Psicólogas falam sobre transtornos alimentares e de modos de tratá-los.
Postado
por Brenda Fernanda
O
Instituto de Psicologia da USP promoveu, durante o período de 23 a 27/09/2013,
um minicurso para falar sobre os transtornos alimentares e sua abordagem
psicológica. Desse modo, foi apresentada a psicopatologia característica dos
transtornos alimentares, que se observam na relação com o corpo e no
comportamento alimentar. Os transtornos alimentares atingem principalmente a
população feminina, em decorrência da preocupação excessiva com o controle do
peso e da importância exagerada dada ao corpo, tornando este palco de
manifestações da mente e batalhas psicológicas. Diante deste quadro, começam as
mudanças do comportamento alimentar e consequentes alterações clínicas. O que
caracteriza o quadro de anorexia nervosa é o baixo peso, devido à inanição
imposta pelo próprio indivíduo. Já a bulimia nervosa é caracterizada por
episódios recorrentes de compulsão alimentar e, em função da grande importância
dada a sua forma física, há a necessidade de compensar o descontrole com a
comida, com a purgação (vômito, ingestão de laxantes). Entre as características
psicológicas da bulimia está a autoavaliação negativa acompanhada de
autocrítica que, possuindo a intolerância a estados afetivos, usam a comida
como autorreguladora. É importante ressaltar que o tratamento deve ser feito
através de uma abordagem multidisciplinar e multifacetada, isto é, que conte
com a presença de profissionais de diversas áreas e que seja direcionado também
à família do indivíduo. A necessidade desse tipo de tratamento se dá pelo fato
de que os sintomas de portadores de transtornos alimentares não são apenas
somáticos, mas também psíquicos.
O minicurso intitulado “Transtornos alimentares: abordagem psicológica individual e familiar”, oferecido pelo IP, teve como conferencistas as psicólogas Christina Morgan e Mariângela Bicudo, ambas membros do Programa de Atenção aos Transtornos Alimentares (Proata) da Unifesp.Centrando o discurso em anorexia e bulimia nervosa, Christina Morgan traçou a psicopatologia característica dos transtornos alimentares, que se verificam na relação com o corpo e no comportamento alimentar. Nestes, que atingem principalmente mulheres, há uma preocupação excessiva com o controle do peso e, devido à importância exagerada que se dá ao corpo, ele se torna palco de manifestações da mente e batalhas psicológicas. Diante deste quadro, começam as mudanças do comportamento alimentar e consequentes alterações clínicas.O que singulariza o quadro de anorexia nervosa é o baixo peso, devido a inanição imposta pelo próprio indivíduo. Geralmente ocorre em momentos de transição, como na adolescência, com pessoas que possuem déficits profundos no autoconceito. Com sintoma egossintônico - fonte de orgulho e força, por isso mantido com dedicação e esforço -, este transtorno não é considerado pela paciente um problema, mas sim uma solução a um impasse no desenvolvimento, e é desse aspecto que decorre a resistência ao tratamento. O ato de comer, para a anorética, há vários significados, entre eles: se entregar a um mundo de desejos desconhecidos e perigosos, ser corrompível e impotente além de se afastar da infância e ser mulher - em razão do corpo feminino. A etiologia, ou como múltiplos fatores interagem no desencadeamento, de ambos os transtornos alimentares é a mesma: como fatores predisponentes estão os aspectos ligados a personalidade, cultura e família, que podem levar a pessoa à vulnerabilidade. Mudanças – ou a falta delas – na puberdade ou eventos estressores são fatores precipitantes do transtorno, que é então mantido pela dieta. No caso da anorexia, com engajamento por ser encarada como um meio de autocontrole, afim que se resolva a vulnerabilidade. Outro fator que contribui para que a dieta seja mantida pela paciente são os ganhos secundários, como o reforço social: “No início [da dieta], as anoréticas são objetos de inveja”. Já a bulimia nervosa é caracterizada por episódios recorrentes de compulsão alimentar e, devido à grande importância dada a sua forma física, há a necessidade de compensar o descontrole com a comida, com a purgação - vômito, ingestão de laxantes, entre outros. Entre as características psicológicas da bulimia está a autoavaliação negativa acompanhada de autocrítica que, possuindo a intolerância a estados afetivos, usam a comida como autorreguladora. Abaixo, o ciclo que é verificado nas pacientes:
A bulímica sente prazer em comer, mas se sente mal ao purgar, o que contribui ao círculo vicioso. A bulimia nervosa tem um funcionamento chamado dicotômico: é “tudo ou nada” com relação à alimentação. Quem tem este transtorno vive uma tentativa de incorporar o prazer à perfeição e rigidez, que culmina com a purgação. A dificuldade do tratamento surge então pela necessidade de lidar com esses dois níveis do funcionamento dicotômico, além da resistência da paciente em falar sobre os episódios.No tratamento, as psicólogas valorizam a abordagem multidisciplinar e multifacetada, ou seja, que conte com a presença de profissionais de diversas áreas e que seja direcionado também à família do indivíduo. A necessidade desse tipo de tratamento se dá por que os sintomas de portadores de transtornos alimentares são somáticos e também psíquicos e, segundo Christina Morgan: “Levar em conta estas duas dimensões é um desafio”. Além de envolver a família e ser interdisciplinar, Christina e Mariângela acreditam na negociação como uma estratégia do tratamento aos transtornos alimentares. Christina também afirmou que a recuperação do estado nutricional e do peso são aspectos inegociáveis da agenda do tratamento. Este, em seu âmbito psicológico, é composto por duas fases: na primeira deve ser formada uma aliança entre terapeuta e paciente e o psicólogo também tem a responsabilidade de fornecer informação e apoio para suportar a reintrodução dos alimentos. Já na segunda fase o foco muda da recuperação do peso para a normalização do estado dela. Estas etapas são necessárias porque, segundo Christina, as pacientes chegam ao tratamento com medo, desconfiadas, e muitas vezes forçadas por alguém. Mariângela evidencia a importância de tratar a família por que ela está em estado de desespero e complementa “O paciente pede ajuda para uma família extremamente assustada”, e então apresentou a estrutura vigente em “famílias anoréticas e bulímicas”, ou seja, de indivíduos com esses transtornos. No caso da anorexia, percebe-se, segundo Mariângela, fronteiras difusas entre as relações familiares e regras pouco claras. Soma-se a isso uma comunicação velada, com pouca capacidade para resolver conflitos. Nas “famílias bulímicas”, por outro lado, encontram-se fronteiras tão rígidas que pode haver desligamento familiar, e a presença também de segredos familiares. O evento fez parte das atividades da Semana de Psicologia do IPUSP, organizada pelos estudantes do curso de Graduação, que aconteceu de 23 a 27/9/2013.
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