O papel da autoeficácia, da autoestima e do autoconceito na depressão em adolescentes
Nunes, D., & Faro, A. (2021). El papel de la autoeficacia, la autoestima y el autoconcepto en la depresión en adolescentes. Ciencias Psicológicas, 15(2), 2164. https://doi.org/10.22235/cp.v15i2.2164
Resenhado
por Luíza Ramos
A adolescência é um período de
potencial vulnerabilidade, em que grande parte da carga de doenças mentais
surge. Os distúrbios emocionais, incluindo a depressão, são os mais frequentes
e representam impacto significativo na etiologia de outras doenças e
incapacidades. Na adolescência, a depressão se caracteriza pela presença de
humor irritável e instável, perda de energia, apatia e desinteresses
relevantes, além de alterações no sono e sentimentos de desesperança e culpa. O
início de depressão nesse período da vida está associado a maior prejuízo
funcional, comorbidades psiquiátricas e suicídio. Um conjunto de crenças sobre
si mesmo, incluindo o autoconceito, a autoestima e a autoeficácia, exerce papel
moderador da ocorrência de depressão, atuando como fator protetivo ou
potencializando a presença de sintomas. A autoeficácia se refere às crenças do
indivíduo acerca da sua capacidade de organizar e executar determinado curso de
ação para alcançar um resultado. A autoestima diz respeito à avaliação
subjetiva de um indivíduo sobre os seus valores como pessoa. Já o autoconceito
é um construto que envolve a percepção das pessoas sobre si mesmas em
diferentes domínios, incluindo social, familiar, físico, entre outros. Assim, o
objetivo do estudo foi avaliar a capacidade de predição da autoeficácia,
autoestima e autoconceito sobre a sintomatologia depressiva em adolescentes.
A amostra foi constituída por 501
adolescentes, selecionados por conveniência em escolas públicas e particulares
do Nordeste brasileiro. A coleta de dados foi feita de forma presencial e utilizou-se
um questionário sociodemográfico, a Escala de Autoeficácia Geral Percebida, a
Escala de Autoconceito Multidimensional, a Escala de Autoestima de Rosenberg e
o Questionário de Saúde do Paciente, este último para rastrear os sintomas
depressivos. A princípio, foram realizadas análises exploratórias dos dados e
em seguida obtiveram as estatísticas descritivas. Para avaliação da predição dos
sintomas de depressão, conduziu-se uma análise de regressão linear múltipla. A
partir do resultado, verificou-se o papel moderador das variáveis gênero e
idade na relação entre depressão e as variáveis preditoras.
Quase metade dos adolescentes
apresentou diagnóstico positivo de rastreamento para depressão e níveis
moderados nos três construtos avaliados. Apenas a autoeficácia foi preditora
negativa da sintomatologia, ou seja, níveis rebaixados de autoeficácia foram
preditivos para níveis mais altos de sintomas depressivos. A autoeficácia,
portanto, pode produzir sintomas depressivos através de três caminhos. O
primeiro seria a partir das discrepâncias entre as aspirações pessoais e as
habilidades percebidas, o segundo seria por meio de um baixo senso de eficácia
pessoal para desenvolver relacionamentos interpessoais satisfatórios que
auxiliem no controle de estressores crônicos e, por fim, uma terceira via se
daria através do baixo senso de exercer controle sobre os próprios pensamentos
depressivos. Viu-se, ainda, que a relação entre sintomatologia depressiva e
autoeficácia não foi moderada pelas variáveis idade e gênero. Isso demonstra
que a capacidade da autoeficácia de predizer sintomas depressivos não sofre
influência significativa dessas variáveis sociodemográficas.
Dessa forma, analisar construtos
cognitivos como preditores de depressão contribui tanto na avaliação, visto que
se identifica quais indivíduos apresentam maior vulnerabilidade, quando no
tratamento, a partir da elaboração de estratégias para o desenvolvimento de
crenças mais adaptativas sobre si mesmos. Os achados fornecem subsídios para a
Psicologia da Saúde ao passo que permitem a elaboração de protocolos de
intervenção e práticas mais assertivas.
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