Estresse e ansiedade em pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise
Resenha por
Juliane Ishimaru
Valle, L. S., Souza, V. F., Ribeiro, A. M. (2013). Estresse e ansiedade em
pacientes renais crônicos submetidos à hemodiálise. Estudos de Psicologia, 30(1),
131-138. doi: 10.1590/S0103-166X2013000100014
O estresse, ou síndrome geral da
adaptação, caracteriza-se por um conjunto de reações fisiológicas motivadas por
questões físicas, sociais e psicológicas, que alteram a homeostase do organismo
e pode se diferenciar em três fases (alarme, resistência e exaustão). A
primeira fase, a de alarme, ocorre quando o organismo é exposto a um agente
estressor, sendo caracterizada como um comportamento de adaptação. Contudo, a
continuidade ou intensidade do evento estressor faz o organismo iniciar a
segunda fase, a de resistência, que é quando existem vários parâmetros
homeostáticos alterados. Quando o organismo sente-se em níveis elevados de
estresse prolongado a terceira fase se inicia, sendo chamada de exaustão. Nas
duas primeiras fases há a manifestações de vários sintomas, já na terceira fase
há o surgimento ou agravamento de doenças crônicas ou prolongadas, podendo ser
físicas ou psicológicas.
Os sintomas de estresse, sejam eles
físicos ou psicológicos, podem ser relacionados com a ansiedade. Atualmente,
existem diversos estudos que relacionam o estresse e a ansiedade com doenças
crônicas. Tendo como enfoque as doenças renais crônicas, uma das formas de
tratar essas doenças é o procedimento conhecido como hemodiálise. Esse tipo de
tratamento tem um papel fundamental na manutenção da vida, mas é doloroso e de
longa duração - frequência média de três a quatro horas por semana - gerando
perdas e transformações biopsicossociais. Durante o tratamento, as emergências e os
óbitos são constantes, e o paciente está sujeito a diversas complicações
técnicas e clínicas.
Com o intuito de investigar o nível de
estresse e a ansiedade de pacientes submetidos à hemodiálise, foi desenvolvido
um estudo no Instituto do Rim de Natal, no estado do Rio Grande do Norte,
Brasil. A amostra foi composta por 100 pacientes que estavam em tratamento de
hemodiálise três vezes por semana. Para
a avaliação do estresse, foi utilizado o Inventário de Sintomas de Estresse
para Adultos de Lipp (ISSL) (Lipp, 2000), a intensidade da ansiedade foi
avaliada pelo Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE) (Spielberger,
Gorsuch & Lushene, 1970), e os instrumentos foram complementados pelo
questionário sociodemográfico.
Os resultados mostraram alto percentual
de estresse e ansiedade nos pacientes submetidos à hemodiálise. A amostra expôs
homogeneidade em relação ao sexo, com ampla abrangência de faixa etária, mas
com predominância de adultos entre 31 e 50 anos. A porcentagem de pacientes que
apresentaram sintomas de estresse significativos foi de 71%, sendo distribuídos
de diferentes maneiras em casa fase (4% na primeira fase de instalação do estresse
- fase de alerta -; 47% apresentaram sintomas da fase de resistência; 13% na
fase de quase exaustão e 7% já apresentavam sintomas de exaustão). Em relação à
ansiedade, todos os pacientes apresentaram quadro ansioso, sendo 66% ansiedade
moderada e 34% alta ansiedade. Por fim, a amostra constatou que em relação à
natureza dos sintomas, há uma predominância de sintomas psicológicos (55%) em
comparação aos sintomas físicos (16%) ou a ambos (29%).
Em suma, entende-se que pacientes renais
crônicos em tratamento de hemodiálise são mais vulneráveis ao estresse e a
ansiedade. Devido a essa constatação, afirma-se a importância do trabalho dos
psicólogos, que pode ser individual ou grupal. A atuação psicológica deve
tratar pontos importantes de modelação da vida do paciente submetido a esse
tipo de tratamento, assim como a relevância das redes de apoio. Ainda é
necessário ampliar o número de estudos nacionais sobre o tema, bem como sobre a
relação de ansiedade e estresse com doenças crônicas. Dessa forma, as
possibilidades de promoção do controle, prevenção e tratamento dos impactos, poderão
ser ampliadas de forma significativa contribuindo para melhor qualidade de
vida.
Nenhum comentário: