Intervenção psicológica lúdica para o enfrentamento da hospitalização em crianças com câncer

Motta, A. B., & Enumo, S. R. F. (2010). Intervenção psicológica lúdica para o enfrentamento da hospitalização em crianças com câncer. Psicologia: Teoria e Pesquisa26(3), 445-454. https://doi.org/10.1590/S0102-37722010000300007

Resenhado por Maísa Carvalho

Sabe-se que o tratamento para o câncer envolve diferentes tipos de estressores, a exemplo da necessidade de hospitalização, que podem gerar implicações significativas nesse processo. Em crianças, em razão das próprias limitações concernentes à idade, pode ser ainda mais difícil. Dessa forma, o uso de estratégias lúdicas que favoreçam o enfrentamento desses determinantes e a melhora no bem-estar quando em contato com situações aversivas podem contribuir para o tratamento desse quadro clínico. Pensando nisso, o presente estudo objetivou avaliar a eficácia de uma proposta de intervenção psicoterapêutica em crianças hospitalizadas com diagnóstico de câncer, a qual é baseada no uso do brincar como recurso de enfrentamento da hospitalização e da doença.

Participaram do estudo 12 crianças, sendo 7 meninos e 5 meninas, com idades entre 7 e 12 anos, internados em uma enfermaria de oncologia de um hospital público. Quimioterapia, diagnóstico inicial, intercorrência, diagnóstico de recidiva e desnutrição foram as motivações identificadas para os casos atuais das internações. A avaliação das ações de enfrentamento utilizadas foi realizada com o Instrumento Informatizado de Avaliação do Enfrentamento da Hospitalização (AEHcomp), que é composto por 20 ilustrações em que cada uma delas apresenta comportamentos tidos como facilitadores, a exemplo de assistir TV, brincar, rezar, e não facilitadores do tratamento, a exemplo de sentir culpa, chorar, ficar com raiva, pensar em fugir, dentre outros. A aplicação do instrumento durava em média 30 minutos. Já o Programa de Intervenção Psicológica no Hospital (PIPH) foi elaborado com o objetivo de promover estratégias de enfrentamento favoráveis à hospitalização, sendo composto por 24 atividades lúdicas que auxiliam no processo mencionado.

As crianças foram divididas aleatoriamente em dois grupos (G1 e G2), sendo que apenas o G1 foi submetido ao PIPH. O G2 passou apenas pela avaliação do AEHcomp. O PIPH foi aplicado em sessões diárias por, no mínimo, 3 dias, com número médio de 4,2 sessões por criança (3 a 5 sessões). Insta ressaltar que após um período de 3 a 5 dias o AEHcomp era reaplicado com vistas a investigar possíveis mudanças nas estratégias de enfrentamento das crianças. Os resultados das aplicações do instrumento citado identificaram que para o G1 o comportamento não facilitador mais apresentado no pré-teste foi chorar (M = 2,0) enquanto ficar triste (M = 1,67) foi o mais apresentado no pós-teste. Para o G2, triste (M = 1,67) teve a maior média no pré-teste e desanimar (M = 0,83) e fazer chantagem (M = 0,83) foram maiores no pós-teste. Quanto aos comportamentos facilitadores apresentados no G1, assistir TV, tomar remédio, brincar e conversaram foram superiores no pré e pós teste, com ressalva para rezar, que apareceu com uma alta média no pós-teste. No pré e pós teste do G2, rezar, assistir e estudar apresentaram as médias mais altas, sendo que tomar remédio apresentou uma alta média no pós-teste. Em relação ao PIPH, resumidamente, a melhora no G1 foi significativa ao se analisar as médias das estratégias de solução de problemas e busca por informação, as quais alcançaram taxas de ganho de 43,97% e 80,77%, respectivamente. Por fim, ruminação, negociação e esquiva obtiveram uma redução expressiva no mesmo grupo. O G2 apresentou apenas uma alteração relevante apenas na negociação, com aumento de 125% no pré e pós teste.

A partir desses resultados, foi possível analisar a importância de serem estudadas e aplicadas estratégias de intervenção, especialmente em grupos como o infantil e em situações complexas. Dessa forma, julga-se ser relevante a produção de mais estudos de intervenção clínica com bases teóricas da Psicologia da Saúde a fim de serem produzidos efeitos psicoterapêuticos e percebidos benefícios em tratamentos em saúde.



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