Eventos estressores e conduta social na adolescência.

Resenhado por Iracema Freitas

A. M. de A. Schneider & J. T. B. Pacheco. (2010). Eventos estressores e conduta social na adolescência. Gerais: Revista Interinstitucional de Psicologia, 3, 23-32.

Os estudos sobre infância e adolescência têm mostrado que experiências adversas podem definir a conduta social e servir como prenúncio de comportamentos violentos na fase adulta. O conceito de conduta social, desenvolvido por Reppold, inclui três categorias: comportamento antissocial (agressividade, desobediência, oposicionismo, temperamento exaltado e baixo controle de impulsos), comportamento de desafio-oposição (dificuldade em reconhecer os próprios erros e apresentar um padrão de hostilidade, vingança e desafio à figura de autoridade) e comportamento pró-social (cooperar, considerando as necessidades e desejos do outro).
Na adolescência, os eventos estressores são percebidos como ameaças que demandam do sujeito um repertório comportamental adaptativo inapropriado à expectativa social. Esse comportamento inadequado, também chamado de conduta antissocial, tem sua origem em fatores de risco de cunho individual (características biológicas, aspectos comportamentais e cognitivos) e contextual (aspectos familiares, sociais e frequência de experiências de vida estressoras). O trabalho também utilizou o conceito de maus-tratos, baseado na definição elaborada pelo Ministério da Saúde, que inclui abuso físico, psicológico, sexual e trato negligente.
O objetivo do estudo foi avaliar a relação entre a experiência de maus-tratos e a conduta social de adolescentes. A amostra foi composta por 144 adolescentes, destes, 64,6% eram meninas, alunos do Ensino Médio de escolas públicas da cidade de Porto Alegre. Os instrumentos utilizados foram a Escala de Conduta Social proposta por Reppold (2005), o Inventário de Eventos Estressores na Adolescência (IEEA) e questionários com dados sociodemográficos.
Os resultados foram agrupados em três categorias: conduta social dos adolescentes, eventos estressores e maus-tratos e relações entre a ocorrência de eventos estressores relacionados a maus-tratos e à conduta social. Quanto à conduta social, os meninos apresentaram maior média para comportamento antissocial e desafio-oposição, enquanto as meninas pontuaram mais alto para o comportamento pró-social. O quesito eventos estressores e maus-tratos, obteve maior frequência no item “abuso psicológico = sofrer humilhação e ser xingado” e a menor média no quesito “abuso sexual = ser tocado sexualmente e ser estuprado”.

Os dados sugerem a relação entre os adolescentes estarem habituados a determinados eventos estressores e a redução da percepção da intensidade desses acontecimentos. Contudo, a sujeição a maus-tratos e a ausência de percepção da intensidade dos fatos, não minimizam os danos causados à aprendizagem, o que compromete o desenvolvimento das habilidades sociais. Há evidências empíricas de que crianças e adolescentes expostos a maus-tratos tendem a reproduzir o comportamento antissocial como estratégia de resolução de problemas. Compete aos pais desempenharem papel socializador, para que haja uma aprendizagem dentro do esquema reforçador positivo e não restritivo e punitivo. 

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