O impacto da homofobia na saúde de adolescentes homossexuais.
Resenhado por Brenda Fernanda
Natarelli,
T. R. P., Braga, I. F., Oliveira, W. A., & Silva, M. A. I. (2015). O
impacto da homofobia na saúde de adolescentes homossexuais. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, 19(4), 664-670.
O artigo conceitua a adolescência como uma fase do
desenvolvimento humano, marcada por aspectos de transformações físicas e
comportamentais, bem como pela inserção do indivíduo na sociedade como adulto,
o que acarretaria maior exposição a diferentes situações de conflito, violência
e exclusão (Borges, Perurena, Passamani, & Bulsing, 2013), por conta da
ampliação do contato social. É um período de busca de identidade, inclusive
sexual. Nesse contexto, a homofobia aparece como um fenômeno que engloba
emoções e comportamentos negativos de uma pessoa ou grupo em relação aos
homossexuais. É um dispositivo de controle que reforça a ideia de naturalização
da normalidade relacionada à orientação heterossexual, e se manifesta nas relações
sociais por meio de agressões físicas, verbais, psicológicas e sexuais
(Miskolci & Balieiro, 2011). Para a área da saúde, interessa a abordagem
das violências enquanto um processo social. Essa perspectiva ultrapassa o
modelo curativo e biomédico de saúde, realçando a concepção holística e
ampliada de saúde e seus correlatos como a integralidade, a intersetorialidade
e a promoção da saúde (Minayo, 2013).
De acordo com o Ministério da Saúde, em 2012 foram
registrados 4.851 casos de homofobia, sendo que a maioria (61,16%) das vítimas
tinha idade entre 15 e 29 anos. Esses dados ratificam a relevância e magnitude do
problema da homofobia, além de apontarem os adolescentes como integrantes de um
grupo vulnerável. A literatura científica assinala que a homofobia é um dos
determinantes para a saúde dos adolescentes. Um estudo com 300 adolescentes não
heterossexuais realizado no Canadá constatou que a homofobia causa efeitos
negativos sobre o bem-estar, a qualidade de vida e a saúde dos adolescentes
(Blais, Gervais, & Hebert, 2014). Demonstra-se, ainda, a associação entre a
orientação sexual e ideações e tentativas de suicídio na adolescência, visto
que os homossexuais têm mais chances de pensarem e tentarem suicídio se comparados
aos heterossexuais (Teixeira-Filho & Rondini, 2012).
O presente estudo apresentou caráter qualitativo, participaram
nove adolescentes com idades entre 13 e 19 anos de idade, autodeclarados
homossexuais. Os dados foram coletados por meio de entrevistas
semiestruturadas, com base num roteiro que incluía questões sobre a percepção
do adolescente em relação à: violência contra adolescentes homossexuais no
cotidiano; a violência contra o próprio adolescente entrevistado; as acusas
dessa violência e a influência dessa violência para a saúde do adolescente
(Hanneman & Riddle, 2009).
No que concerne aos resultados, os adolescentes
referiram serem vítimas de diversos tipos de violência física, verbal,
psicológica e sexual. Como principais cenários para ocorrência da homofobia foram
pontuadas a escola, a família e a comunidade. Sobre a influência na saúde,
ressaltaram a dimensão e complexidade das situações de homofobia com as quais
convivem, que acarretam prejuízos à sua saúde. Isso pode ser mensurado em
termos de comprometimento da saúde mental e na dificuldade para adotar hábitos
de vida saudáveis. Além disso, os adolescentes demonstram uma percepção
negativa de si mesmos, o que pode contribuir para que negligenciem práticas de
autocuidado, podendo até desenvolver ideação suicida. Apontaram aspectos como
estresse, depressão, anemia, diabetes, entre outros. Também relataram a
presença de ideais e comportamentos homofóbicos dentro dos serviços de saúde e
entre seus profissionais, elementos capazes de dificultar o acesso à saúde e a
um atendimento integral.
Conclui-se que os adolescentes homossexuais
encontram-se em situação de vulnerabilidade e são expostos a diferentes tipos
de violência. Nesse sentido, observa-se que as práticas de cuidado e atenção
integral à saúde devem acompanhar as necessidades desse público por abordagens
terapêuticas que valorizem a singularidade e a expressão da sexualidade, ao
mesmo tempo que orientam e avaliam a necessidade de apoio ou serviços formais
de saúde mental.
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