Uso de esteróides anabólicos androgênicos por praticantes de musculação de grandes academias da cidade de São Paulo

Resenhado por Monique Carregosa

Silva, L. S. M. F., & Moreau, R. L. M. (2003). Uso de esteróides anabólicos androgênicos por praticantes de musculação de grandes academias da cidade de São Paulo. Revista Brasileira de Ciências Farmacêuticas, 39, 327-333.

A presente pesquisa teve o objetivo de estimar o consumo e traçar o perfil dos usuários de esteróides anabólicos androgênicos (EAA) entre praticantes de musculação, em três grandes academias de ginástica na cidade de São Paulo. Para tal finalidade, ainda foram coletados dados significativos, como sexo, faixa etária, motivações para a prática de musculação, nível de treinamento muscular, uso de suplemento alimentar, identificação dos principais esteróides consumidos, maneiras de uso, produtos usados em associação e a forma como os produtos foram adquiridos. Além disso, observou-se o surgimento dos possíveis efeitos tóxicos e a atitude dos usuários em relação a estes efeitos.
Os autores expõem que o uso de EAA tem ocorrido indiscriminadamente e de maneira empírica não só no Brasil, mas a nível internacional, a ponto de atingir diferentes públicos, como frequentadores de academias de ginástica e até estudantes de nível médio (Lindström et al., 1990; Perry et al., 1992; Evans, 1997; Korkia & Stimson, 1997; Lambert et al., 1998; Maharaj et al., 2000; Yesalis & Bahrke, 2000). No país, a prática da musculação tornou-se muito comum, principalmente entre adolescentes, o que tem estimulado o crescimento no número de academias de ginástica e atraído profissionais da área a investir neste mercado.
Outro aspecto reforçador para a pesquisa, consiste no fato de que, desde 1995, nas grandes academias de várias cidades, dentre as quais São Paulo está inserido, a quantidade de jovens entre 15 e 17 anos que praticam musculação tem triplicado. Portanto, a toxidade dos anabolizantes atrelada à prática de musculação, bem como o pouquíssimo conhecimento sobre a incidência, prevalência e formas de uso dos diferentes esteróides consumidos justificam o referido estudo.
Desse modo, dos cerca de 6.000 praticantes de musculação matriculados nas três academias, 209 (cerca de 3% do total) responderam o questionário estruturado. Este ficou disponível nas referidas academias por uma semana e a coleta ocorreu de forma voluntária e sigilosa, uma vez que foram depositados pelos próprios respondentes em urnas lacradas.
Como resultado, encontrou-se que a incidência de uso de anabolizantes foi de 19%, sendo que, destes, 8% declararam fazer uso atualmente e 11% apenas anteriormente; ao considerar apenas o sexo masculino, a incidência do uso foi de 24%. Por sua vez, os compostos de maior consumo foram estanozolol e decanoato de nandrolona.
Assim, o perfil dos usuários de EAA teve a seguinte caracterização: idade média de 27 anos (de 25 a 29 anos), majoritariamente homens, motivação pela melhora na estética corporal e treinamento muscular intenso, e possuem a crença de que os efeitos tóxicos/adversos podem ser controlados e/ou evitados com o uso de outros medicamentos e/ou acompanhamento médico. Faz-se importante destacar que os anabolizantes foram obtidos principalmente em farmácias, sem receita médica e foram associados com o uso de suplemento alimentar e outros fármacos.

Portanto, a leitura do presente texto é recomendada para todos que desejem compreender o perfil dos usuários de EAA que praticam musculação, bem como as crenças que propulsionam esse uso, uma vez que conhecendo como eles percebem a substância, acredita-se que será possível avaliar como os mesmos interpretam o fenômeno e, consequentemente, realizar intervenções, a exemplo de medidas preventivas e educativas junto à população exposta aos EAA.

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