Aspectos psicológicos da gestação e da maternidade no contexto da infecção pelo HIV/Aids.
Resenhado por
Geovanna Souza
Gonçalves, T. R., & Piccinini, C. A. (2007). Aspectos
psicológicos da gestação e da maternidade no contexto da infecção pelo
HIV/Aids. Psicologia USP, 18,
113-142.
Este artigo foi baseado em parte da dissertação de
mestrado da primeira autora, intitulada Experiência
da maternidade no contexto do HIV/Aids aos três meses de vida do bebê e
visa fornecer informações da temática de acordo com uma busca bibliográfica
acerca do tema. Os autores iniciam o texto narrando que desde a identificação
do primeiro caso de infecção pelo HIV/aids no Brasil, por volta da década de
1980, até junho de 2007, foram notificados aproximadamente 474 mil casos da doença.
Seguindo a tendência mundial, o perfil da doença no Brasil se modificou,
revelando um considerável aumento da transmissão heterossexual do HIV/aids
entre as mulheres. Com base nesses dados, acredita-se que a maior parte das
mulheres portadoras do HIV/aids está em idade reprodutiva, sendo que o aumento
das taxas de transmissão materno-infantil do vírus desperta especial
preocupação.
Os autores narram que quando se fala em mães portadoras
do HIV/aids, compreende-se que diversas situações podem estar implicadas.
Muitas mulheres contraem o HIV/aids depois de já terem filhos e outras
descobrem-se infectadas quando engravidam, por ocasião dos exames pré-natais.
Há ainda aquelas mulheres que, já conhecendo seu estado sorológico positivo,
decidem ter filhos. Em relação à infecção em mulheres, pontuam-se, ainda,
alguns fatores socioculturais que têm contribuído para a maior vulnerabilidade feminina
à infecção. Muitas mulheres assumem uma posição submissa em seus
relacionamentos amorosos, delegando aos homens a responsabilidade pela prática
de sexo seguro e acreditando-se protegidas pelo fato de manterem relações
estáveis e heterossexuais. Sabendo-se que a situação de infecção pelo HIV/Aids
em mulheres é incrementada por questões sociais relacionadas ao gênero e às restrições
impostas aos aspectos reprodutivos, é inegável que a maternidade para uma
mulher contaminada pelo vírus pode trazer uma sobrecarga psicológica particular.
Os autores trazem uma série de pesquisas com esse
público e a partir disso é possível concluir que a experiência da maternidade,
por si só, envolve um intenso trabalho psicológico da mulher, iniciando-se na
gravidez e estendendo-se aos primeiros anos de vida da criança. A vivência subjetiva
de tornar-se mãe exige que a mulher se defronte com a formação de um novo ser
dentro de si e com a realidade imposta pelo nascimento do filho. Devido a
importância da gestação, do parto e dos primeiros meses do bebê para a
experiência da maternidade, fica evidente que a infecção pelo HIV/aids pode
trazer importantes impactos psicológicos para a mãe nesse período. Independentemente
da doença, a família é a principal fonte de apoio emocional e financeiro para a
pessoa, sendo que as relações familiares precisam mobilizar-se em torno da
situação.
Diante do exposto, acredita-se que o imaginário social
relacionado à infecção ainda está impregnado pela noção ultrapassada de grupos
de risco e por concepções erradas sobre as formas de contaminação. O estigma
dificulta a adesão a comportamentos de prevenção e penaliza ainda mais os portadores
do vírus, aumentando o preconceito. É necessário traçar estratégias que
auxiliem essas mães a superar possíveis obstáculos e a modificar crenças
errôneas, para que essas mães possam ter a possibilidade de uma maternidade
saudável.
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