Doença de Parkinson
Resenhado por Iracema R.O. Freitas
Kummer,
A., Teixeira, A. L. (2009). Neuropsychiatry of Parkinson’s disease. Arquivos de Neuro-psiquiatria, 67(3-B), 930-939. doi:10.1590/S0004-282X2009000500033
A doença de Parkinson (DP) é reconhecida
clinicamente por sinais como bradicinesia (lentidão anormal dos movimentos
voluntários), rigidez, instabilidade postural e tremor de repouso. Estes sinais
motores da DP respondem de forma positiva às drogas dopaminérgicas. Porém, além
dos sinais motores existem ainda os aspectos não-motores da doença, que são
comuns e por vezes incapacitantes, isso porque, eles precedem os sinais motores
e limitam o tratamento efetivo, aumentando a deficiência e reduzindo a
qualidade de vida dos pacientes. No artigo publicado no Jounal of Geriatric Psychiatry and Neurolgy (1999), por exemplo,
estudos de neuroimagem detectaram sinas de Parkinson na substância negra após
um período de 4 a 7 anos de depressão, o que demonstra a relevância dos sinais
não-motores como preditivos da DP.
Frente a importância e a elevada frequência
de transtornos psiquiátricos presentes na DP, esse artigo reuniu as principais síndromes
neuropsiquiátricas da DP (depressão, ansiedade, TOC - Transtorno Obsessivo
Compulsivo, sintomas psicóticos e outros) e as terapias disponíveis para o
tratamento.
Em relação a depressão, estudos sugerem
que ela seja mais comum entre pacientes com DP do que em outras doenças
crônicas debilitantes. Vê-se que a depressão menor e a moderada são os tipos mais
frequentes e os principais fatores de risco são: gênero, idade avançada, aumento
da gravidade da doença, rigidez acinética (que não se move), instabilidade
postural, sinais motores que não respondem a levodopa e histórico familiar de
DP. Caso haja comorbidade, é comum um comprometimento maior do desempenho motor
em pacientes que se enquadrem na categoria de risco. Os instrumentos para
diagnóstico mais usados são: entrevistas semi-estruturadas, Escala de Hamilton,
Inventário de Depressão de Beck e o Montgonmery-Asberg.
Além do tratamento farmacológico, a Terapia Cognitiva Comportamental demonstrou
grande eficácia como tratamento não-farmacológico.
Por sua vez, o transtorno de ansiedade social
acomete em média 50% dos pacientes com DP que podem ser diagnosticados com, por
exemplo, fobia social. Em geral, o transtorno de ansiedade social tem como principais
características: apreensão, preocupação ou medo, fadiga, tensão, insônia e
problemas de atenção. No caso de pacientes com DP, os sinais de alteração
motora e mudanças na aparência poderiam explicar ansiedade em situações
sociais. O tratamento não-farmacológico abrange apoio psicológico,
psicoeducação e aconselhamento.
A relação entre TOC e Parkinson continua
em estudo, descobertas observaram que sintomas obsessivo-compulsivos de
contaminação e limpeza foram sinalizados através de sinapses vistas em
neuroimagem. Outros estudos apontam para uma “personalidade parkinsoniana”,
cujo perfil inclui comportamentos de busca de novidade e aceitação, menor
predisposição ao vício, inflexibilidade e menor expressão de raiva. Quanto a
terapia para o TOC na DP, não há estudos sistemáticos sobre o tema.
O sintoma psicótico é descrito pela
presença de pensamentos distorcidos (delírio), senso-percepção (ilusões e
alucinações) e sonhos (vividos como reais). Existe uma prevalência de psicose
na comunidade de doentes parkinsonianos entre 15% e 20%, sendo as alucinações
visuais complexas o fenômeno mais comum. Os fatores de risco comuns são:
declínio cognitivo, depressão, idade avançada, maior duração da doença e
outros. O tratamento farmacológico são os antipsicóticos.
Por fim, observa-se que a doença de
Parkinson é de ordem multifatorial, trata-se de uma doença crônica e
incapacitante, que degenera o funcionamento cerebral e cognitivo do paciente,
uma vez que há uma redução gradativa da produção de dopamina decorrente da
morte das células que compõe uma estrutura no cérebro chamada parte compacta da
substância negra. Estudos ainda estão em aberto na busca de maior compreensão e
novos tratamentos. O cuidado com tais pacientes deve ser composto por atenção
médica, uso de fármacos, acompanhamento psicológico e familiar.
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