Comunicação de más notícias em saúde

Por Danielle Alves Menezes


  

  Fonte:@rodolfomoraespali

 

Um dos aspectos mais importantes do cuidado em saúde se relaciona com a necessidade de comunicação. Comunicar requer compartilhamento de informações em diversos níveis, devendo ser fluida e eficaz tanto entre membros de uma mesma equipe como na interação com pacientes e familiares. Nesse caso, a comunicação é principalmente utilizada para coletar informações a fim de realizar um diagnóstico correto, obter consentimento informado dos pacientes sobre suas escolhas de estratégias de tratamento e é um meio de incentivá-los a aderir a tratamentos (Straub, 2014).

Para além de um processo que envolve algo a ser dito e algo a ser compreendido, comunicação em saúde apresenta também outras dimensões relevantes relacionadas a aspectos éticos, sociais e psicológicos. No que diz respeito aos aspectos sociais, vale lembrar que, no Brasil, o acesso a informações sobre o próprio estado de saúde pelo paciente e o respeito a valores pessoais na condução do tratamento são direitos previstos em legislação, perspectiva que reafirma o princípio da autonomia dos usuários do Sistema Único de Saúde (Ministério da Saúde, 2011). Essa dimensão retoma também aspectos éticos que, muitas vezes, são vistos como de difícil manejo pelas equipes assistenciais, especialmente quando o conteúdo a ser comunicado é considerado “complicado”, a exemplo de doenças graves e limitantes da vida, doenças com prognóstico irreversível ou mesmo condição de terminalidade do paciente. 

Nessas ocasiões, a conspiração do silêncio surge como pacto entre familiares e profissionais da equipe de saúde, através do qual ambos evitam lidar diretamente com o sofrimento que pode ser gerado na comunicação com o paciente (Costa-Machado et al., 2019). Essa condição facilmente se coaduna à tendência protecionista da família e de negação cultural da morte. Além de infringir um direito do paciente, a conspiração do silêncio é maléfica à adaptação psicológica do paciente à sua condição real de saúde, pois são criadas expectativas irreais de recuperação e há desvalorização de sinais e sintomas relevantes para nortear ações que visam a melhoria da qualidade de vida. Pacientes ainda podem se sentir isolados, incompreendidos, enganados, ansiosos e deprimidos (Costa-Machado et al., 2019).

A conspiração do silêncio reflete ausência de habilidades em comunicação de más notícias e presença de comunicação ineficaz nas equipes assistenciais, em um contexto em que deve haver definição do plano de tratamento do paciente, além de expressão de dúvidas, compartilhamento de medos, angústias e ansiedade entre paciente-equipe-família (Costa-Machado et al., 2019). A complexidade dessas habilidades reforça a importância do psicólogo com formação em psicologia da saúde nas equipes, pois ele, por regra, é especialista em comunicação, e pode atuar mediando essas situações, favorecendo enfrentamento adaptativo do paciente, bem como intervir para prevenir luto patológico em familiares e contribuir para redução do estresse na equipe. O psicólogo da saúde, por possuir conhecimento refinado sobre processos de adoecimento e suas respectivas variáveis, pode também atuar diretamente no treinamento das equipes para aprimorar a capacidade de comunicação, a exemplo de treino de assertividade e de escuta ativa (Straub, 2014).

 Referências: 

Machado, J. C.; Reis, H. F. T.; Sena, E. L. S., Silva, R. S., Boery, R. N. S. O., & Vilela, A. B. A. (2019). O fenômeno da conspiração do silêncio em pacientes em cuidados paliativos: Uma revisão integrativa. Enfermería Actual de Costa Rica,/(36), 92-103. https://dx.doi.org/10.15517/revenf.v0i36.34235

Ministério da Saúde (2011). Carta de direitos dos usuários do SUS.https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cartas_direitos_usuarios_saude_3ed.pdf. Acesso em 12 de fevereiro de 2021

Straub, R. O. (2014). O papel da psicologia da saúde nos cenários de atendimento à saúde. In: Straub, R. O. (2014). Psicologia da saúde: Uma abordagem psicossocial. Artmed.

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