Parkinson, por dentro do mistério.

23:33
Postado por Juliane Ishimaru

Por ser uma doença neurodegenerativa incurável, o diagnóstico do mal de Parkinson está atrelado ao medo e a insegurança em relação às perspectivas de melhora e todo o procedimento de adaptação a ela. Atualmente, vê-se o crescimento do número de estudos sobre essa doença em diversas áreas, o que permite o aprimoramento das práticas de cuidado existentes, bem como também, desmistificar muitos conceitos a despeito do mal de Parkinson e proporcionar mais qualidade de vida àqueles que necessitam conviver dia a dia com ela.

Fonte: http://super.abril.com.br/saude/parkinson-por-dentro-do-misterio/
As primeiras mudanças no organismo não chamam a atenção. No início, aparece uma sensação constante de cansaço ou mal-estar no fim do dia. Depois, vêm as dores musculares, especialmente na região lombar. Aos poucos, a caligrafia tende a ficar menos legível. Sem motivo aparente, o paciente se sente deprimido e irritadiço. A voz torna-se monótona e menos articulada e os movimentos vão ficando vagarosos. Pernas e braços parecem rígidos. Atividades cotidianas, como abotoar uma blusa, antes executadas com facilidade, viram tarefas complicadas. Mas o susto vem quando, subitamente, aparece o tremor.A doença de Parkinson integra o rol das enfermidades ligadas ao envelhecimento. Acomete pessoas na faixa dos 60 anos de idade em diante, mas pode, eventualmente, aparecer antes – como no caso do ator canadense Michael J. Fox, que descobriu a doença aos 30 anos. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, atualmente a doença atinge 4,7 milhões de indivíduos em todo o planeta. Devido à maior expectativa de vida da população mundial, o número de casos de Parkinson tende a crescer. Por isso, cientistas têm se debruçado com ávido interesse sobre a doença, buscando decifrar suas misteriosas causas e, assim, tornar possíveis tanto a prevenção quanto a cura.A doença de Parkinson se desenvolve quando células de uma pequena área do cérebro, chamada de “substância negra” devido à sua pigmentação escura, começam a morrer progressivamente. Esses neurônios jurados de morte são responsáveis pela produção de dopamina, um neurotransmissor – ou seja, um mensageiro químico – incumbido de transmitir informações às áreas cerebrais que comandam os movimentos. Como as células vão se degenerando, a quantidade normal de dopamina deixa de ser liberada e, assim, surgem falhas nos mecanismos de controle motor do indivíduo.
(...) Apesar de os sintomas variarem de acordo com cada indivíduo, a doença produz quatro sinais típicos, dos quais derivam as demais complicações: tremor em repouso, rigidez muscular, redução na quantidade de movimentos (acinesia) e alterações na postura e no equilíbrio.Mas não se trata de um diagnóstico simples. Afinal, tremor, rigidez e acinesia não são características exclusivas da doença de Parkinson. Estão presentes em um conjunto de enfermidades designadas pelo termo genérico de “parkinsonismo”. Essas enfermidades também provocam distúrbios motores, como a doença de Parkinson, mas todas elas têm causas determinadas – e nenhuma relação com os neurônios da substância negra. Estima-se que de 20% a 25% dos pacientes diagnosticados com doença de Parkinson venham a descobrir que sofrem, na verdade, de uma outra forma de parkinsonismo.(...) Mas não seria somente o sistema de degradação de proteínas que estaria alterado na doença. “Haveria também um acúmulo de radicais livres nos neurônios dopaminérgicos”, afirma a neurocientista brasileira Simone Engelender, do Instituto de Tecnologia Technion, de Israel.
(...) “Como as duas hipóteses são possíveis, a causa da doença de Parkinson pode ser a combinação de múltiplos fatores intracelulares”, diz Simone.Não se sabe exatamente o que motivaria tais alterações internas dos neurônios. Hoje, os cientistas admitem que a predisposição genética, combinada com fatores ambientais, pode ser determinante no aparecimento da doença. (...)Outra frente de pesquisas dedica-se a encontrar caminhos para a prevenção do Parkinson. A neurocientista australiana Kay Doule, da Universidade de Würzburg, na Alemanha, pesquisa um exame de sangue que identificaria a presença da doença antes de boa parte de a substância negra ter sido perdida e os sintomas surgirem. (...)Mesmo com a quantidade considerável de pesquisas perscrutando as causas do Parkinson, no momento a cura da doença ainda permanece um sonho intangível. No entanto, se há algumas décadas pouco se podia fazer pelo paciente, os tratamentos hoje disponíveis, aliados a terapias não-medicamentosas, como a fisioterapia e a fonoaudiologia, mantêm os sintomas do Parkinson sob controle e possibilitam que os pacientes tenham uma vida satisfatória e produtiva.Existem também duas modalidades de cirurgia como opção para os pacientes que já não respondem bem aos medicamentos. Uma delas é a cirurgia ablativa, que visa destruir áreas específicas do cérebro alteradas pela doença. A outra chama-se estimulação cerebral profunda e consiste na implantação de um marca-passo para corrigir estímulos incorretos enviados de uma região cerebral para outra. Essas cirurgias não são curativas, mas aliviam sintomas fora do controle.Estão em testes, na Suécia e nos Estados Unidos, onde o aborto é legalizado, os polêmicos transplantes de células fetais. Neurônios produtores de dopamina retirados de fetos abortados são implantados no putâmen dos pacientes. Já foram feitas cerca de 150 cirurgias desse tipo e os resultados têm sido razoáveis. (...)
A crença do parkinsoniano na sua capacidade de superação dos limites motores também parece ser um componente fundamental no tratamento. A equipe do neurologista Jon Stoessl, da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, estudou o papel do efeito placebo na reversão dos sintomas do Parkinson. Eles constataram que a expectativa da recompensa (a melhora na condição física) por si só ativa o sistema de produção de dopamina e de outros neurotransmissores. “Medicamentos usados para controlar os sintomas da doença aumentam a disponibilidade de dopamina ou mimetizam seus efeitos”, diz Stoessl. “O efeito placebo apresenta um mecanismo similar, que pode maximizar os benefícios terapêuticos.”
 

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