Um estudo sobre intervenções junto a homens autores de violência doméstica contra mulheres
Resenhado por Brenda Fernanda
Bernardes,
J. P., & Mayorga, C. (2017). Um estudo sobre intervenções junto a homens
autores de violência doméstica contra mulheres. Revista de Psicología, 26,
1-15.
A violência doméstica é uma das formas
mais brutais de violação dos direitos das mulheres, constituindo-se num tema de
grande preocupação social, sendo reconhecida internacionalmente como grave
problema de proporções epidêmicas. A violência limita as oportunidades de
acesso de milhões de mulheres e crianças, em todo o mundo, à educação e
emprego, bem como acarreta diversos prejuízos para a saúde e o bem-estar das
mulheres e para o desenvolvimento social e econômico.
Na América Latina, aproximadamente 50%
de mulheres afirmaram terem sido abusadas fisicamente pelo seu companheiro
íntimo. O Brasil ocupa a posição de quinta maior taxa mundial de feminicídios,
expressão mais aguda da violência contra as mulheres. Entre os anos 2001 a
2011, 50 mil mulheres foram assassinadas, resultando numa média de 5 mil mortes
por ano; 29% desses óbitos ocorreram na casa da vítima e 50,3% das mortes
violentas de mulheres foram cometidas por familiares, entre os quais 33,2% eram
parceiros ou ex-parceiros.
Frente a este cenário,
o trabalho com homens autores de violência (HAV) doméstica contra as mulheres surge
como uma forma de enfrentar tal fenômeno. Ainda que seja entendida como uma
intervenção controversa por alguns, ressalta-se que as mulheres em situação de violência
demandam este tipo de ação voltada para os homens, com foco na responsabilização
destes pelas violências perpetradas, visando também a desconstruir tais
condutas, uma vez que, entre as mulheres que sofrem violência, muitas mantêm
convívio com os homens que cometeram violências contra elas. Além disso, muitos
homens, mesmo com o rompimento da relação violenta, passam a reproduzir
condutas violentas em outras relações, o que torna necessário intervir junto a
eles. Ainda, a intervenção junto aos agressores propõe a interrupção da
transmissão intergeracional da violência.
A pesquisa, de cunho
qualitativo, foi realizada através de entrevistas semiestruturadas com os
gestores e técnicos dos programas de intervenção junto aos HAV no estado de
Minas Gerais. O presente estudo teve como objetivo investigar as bases teórico-metodológicas
das políticas de intervenção dessas instituição.
O estudo discutiu as
propostas de trabalho das quatro instituições e concluiu sobre a importância de
se dar voz aos HAV, a fim de que se obtenham elementos para compreender aspectos
relacionados às formas como esses sujeitos significam sua relação com a
violência, bem como aspectos de sua socialização que contribuíram para que
tenham sido autores de violência. A partir do momento em que se presta
assistência também ao agressor, é possível obter informações sobre as
violências que podem funcionar como base para novas intervenções visando também
à prevenção.
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