Grau de adesão ao tratamento com anti-retrovirais entre indivíduos HIV positivos atendidos no Hospital Universitário de Santa Maria.

Resenhado por Brenda Fernanda

Saldanha, J. S., Andrade, C. S., & Beck, S. T. (2009). Grau de adesão ao tratamento com anti-retrovirais entre indivíduos HIV positivos atendidos no Hospital Universitário de Santa Maria. Saúde (Santa Maria), 35, 4-9.

O presente estudo teve caráter qualitativo e avaliou, durante um período de seis meses, o grau de adesão à terapia anti-retroviral, entre 898 sujeitos maiores de 15 anos, que recebem medicamentos para o controle da infecção pelo vírus da Imunodeficiência Humana, buscando informações que permitam desenvolver e programar intervenções que auxiliem o paciente e o cuidador na adesão à terapia medicamentosa.
O trabalho inicia conceituando a síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS) como uma doença pandêmica que tem como agente etiológico o vírus HIV (Humam Immunodeficiency Virus). Em relação a seu tratamento, em 1996 foi sancionada uma lei que garante aos portadores do vírus HIV e AIDS o direito de receber gratuitamente, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), todos os medicamentos necessários. Assim, pode-se dizer que o acesso universal à terapia anti-retroviral, associado ao uso mais difundido de quimioprofilaxia para infecções oportunistas e a oferta de outros tipos de assistência, tem possibilitado a redução das internações hospitalares (80%) e dos óbitos por AIDS (50%) no Brasil.
Os autores ressaltam que a infecção pelo HIV não determina a AIDS imediatamente, e os aspectos de como e quando os pacientes infectados pelo HIV irão progredir para a expressão da doença permanecem controversos. Assim, apresentam as características clínicas da enfermidade, que se divide em quatro fases: a fase inicial, caracterizada pela síndrome retroviral aguda, na qual ocorre uma súbita diminuição na contagem de linfócitos T CD4+ e altos níveis de carga viral plasmática; na segunda fase (fase assintomática ou latência clínica), o número de linfócitos T CD4+ aumenta, porém, na maioria das pessoas infectadas não retorna aos níveis pré-infecção; a terceira é a fase sintomática precoce, com a ocorrência de manifestações; a última fase (fase sintomática) caracteriza-se pela contagem de linfócitos T CD4+ < 200 céls/mm3 e pelo aparecimento de doenças oportunistas, definindo assim o quadro de AIDS.
Contudo, a efetividade da terapia de alta potência depende de uma estratégia de adesão ao regime prescrito, pois o uso irregular ou em doses insuficientes pode propiciar o desenvolvimento de vírus resistente. Consequências de uma baixa adesão incluem limitações terapêuticas para o paciente e ameaça para a saúde pública, diante da possibilidade de transmissão de vírus multirresistentes.
A faixa etária mais prevalente da população estudada foi a de 30-49 anos, sendo 517 sujeitos do sexo masculino (58%) e 381 do sexo feminino (42%). A maioria dos pacientes (72%) apresentou bom nível de adesão. Apenas 7% dos indivíduos abandonaram o tratamento. Deste modo, pode-se concluir que manter uma adesão adequada ao tratamento por longo prazo é um trabalho que necessita de vigilância constante. A atenção farmacêutica e clínica no acompanhamento e tratamento da infecção pelo HIV aumentaram a expectativa e melhoraram a qualidade de vida dos indivíduos avaliados. Assim, destaca-se que a adoção de algumas estratégias específicas podem contribuir para a melhora da adesão ao tratamento, como: aumentar o aporte de informações; equipe assistente para atender e orientar bem os pacientes, extinguindo suas dúvidas e explicando os procedimentos em linguagem simples e objetiva; participar de grupos de adesão que abordem temas relacionados à adesão, identificando as dificuldades e incentivando a troca de experiências entre os pacientes.

Ainda, é importante destacar o papel do psicólogo junto ao público HIV positivo, visando oferecer suporte psicossocial e evidenciar o ser humano em sua integralidade, como sujeito que sofre para muito além da doença que porta. Assim, rompe-se com uma compreensão parcial do processo saúde-doença, que valorizava apenas a organicidade das patologias. É necessário que o psicólogo identifique e lide com as vulnerabilidades deste paciente e de sua família, a fim de reinserir este sujeito na sociedade e fazê-lo perceber-se além de sua doença, melhorando sua qualidade de vida. Além disso, a Psicologia também está intimamente ligada com a criação de políticas públicas que visam dar voz e cuidados a essas pessoas.

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