Depressão e gênero: por que as mulheres deprimem mais que os homens?

Resenhado por: Mariana Menezes

Baptista, M. N., Baptista, A, S. D., & Oliveira, M. G. (1999). Depressão e gênero: Por que as mulheres deprimem mais que os homens? Temas em psicologia., 143-156.

Vários estudiosos buscam entender por que os sexos diferem quanto à depressão. Com uma prevalência duas vezes maior que os homens, as mulheres apresentam mais a doença. Sua prevalência também pode variar de acordo com a região, mas de modo geral, as mulheres pontuam mais alto nas escalas que medem a depressão.
A diferença entre os sexos geralmente começa na adolescência e alguns estudiosos supõem que seja mais fácil medir a depressão nas mulheres, pois talvez elas experimentem, sintam e manifestem a doença de maneira mais direta do que o homem. Além disso, as mulheres procuram mais os serviços de saúde, lembram mais dos episódios depressivos e enfrentam a depressão do modo tradicional, chorando e se isolando, ao contrário dos homens que utilizam estratégias de enfrentamento externas como beber, fumar e fazer uso de drogas, por exemplo. O papel social também é importante para esta diferença, pois os homens tendem a não expressar ou não perceber os sintomas depressivos como as mulheres, além de negarem quando estão com a doença por interpretarem a depressão como sinal de fraqueza.
Apesar de não haver uma relação bem estabelecida entre gênero e sintomatologia de depressão, homens e mulheres também diferem no que diz respeito aos sintomas da depressão. Dados apontam para algumas diferenças básicas, sendo mais comum nas mulheres a sintomatologia relacionada ao caráter somático e/ou vegetativo, como a questão do apetite e ganho de peso e nos homens os sintomas cognitivos. Olson e Von Knorring (1997) mostraram que sintomas como insónia, fadiga, diminuição nas atividades organizacionais e/ou escolares, irritabilidade e autoacusação estão presentes tanto em homens como em mulheres. Sintomas como afastamento dos amigos e perda de interesse pelo sexo oposto teve um escore baixo em ambos os sexos, porém, na maioria desses itens, as mulheres pontuaram mais alto que os homens. Os sintomas mais comuns observados nos homens foram fadiga, insônia, danos no trabalho/escola e autoacusação, enquanto que os mais observados nas mulheres foram o humor depressivo, ideação suicida, choro e autodepreciação.
Na mesma linha, hipóteses psicossociais e biológicas são levantadas por diversas pesquisas, na tentativa de esclarecer porque as mulheres apresentam mais depressão do que os homens. Numa perspectiva psicológica e sociocultural, a depressão pode ser efeito da socialização, baixo status social, regras diferenciadas, eventos estressantes, vitimização, preocupação com a imagem corporal, etc. As hipóteses biológicas consideram, principalmente, que as diversas mudanças hormonais na mulher podem levá-la a mudanças no humor, tentativas de suicídio são mais comuns no período pré-menstrual do que em outros períodos, a utilização de contraceptivos pode influenciar na absorção de alguns medicamentos antidepressivos, o ciclo menstrual e fases como gestação, puerpério e climatério aumentam a probabilidade de episódios depressivos, podendo funcionar como gatilhos. Ainda, do ponto de vista neurobiológico, verifica-se que a mulher é mais suscetível ao desenvolvimento da depressão, principalmente porque, ao longo de sua vida, atravessa períodos nos quais há a falta do estrogênio.

Entre os fatores de risco da depressão os mais comuns são: ter histórico de depressão, ser mulher, viver em uma família disfuncional, ter pais com baixa educação, ter sido exposto a um grande número de eventos estressantes, dispor de pouco suporte social, ter baixa autoestima, baixa competência intelectual, problemas de saúde, técnicas reduzidas de enfretamento, excessiva interdependência pessoal, ter sofrido a morte prematura de um dos pais, entre outros.

Em suma, é fato que os homens e as mulheres diferem quando o assunto é depressão. As diferenças são psicológicas, sociais e biológicas e o estudo dessas diferenças pode contribuir para o aprimoramento de estratégias clínicas psicoterapêuticas e medicamentosas, e ainda auxiliar no desenvolvimento de modelos explicativos e tratamentos mais eficazes.



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