Resiliência em adolescentes com diabetes tipo 1

Shapiro, J. B., Bryant, F. B., Holmbeck, G. N., Hood, K. K., & Weissberg-Benchell, J. (2021). Do baseline resilience profiles moderate the effects of a resilience-enhancing intervention for adolescents with type I diabetes? Health Psychology, 40(5), 337–346. https://doi.org/10.1037/hea0001076

Resenhado por Ana Beatriz Silveira

 

 O diabetes mellitus é uma doença crônica caracterizada pelo excesso de glicose no sangue, sendo o tipo 1 causado pela deficiência de produção de insulina do pâncreas. A adolescência em si já é considerada uma fase desafiadora, o que exacerba a dificuldade de lidar com uma condição de saúde, principalmente com a diabetes, que demanda maiores mudanças de comportamento. A angústia e o distresse ligados à doença também estão relacionados a esses problemas, entretanto, alguns adolescentes conseguem ser resilientes e se engajar nos comportamentos de manejo recomendados. Duas facetas importantes da resiliência foram identificadas em estudos anteriores: a individual, que inclui as estratégias de enfrentamento ou as formas de resposta ao estresse; e a relacionada à família, visto que relações conflituosas entre o adolescente e a família mostraram estar ligadas a problemas no enfrentamento da doença. Assim, o presente estudo buscou identificar os níveis de resiliência entre adolescentes com diabetes tipo 1 e a influência destes níveis nos desfechos de saúde.

A amostra foi composta por adolescentes de 14 a 18 anos, sendo a maioria do sexo feminino (60%), e identificada como branca não hispânica (66%). Os participantes foram designados aleatoriamente entre um programa de educação em diabetes e outro voltado ao desenvolvimento de resiliência. Foram avaliados aspectos relativos à resiliência (autoeficácia de enfrentamento, resolução de problemas, pensamentos automáticos negativos, desesperança e conflitos familiares relacionados à diabetes) e aos desfechos de saúde (distresse relacionado à diabetes, controle glicêmico, comportamentos de manejo da diabetes e a frequência de monitoramento da glicose), antes da intervenção e quatro meses, oito meses, um ano, dois anos e três anos após a intervenção.

Foram identificados dois perfis de resiliência: alta e baixa. O grupo de alta resiliência demonstrou maiores habilidades de autoeficácia e de resolução racional de problemas, com menor risco de conflito familiar, pensamentos negativos e desesperança. Em relação aos desfechos de saúde, apresentou menor distresse, maior controle glicêmico e maior controle nos comportamentos de manejo. O grupo com baixa resiliência apresentou menor autoeficácia e resolução de problemas mais impulsiva e evitativa, apresentando maior risco de conflito familiar e desesperança, além de maior distresse, menor controle glicêmico e controle deficiente dos comportamentos de manejo.

Ambos os perfis apresentaram menor distresse no grupo que sofreu intervenção de resiliência, sendo beneficiados de forma similar, não corroborando a hipótese de que o perfil de menor resiliência seria mais beneficiado pela intervenção psicológica. Em relação ao nível de glicose, não houve diferença que alterasse as médias dos grupos, ou seja, a intervenção psicológica equiparou-se à de educação em diabetes, em consonância com a literatura mais atual, indo de encontro à hipótese de que a intervenção psicológica seria mais eficaz. Por fim, o perfil de alta resiliência no programa de educação checou mais vezes seu nível de glicose do que os do programa de resiliência, e o outro perfil não apresentou diferença entre os programas. Além disso, não houve discrepância entre os grupos de intervenção em relação aos comportamentos de manejo.

Esse estudo abordou o processo de ajustamento à diabetes e a eficácia de intervenções relacionadas, colaborando para a investigação de métodos mais efetivos para melhorar a qualidade de vida do paciente, um dos objetivos da Psicologia da Saúde.


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