Gravidez na Adolescência: Análise contextual de risco e proteção.
Resenhado
por Mariana Menezes
Cerqueira-santos,
E., Paludo, S. S., dei Schirò, E. D. B., & Koller, S. H. (2010). Gravidez
na Adolescência: Análise contextual de risco e proteção. Psicologia em Estudo, 15(1), 73-85.
Há evidências de que a taxa de gravidez na
adolescência vêm aumentando, principalmente nos países mais pobres. De acordo
com o Estatuto da Criança e do Adolescente, a adolescência compreende a fase do
desenvolvimento dos 12 aos 18 anos de idade, já para a Organização Mundial da Saúde
a adolescência tem duração dos 10 aos 19 anos. Para todos os fins, a
adolescência é uma fase que envolve mudanças físicas e biopsicossociais
relacionadas especialmente à maturação sexual, definição da identidade e
autonomização.
A gravidez na adolescência pode
representar um fator de risco e é considerada um problema de saúde pública,
pois propicia riscos ao desenvolvimento da criança gerada e da própria
adolescente gestante. No entanto, nem sempre a gravidez na adolescência pode
ser considerada um fator de risco, pois algumas vezes a gravidez na
adolescência não se relaciona com eventos de vida negativos que aumentam a
ocorrência de complicações e problemas.
Estudos têm revelado que os adolescentes
brasileiros iniciam a vida sexual mais cedo e mantêm um maior número de
parceiros. Além disso, 25% das mulheres grávidas no país são adolescentes com
idade entre 14 e 20 anos. Cabe ressaltar, que a maioria desses jovens vive em
situação de pobreza, condição que os coloca em situação de alta vulnerabilidade
e risco para sua saúde e desenvolvimento.
A pesquisa foi realizada em Porto Alegre e
contou com a participação de 1015 adolescentes de ambos os sexos em situação de
pobreza com idade de 14 a 24 anos. Os resultados da pesquisa mostraram que
42,6% dos jovens já haviam tido a primeira relação sexual. Destes, 63.9% tinham
na época, entre 14 e 17 anos e 47,7% afirmaram ter uma vida sexual ativa.
Ao analisar a diferença por sexo,
verificou-se que os meninos iniciam a vida sexual um ano mais cedo (aos 13
anos) do que as meninas (aos 14 anos). Constatou-se também que as meninas estão
mais vulneráveis à contaminação por doenças sexualmente transmissíveis, uma vez
que se preocupam mais em evitar gravidez do que em se proteger de doenças, fazendo
uso de diversos métodos contraceptivos que não a camisinha, como anticoncepcionais,
por exemplo. Em contraposição, os meninos estão mais protegidos porque fazem
mais uso da camisinha como contraceptivo.
Mais de 11% dos participantes já estiveram
grávidas ou já engravidaram a parceira, no entanto 31,7% não tinham filhos. Dos
abortos registrados, 21,8% disseram ter sofrido aborto natural e 10,9%
provocado.
Com relação às consequências da gravidez,
sentimentos positivos foram expressos pela maior parte dos jovens que
descreveram esse momento como importante (74,5%) e produtor de orgulho (56%). Mas
ao mesmo tempo designaram a gravidez como algo que gera preocupação, vergonha,
desemprego, necessidade de trabalho, interrupção nos estudos e casamento
forçado.
Á vista de tais resultados é cabível considerar
a gravidez na adolescência como um fenômeno que envolve diferentes fatores de
risco, e nesse sentido, o contexto no qual o desenvolvimento do adolescente
acontece é muito importante para determinar o modo como ele interage com as
pessoas a sua volta e com o meio. Assim, o adolescente que pertence a um nível
socioeconômico baixo está em situação de maior risco, pois pode carecer de
informações sobre sexualidade, cuidados de saúde, importância de contracepção,
além de ter dificuldade no acesso aos serviços de saúde.
Populações que vivem em situações
econômicas desfavoráveis estão mais vulneráveis a um início precoce da vida
sexual, comportamentos sexuais de risco e gravidez precoce. Além da situação
econômica, fatores culturais podem estar envolvidos na manifestação da sexualidade
dos adolescentes. As experiências sexuais geralmente são reforçadas pelo grupo
ou família que influenciam suas atitudes pessoais. Desta maneira, a forma como
os adolescentes interpretam suas interações sexuais interfere nas relações que
estabelecem com seus parceiros.
A gravidez na adolescência pode se
manifestar como um fator protetivo quando surge como facilitador para a
construção de um novo lar e saída de um ambiente familiar fragilizado e
carente. Mas para que isso se constitua de fato como um fator de proteção, os
adolescentes devem receber apoio de sua família e comunidade (incluindo a
escola, principalmente colegas e professores).
Portanto, é preciso considerar o
adolescente dentro dos contextos que formam o seu ambiente e identificar
fatores de risco para que a rede protetiva seja fortalecida e as ações tenham
repercussão no desenvolvimento desses. Além disso, o conhecimento acerca dos
aspectos da vida sexual do adolescente permite organizar ações educativas
voltadas para uma vida sexual saudável.
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