Alterações da Personalidade no Lúpus Eritematoso Sistêmico
Postado por Iracema R.O. Freitas
Ayache, D. C. G. & Costa, I. P. (2005). Alterações da Personalidade no Lúpus Eritematoso Sistêmico. Revista Brasileira Reumatologia, 45, 5, 313-18.
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença auto-imune, ou seja, quando o sistema imunológico ataca e destrói tecidos saudáveis do corpo, de origem crônica e multissistêmica (afetando todos os sistemas do corpo,) podendo causar danos ao Sistema Nervoso Central (SNC). O LES acomete uma em cada 1.000 pessoas da raça branca e uma em cada 250 pessoas negras. Sua etiologia é obscura, porem a origem é multifatorial envolvendo fatores hormonais (estrogênio), genéticos, ambientais (radiação ultravioleta, medicamentos), infecciosos (virais), e estresse psicológico. Com maior ênfase neste último fator que tem sido considerado por muitos estudiosos, com singular relevância no desencadeamento da doença e de suas agudizações.
O objetivo do artigo foi verificar se as alterações de personalidade no LES, ocorreriam pelo estresse psicológico imposto pela patologia, pela atividade da doença no SNC, ou, ainda, pelo uso de medicamentos, como os glicocorticóides. O estudo envolveu revisão de literatura e apresentou pesquisas em que o LES apresenta sintomas neurológicos e psiquiátricos tais como: convulsões, cefaléia, síndrome orgânica cerebral
e psicose. E ainda alteração de personalidade resultante de um contexto em que há exposição a estresse grave ou prolongado, privação ambiental extrema, transtorno psiquiátrico sério ou doença ou lesão cerebral.
Em entrevistas estruturadas e testes padronizados para avaliação de personalidade aplicados em pacientes com LES, as questões emergentes foram: receio de morte, fadiga, interferência no planejamento familiar e gravidez, alterações da aparência desencadeadas pela doença ou pelo uso de corticoesteróides. Outro estudo que realizou entrevista com 30 pacientes com LES em Londres e Cingapura concluiu que as pacientes residentes em Cingapura apresentaram maiores índices de morbidade psiquiátrica em relação às residentes em Londres, quadro que pode ter sido influenciado por fatores culturais e estresse psicológico que contribuíram nas manifestações psicopatológicas. Houve ainda um trabalhando usando o Rorscharch em um grupo de adolescentes entre 12 e 17 anos, que apresentou elevada interiorização dos afetos, maiores dificuldades no manejo do estresse, baixa auto-estima e autopercepção. A SLAM (Systemic Lupus Activity Measure) é uma escala para avaliar a atividade sistêmica do lúpus. Nessa escala, sintomas depressivos leves e alterações de personalidade são considerados sinais de disfunção cortical e denotam uma atividade da doença em grau leve. Outros trabalhos revisados também apontaram as manifestações psicopatológicas em pacientes lúpicos, como depressão, ansiedade, ideação suicida e outras.
Avaliar a personalidade do paciente lúpico é uma questão complexa, ao verificar a conclusão dos estudos, os autores apontaram que os fatores psicológicos (incluindo traços de personalidade) têm importância como codeterminantes, e desencadeantes, xacerbadores da doença lúpica. Outros constataram que alterações de personalidade podem ser decorrentes do estresse psicológico imposto pela patologia da atividade da doença no SNC e/ou do uso de medicações como os imunossupressores e corticóides.
Contudo, não houve uma posição definitiva a respeito das variáveis relacionadas ao LES, o que requer mais pesquisas a respeito da doença.
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