Comorbilidade entre hepatite c e depressão: Aspectos epidemiológicos e etiopatogenicos
Postado por Mariana Serrão
Dickens, C., Neves, A., & Xavier, M. (2006). Comorbilidade
entre hepatite C e depressão. Acta Médica
Portuguesa, 19, 21-28.
A
Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que 3% da população mundial
(aproximadamente 170 milhões de pessoas) é infectado pelo Vírus da Hepatite
(VHC), nos EUA a prevalência foi estimada em 1,8%. Segundo dados recentes, a
principal via de transmissão é o uso de drogas por meio endovenoso. A
transmissão sexual não é um meio comum, apenas 1,5% de prevalência em parceiros
de portadores do vírus.
Os
indivíduos com VHC tendem a apresentar diversos problemas de natureza
psiquiátrica como fadiga crônica, ansiedade, depressão e déficits cognitivos. A
associação entre a Hepatite C e a depressão tem duas linhas, uma sugere que os
indivíduos com VHC tem uma maior prevalência de perturbações psiquiátricas e
outra sugere que os indivíduos com perturbações psicológicas tem uma mais alta
prevalência de infecção por Hepatite C que a população geral.
O
presente estudo se trata de uma revisão de literatura, foram encontrados alguns
estudos que podem comprovar a associação da Hepatite C com a depressão.
Goulding
et al. avaliaram a predominância da ansiedade e depressão em 77 indivíduos com Hepatite
C crônica, encontraram que 45,3% dos sujeitos apresentava sintomatologia
depressiva e uma probabilidade maior que
o dobro de ansiedade, quando comparado com o grupo controle.
Kraus
et al. analisaram em 113 sujeitos os estilos de coping e o estado emocional e
avaliaram a correlação entre as variáveis e o modo de infecção, idade, sexo e
tempo desde o diagnostico inicial e histologia hepática, o resultado encontrado
mostrou depressão em 22,4% dos indivíduos
e ansiedade em 15,2%, sendo que em idosos os níveis de depressão foram
significativamente mais altos. Em outro estudo, McDonald et al. avaliaram a
fadiga como sintoma da hepatite e como sintoma ligado a outras dimensões
psicopatológicas, usaram 115 indivíduos e encontraram 53% de relação com depressão.
Mesmo
os dados epidemiológicos pareceram ter relação positiva entre a Hepatite C e
depressão, não existe um modelo que permita explicar definitivamente a natureza
fisiopatológica desta associação. A depressão pode aparecer como um fenômeno
secundário decorrente do estresse causado ao ser diagnosticado e por conta das consequentes preocupações sobre o estado
de saúde a longo prazo.
O
diagnóstico é um fator ansiogênico podendo originar na maiorias dos indivíduos
portadores perturbação psiquiátrica, níveis altos de estresse psicológico e
afetar a qualidade de vida. Por fim, a depressão em comorbidade com a
hepatite C está altamente relacionada
com a percepção da doença, a incapacidade funcional, a baixa qualidade de vida,
a fadiga grave e com a presença de comorbidade psiquiátrica, em alguns dos
estudos a idade avançada e o a duração do diagnóstico também estão associados.
Ainda é necessário mais estudos e maiores amostras para efetivar essa relação
da presença da depressão em portadores da Hepatite C. Ansiedade e estresse, ao receber o
diagnóstico da doença, relacionam-se à percepção que os sujeitos sobre a doença, o que denota a importância do psicólogo e sua atuação nas crenças
do indivíduo com relação a Hepatite C, por exemplo. Além disso, profissionais da psicologia podem também trabalhar com o paciente estratégias de
enfrentamento frente a doença, a fim de diminuir a ansiedade e melhorar a
qualidade de vida do paciente.
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