Tratamento cognitivo-comportamental para depressão maior: Uma revisão narrativa

Resenhado por Mariana Menezes

Carneiro, A. M., & Dobson, K. S. (2016). Tratamento cognitivo-comportamental para depressão maior: uma revisão narrativa. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas12, 42-49. doi:10.5935/1808-5687.20160007

Sabe-se que o número de pessoas depressivas tem aumentado consideravelmente. Estima-se que a depressão acometa cerca de 350 milhões de pessoas em todo o mundo, no entanto, apenas 10% destas recebem tratamento adequado. Os índices de reincidência do transtorno também são altos: de 50 a 90%.
Muitas pesquisas têm demonstrado a eficácia da psicoterapia para o tratamento da depressão, tanto individualmente quanto em combinação com antidepressivos. O tratamento farmacológico da depressão tem sido apontado como o principal, contudo não há evidências suficientes de sua capacidade de proteger contra reincidências. Nesse sentido, a proposta das psicoterapias é buscar uma melhora substancial a longo prazo. Assim, a combinação de antidepressivos com psicoterapia tem revelado aumento da eficácia do tratamento da depressão.
A seguir, serão apresentadas, de forma sucinta, algumas técnicas psicoterápicas da terapia cognitivo-comportamental (TCC) baseada em evidências para o tratamento da depressão:

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC)
O modelo cognitivo-comportamental, proposto por Aaron T. Beck e colaboradores, tem se mostrado efetivo no tratamento da depressão. Essa abordagem psicológica parte do pressuposto de que pacientes deprimidos têm uma visão distorcida a respeito de si mesmos, do mundo e do futuro. Assim, as intervenções focam na modificação desses pensamentos visando aliviar suas reações emocionais e desenvolver estratégias de enfrentamento. Acredita-se que um quantitativo de 16 a 24 sessões, com 50 minutos cada, aliadas a tarefas de casa, provocam mudanças significativas no estado de humor do paciente. Em geral, as pesquisas demonstram a eficácia da TCC na redução de ao menos 50% dos sintomas e na prevenção de recaídas no tratamento da depressão leve e moderada.

Ativação Comportamental (AC) - Behavioral Activation
A ativação comportamental foi desenvolvida por psicólogos cognitivos comportamentais com o objetivo de buscar resultados de efetividade similares à da TCC tradicional, no entanto, sem a aplicação de técnicas cognitivas. O pressuposto dessa abordagem é de que a prática de exercícios comportamentais pode levar a mudanças tão importantes quanto as cognitivas e o principal foco é a ativação de processos que reduzem comportamentos típicos da depressão como a esquiva e a ruminação. As principais técnicas utilizadas na AC são o diário de maestria e prazer, o registro das atividades, o manejo de contingências situacionais, o ensaio comportamental, a modelagem de estratégias de ativação, o ensaio verbal das tarefas propostas e as técnicas de relaxamento.

Mindfulness para depressão – Mindfulness Based Cognitive Therapy (MBCT)
A intervenção em Mindfulness envolve educar o paciente para que observe seus sentimentos e pensamentos, voltando sua atenção a sua respiração ou sensações corporais, apenas aceitando-as, sem julgamento. Fazendo isso, o paciente é convidado a sair do modo automático, no qual a maior parte dos erros cognitivos é formada, para um estado de consciência de seu estado e de si. A terapia cognitiva baseada em Mindfulness consiste em oito sessões, com tempo entre 60 e 120 minutos. Tem se revelado uma prática eficaz para a prevenção de recaídas da depressão em pacientes previamente tratados com terapia cognitiva.

Dispositivos on-line (Terapia Cognitivo Comportamental pela Internet -ITCC)
As terapias on-line têm se mostrado eficazes tanto quanto as presenciais. Esse tipo de psicoterapia consiste em um protocolo estruturado, com tarefas on-line para o paciente realizar ao longo da semana e materiais complementares para a psicoeducação. O modelo on-line segue o modelo de TCC tradicional, mas pode existir outras formas. O modelo Deprexis, por exemplo, envolve ativação comportamental, reestruturação cognitiva, treino de habilidades sociais e Mindfulness em um mesmo programa, composto por 10 sessões de 60 minutos cada.
Por fim, é importante destacar que não existe um único tipo de psicoterapia para o tratamento da depressão que funcionará em todos os pacientes, pois é preciso respeitar a individualidade, a história de vida e as características da personalidade de cada um. Dentre as técnicas psicoterápicas comentadas anteriormente, a terapia cognitivo-comportamental e a ativação comportamental são consideradas tratamento de primeira linha para a depressão devido a eficácia. Quanto a terapia cognitiva baseada em Mindfulness e as terapias on-line, discute-se sobre a necessidade de mais estudos sobre a efetividade dessas técnicas, mas, por hora, sabe-se que têm sido identificadas como promissoras para o tratamento da depressão. Além disso, ressalta-se que a psicoterapia não exclui o tratamento medicamentoso quando este se faz necessário, já que o tratamento multidisciplinar tem apresentado melhores resultados na redução dos sintomas depressivos.

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