Religião e uso de drogas por adolescentes
Resenhado por Iracema Freitas
Dalgalarrondo, P., Soldera, M.A., Filho, H. R., &
Silva, C.M.A. (2004). Religião e uso de drogas por adolescentes. Revista Brasileira de Psiquiatria, 26, 82-90. doi: 10.1590/S1516-44462004000200004
Estudos nacionais e internacionais têm investigado
o uso de drogas entre os adolescentes e como a religiosidade pode evitar tal
comportamento de risco, que envolve o
uso e a dependência das drogas. O ambiente sociocultural em que os adolescentes
se encontram influenciam os seus hábitos, mas fatores genéticos e psicológicos
também contribuem para uso de álcool e drogas.
Essa pesquisa foi realizada com o objetivo de verificar
se diferentes variáveis da religiosidade influenciavam o uso frequente ou
abusivo de álcool e drogas entre estudantes do ensino fundamental e médio. A
amostra foi constituída por 2.287 estudantes , sendo,
1.188 (52,0%) do sexo masculino e 1.096 (48,0%) do sexo feminino de escolas públicas periféricas e centrais e escolas particulares da
cidade de Campinas, SP. Foram utilizados um questionário anônimo de
autopreenchimento contendo questões socioeconômicas e referentes a
religiosidade, e também o
GHQ-12 (General HealthQuestionaire) que é um instrumento de rastreamento
(screening) de transtornos mentais que contém 12 questões com os
sintomas psiquiátricos mais freqüentes na comunidade. As drogas estudadas foram: álcool, tabaco, medicamentos, maconha,
solventes, cocaína e ecstasy (usados nos últimos 30 dias).
Os resultados indicaram que as meninas declararam-se mais
religiosas que os meninos, e que a religiosidade também foi maior entre os
estudantes de escola públicas da periferia. Por se tratar
de dimensões significativas da experiência pessoal e social, verificou-se que
tanto a prática religiosa quanto o uso de drogas tem impacto sobre a saúde
física e mental dos adolescentes. Em levantamento feito em diferentes
populações de
estudantes adolescentes e jovens constatou-se que havia associação entre não
ter religião (ou pertencer a denominações mais liberais), ter pouca crença
religiosa, não freqüentar igreja e cultos e maior uso de álcool e drogas.
Nos
EUA, em 2002, uma enquete nacional realizada por Strote et.al. (2002), com
14.000 estudantes universitários em 119 universidades, o uso de ecstasy foi
maior entre estudantes que consideram a religião menos importante. Yarnold &
Patterson (1998) em estudo feito com 458 estudantes secundários de escolas
públicas da Flórida, concluíram que considerar a religião como importante em
suas vidas foi fator inibidor do uso de maconha para amostra. Na Espanha, Luna
et.al. (1992) estudando grupo de 955 estudantes universitários, constaram que
aqueles que consideravam a religião importante, utilizavam menos álcool e
drogas, além de considerem seu uso perigoso.
No
Brasil, este estudo corroborou as pesquisas internacionais e nacionais,
reforçando que as dimensões da religiosidade, tais como, ter ou não ter uma religião, filiação religiosa, tempo em
que está na religião, frequência de ida à igreja por mês, considerar-se uma
pessoa religiosa e educação religiosa na infância, são importantes moduladores
do uso e abuso do álcool e outras drogas entre jovens e adolescentes. Todas as
variáveis religiosas, com exceção da “frequência religiosa”, estiveram
significativamente associadas ao uso pesado de drogas, ou seja, quanto mais religioso o subgrupo de
estudantes menor a freqüência de uso pesado de drogas.
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