Consequências Biopsicossociais da Aids na Qualidade de Vida de Pessoas Soropositivas para o HIV
Resenhado por Mariana Menezes
Castanha, A. R., Coutinho,
M. P. L, Saldanha, A. A. W., Oliveira, J. S. C. (2006). Consequências
Biopsicossociais da Aids na Qualidade de Vida de Pessoas Soropositivas para o
HIV. DST – J bras Doenças Sex Transm 18(2), 100-107.
A AIDS se configura como um grave problema
de saúde pública devido às suas repercussões, ao aumento considerável do número
de casos e às elevadas taxas de mortalidade. No Brasil, o quadro é ainda mais
grave por causa da decadência econômica e social e da dificuldade em evitar a
propagação da doença.
São várias as implicações do HIV/AIDS na
vida do portador, pois se trata de uma doença com graves consequências físicas,
psicológicas e sociais que acompanha processos de segregação que sofrem
influências de estigmas socialmente construídos e que estão ligados às
representações sociais da doença. Dentre os portadores do HIV, os mais afetados
são os soropositivos que precisam conviver com os sintomas da doença,
internações recorrentes e com problemas psicossociais decorrentes da evolução
da doença, tais como a estigmatização, a perda do emprego e consequentes
dificuldades econômicas, além do abandono pela família e amigos.
Diante disso, o artigo em questão, teve
como objetivo avaliar as consequências biopsicossociais da AIDS na qualidade de
vida de soropositivos para o HIV.
Os resultados do estudo foram
classificados de modo a formar duas classes temáticas. A primeira é a AIDS que
possui uma categoria (representações da AIDS) e quatro subcategorias (doença,
morte, sofrimento e naturalização). A segunda classe temática diz respeito às consequências
biopsicossociais da AIDS na QV e ficou dividida em três categorias: físico-orgânica,
com três subcategorias (perturbações fisiológicas, capacidade física e efeitos
colaterais do medicamento); a segunda foi psicoafetivas, com quatro
subcategorias (preconceito, depressão, auto-estima e autopercepção) e a
terceira e última categoria foi a comportamental, com duas subcategorias (isolamento
e sexualidade).
Com relação à representação da doença
apreendidas pelos soropositivos, a definição dada à AIDS enquanto doença é
banalizada, naturalizada ou negada entre os soropositivos com maior tempo de
conhecimento do diagnóstico. Da mesma forma, apesar da evolução terapêutica da
doença, observou-se associação da AIDS com a morte e com grande sofrimento.
Pôde-se verificar também que, no geral, as representações sociais da AIDS estão
ligadas ao preconceito, segregação, estigma e inserção social e influenciam e
orientam as condutas dessas pessoas em relação à adesão, ao isolamento, à
manutenção das relações interpessoais, ao funcionamento sexual e até mesmo ao
suicídio.
No que tange às consequências
biopsicossociais da AIDS na qualidade de vida, quanto as consequências biopsicossociais
físico-orgânicas, observou-se algumas perturbações fisiológicas como insônia,
gripe, diarreia e alergia. Os entrevistados também relataram perda da capacidade
física e efeitos colaterais do medicamento tais como magreza ou deficiência
física.
Referente às consequências
biopsicossociais psicoafetivas negativas da AIDS, apesar do amplo conhecimento
que se tem atualmente acerca das formas de transmissão da doença, as pessoas
com HIV/AIDS são, muitas vezes, discriminadas e isoladas do convívio com outras
pessoas. O preconceito relacionado à AIDS é frequentemente associado à
transtornos psiquiátricos, é comum que indivíduos soropositivos apresentem ansiedade
e principalmente depressão, que é o transtorno mais comum entre eles, com uma
prevalência em torno de 11% a 30%. O diagnóstico e o tratamento desses
transtornos são fundamentais para melhorar a qualidade de vida desses
pacientes, no entanto, apesar do alto índice de prevalência da depressão, o
número de casos diagnosticados é baixo.
Considerando as consequências
psicoafetivas positivas da AIDS, verificou-se que embora soropositivos possam apresentar
baixa autoestima devido às mudanças físicas no corpo, podem também ter um
aumento na autoestima. Alguns relataram que, após a condição da
soropositividade, passaram a dar mais valor à vida, cuidando-se e
respeitando-se, alcançando assim o crescimento pessoal.
Frente às consequências biopsicossociais
comportamentais da AIDS (sexualidade e isolamento), observam-se três tipos de
comportamentos ligados à sexualidade: alguns mantiveram uma vida sexual ativa, outros
se consideraram promíscuos e uns optaram por abster-se sexualmente. A revelação
da soropositividade tem consequências negativas na vida sexual, dado que representa,
muitas vezes, a ruptura do casamento e a suspensão de investidas afetivas e sexuais.
O isolamento, por sua vez, é muito comum na vida de soropositivos devido ao
medo advindo do estigma social. O sujeito vive um autoisolamento que pode
resultar na exclusão da vida social e de relacionamentos sexuais e, em
circunstâncias extremas, em mortes prematuras devido ao suicídio.
Portanto, a AIDS foi representada enquanto
uma doença que pode trazer diversas consequências psicossociais, profissionais,
familiares e orgânicas. De fato, são diversas as consequências biopsicossociais
da AIDS na qualidade de vida e torna-se evidente que essas consequências biopsicossociais
influenciam na QV de soropositivos para o HIV.
Nenhum comentário: