Sintomas depressivos e eventos estressores em crianças e adolescentes no contexto de institucionalização

Resenhado por Rafael Matos

Watheir, L., & Dell´aglio, D. (2007). Sintomas depressivos e eventos estressores em crianças e adolescentes no contexto de institucionalização. Revista de psiquiatria do Rio Grande do Sul, 29,: 305-314.

O presente texto tem por objetivo verificar a frequência e o impacto de eventos estressores na manifestação de sintomas depressivos em crianças e adolescentes institucionalizados e não-institucionalizados.
Atualmente, estudos sobre depressão em crianças e adolescentes que vivenciaram eventos estressores têm ganhado destaque no campo científico. Por um lado, tal panorama é explicado pelos danos psicossociais gerados por estas situações e por outro pela carência de estudos sobre essa temática.
A depressão tomada como transtorno refere-se a um estado afetivo alterado, caracterizado pelos mais variados sintomas de ordem cognitiva, afetiva e comportamental. Quanto a sua etiologia é considerado um fenômeno multicausal provocado por diversos eventos, dentre eles estão os chamados eventos estressores.
Tais eventos são definidos como ocorrências da vida que causam tensão interferindo nas respostas emitidas pelo indivíduo em sua relação com o meio, onde a depender da intensidade e duração pode contribuir para um estado de depressão.
Na infância e na adolescência, a depressão pode ter início com a perda de interesse pelas atividades que normalmente seriam atrativas, manifestando-se como uma espécie de mau humor constante diante dos jogos, brincadeiras e esportes.
Em um estudo longitudinal, Sternberg et al constataram que crianças que sofreram algum tipo de violência intrafamiliar apresentaram mais problemas de comportamento assim como, sintomas depressivos na adolescência quando comparadas a outras crianças que não passaram por estas situações.
Segundo estudos, situações como separação dos pais, história de criminalidade em um dos pais, baixa renda e doença mental dos genitores são considerados como fatores de risco para a depressão.
No presente estudo foram aplicados os instrumentos Children's Depression Inventory (CDI) e o Inventário de Eventos Estressores na Infância e Adolescência (IEEIA) em 257 jovens de 7 a 16 anos de ambos os sexos, sendo que 130 residiam em abrigos de proteção e 127 moravam com suas famílias na região metropolitana de Porto Alegre. Todos os participantes frequentavam da 1ª à 8ª série do ensino fundamental de escolas públicas localizadas em bairros de baixas condições socioeconômicas.
Como resultados os autores encontraram correlações significativas entre a vivência de eventos estressores com o desenvolvimento de sintomas depressivos. Sendo tal correlação maior entre as crianças e adolescentes que se encontravam no abrigo de proteção, uma vez que os mesmos pontuaram mais no IEEIA.  
 Os achados desta pesquisa bem como os da literatura demostram que a correlação entre eventos estressores e depressão é significativa e frequente. Diante deste contexto pode-se depreender que tal situação trata-se de uma questão de saúde pública, visto que a sintomatologia envolve problemas de saúde mental, necessitando por esta razão de intervenções adequadas.
Por fim, cabe mencionar que a ampliação de estudos como este se faz necessária uma vez que se apresentam como ferramenta de conhecimento da realidade das crianças e adolescentes institucionalizados no Brasil.




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