duplo, mas pode-se viver com apenas um. É o filtro do corpo humano e precisa de muita água. O Dia Mundial do Rim foi criado para chamar a atenção da sociedade para a doença renal crônica, que é a perda progressiva — e muitas vezes irreversível — da função dos rins, o que pode fazer o paciente necessitar de hemodiálise ou transplante para não morrer.
Toxinas
A hemodiálise é o procedimento no qual uma máquina faz o trabalho do rim doente, ou seja, limpar e filtrar o sangue, eliminando resíduos prejudiciais à saúde, controlando a pressão arterial e mantendo o equilíbrio de sódio, potássio, ureia e creatinina, entre outros sais e minerais. Todo o sangue é filtrado várias vezes ao dia, fazendo com que ele volte limpo ao coração. As toxinas são eliminadas na forma de urina.
Doença silenciosa
A retenção de toxinas resulta numa condição muito séria conhecida como uremia. Os sintomas da uremia incluem náuseas, debilidade, fadiga, desorientação, dispneia e edema nos braços e pernas. Beber muita água e ter a urina clara, porém, não é garantia de que os rins estão saudáveis. Muitas das doenças que atingem o órgão são silenciosas, detectáveis apenas por meio de exames clínicos ou de imagem, e têm sintomas tardios. A doença renal crônica não acomete apenas idosos, mas também muitos jovens.O publicitário Felipe Peçanha, de 26 anos, sentiu os primeiros sintomas aos 17, quando foi internado com pressão alta e inchaço nos pés. “Na época, eu era muito jovem, estava na escola, não levei o problema a sério e não me cuidei direito. Um ou dois anos depois, tive outra crise e comecei a fazer hemodiálise”. Ele hoje precisa fazer hemodiálise três vezes por semana e espera poder se submeter logo ao transplante — seu pai lhe doará um dos rins. A nefrologista Isadora Calvo, do Hospital Regional de Sobradinho (DF), alerta para a necessidade de exames de sangue e urina periódicos, pelo menos uma vez ao ano, para que qualquer problema seja detectado precocemente. “Muitos pacientes apresentam os sintomas e em muito pouco tempo já estão na hemodiálise. Chegam em estágio avançadíssimo” — diz. O centro de hemodiálise do Hospital Regional de Sobradinho atende atualmente 60 pacientes. A unidade tem 13 máquinas de hemodiálise, sendo uma exclusiva para a UTI. Cada paciente geralmente precisa de três sessões por semana, com duração média de quatro horas. No entanto, o número de casos de doentes renais supera a capacidade de atendimento — realidade que a nefrologista acredita estar presente em muitos hospitais públicos. Outro problema lembrado pelo senador Eduardo Amorim é a defasagem no valor que o Sistema Único de Saúde (SUS) paga por sessão de hemodiálise. O valor é inferior aos reais custos do tratamento, o que, segundo ele, tem levado muitas clínicas pelo país a fechar as portas. “Veja que contradição: aumenta o número de pacientes renais crônicos, que precisam de hemodiálise, e muitas clínicas estão fechando. Os leitos de hemodiálise são insuficientes. O que o SUS paga, dizem os especialistas, não é suficiente para cobrir os custos”.
Fatores de risco
No Brasil, a campanha iniciada todo ano no Dia Mundial do Rim é coordenada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia. Neste ano, o foco é obesidade, situação que pode causar ou agravar problemas renais. A entidade chama a atenção para os fatores de risco que obrigam o cidadão a ter ainda mais cuidado com os rins: pressão alta, diabetes, idade superior a 50 anos, histórico de doenças renais na família, uso de remédios sem orientação médica, tabagismo e doenças cardiovasculares, além do sobrepeso ou da obesidade. A Clínica de Doenças Renais de Brasília tem 150 pacientes em hemodiálise. O diretor do estabelecimento, nefrologista Rafael Bagustti, explica que a obesidade está diretamente relacionada ao estilo de vida das pessoas. E a obesidade, como a hipertensão e o diabetes, aumenta a filtração realizada pelos rins, causando envelhecimento precoce do órgão.
Escolas
Bagustti concorda que prevenção é uma das melhores soluções: “Se conseguirmos ter uma dieta saudável, sem excesso de calorias e com baixo teor de açúcar e sódio, teremos uma população menos obesa, menos diabética, menos hipertensa e menos portadora de doenças renais crônicas”. Segundo o médico, a prevenção deve começar na infância: “Seria importante fazer em todas as escolas uma aferição básica de pressão arterial, porque na criança a hipertensão é um sinal claro de que o rim pode estar afetado. O check-up anual é muito importante, desde a juventude”. O médico lembra ainda que vários outros tipos de doenças podem atingir os rins, como infecções do trato urinário, cálculo renal, rins policísticos, lúpus, artrites que acometem o rim e muitas outras.
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