Psicologia da Saúde e o estudo das lombalgias

Postado por Danielle Alves Menezes

Por lombalgia se define a dor lombar localizada entre as margens das últimas costelas até o início da região sacral, podendo envolver vértebras, discos intervertebrais, articulações, tendões, músculos regionais, vasos sanguíneos, raízes e nervos periféricos, medula espinal, cauda equina e meninges, além de órgãos abdominais e estruturas pélvicas (Nijs et al., 2015).
Mundialmente, as lombalgias ocupam o primeiro lugar em termos de anos vividos com incapacidade (YLDs - Years Lived with Disability) e o sexto lugar em termos de anos de vida sadios perdidos para problemas de saúde (DALYs - Disability Adjusted Life Years; Driscol et al., 2014; Hoy et al, 2014; Murray et al., 2012; Vos et al., 2015). As lombalgias são um problema de saúde extremamente comum, estimando-se que pode atingir até 65% das pessoas anualmente e até 84% das pessoas em algum momento da vida (Zanuto et al., 2015). No Brasil, as dores da coluna ou lombalgias são a segunda condição de saúde mais prevalente entre as patologias crônicas identificadas por algum médico ou profissional de saúde (Zanuto et al., 2015).
Em geral, indivíduos com lombalgias apresentam melhora do quadro sem tratamento específico em um intervalo de 4 a 6 semanas. Entretanto, há pacientes que não possuem resultados favoráveis no tratamento, tendendo à cronificação da dor, situação frequentemente associada à presença de fatores psicológicos, tais como depressão comórbida, ansiedade, pobreza de habilidades de enfrentamento, insatisfação no trabalho e níveis maiores de incapacidade inicial (Golob & Wipf, 2014).
A associação entre lombalgia e fatores psicológicos constatada nos mais recentes estudos é um campo fértil para a Psicologia da Saúde, já que a interface existente entre problemas físicos e variáveis psicológicas é campo de atuação e pesquisa. Ela pode ser definida como especialidade na qual os diferentes elementos ou determinantes (biológicos, psicológicos e sociais), articulados a outros campos de especialização (psicologia, ciências biomédicas e ciências sociais), interagem com a finalidade de tratar, prevenir e promover comportamentos saudáveis (Remor, 1999).
Para a Psicologia da Saúde, comportamentos saudáveis/não saudáveis dependem do ajustamento ou da adaptação psicológica dos indivíduos à doença e suas consequências, processo em que estão em jogo diversas variáveis cognitivas e emocionais (Lazaurs & Folkman, 1984). No caso dos estudos sobre lombalgia, como já foi dito, a piora é frequentemente relacionada a fatores psicológicos. Dentre esses fatores, a depressão tem ganhado um destaque significativo. Por exemplo, sabe-se que ela é um importante preditor na transição de um quadro agudo para crônico (Edwards et al., 2016). O que parece ser relevante é a presença de pensamentos inadaptados e pobreza de estratégias de enfrentamento, os quais impedem ou dificultam a melhora da dor lombar e potencializam a incapacitação (Amaral et al., 2010; Edwards et al., 2016; Feitosa et al., 2016; Turk et al., 2016).
Então, como se vê, a lombalgia e suas consequências impactam de forma relevante os serviços de saúde e a sociedade, pois representam alto custo e são frequentemente uma das principais causas de afastamento do trabalho em nível mundial. A constatação desse quadro reflete a importante contribuição de estudos multidisciplinares, os quais podem ampliar o escopo de possibilidades de avaliação, diagnóstico e tratamento. A Psicologia da Saúde, como campo do saber inserido nessa discussão, auxilia de forma significativa na resolução de possíveis lacunas existentes em pesquisas.

Referências

Amaral, V., Marchi, L., Oliveira, L., & Pimenta, L. (2010). Prevalência e relação de fatores emocionais e clínicos em pacientes com discopatia degenerativa. Coluna/ Columna, 9 (2), 150–156. doi:10.1590/S1808-18512010000200011
Driscoll, T., Jacklyn, G., Orchard, J., Passmore, E., Vos, T., Freedman, G., … Punnett, L. (2014). The global burden of occupationally related low back pain: Estimates from the Global Burden of Disease 2010 study. Annals of the Rheumatic Diseases, 73(6), 975–981. doi: doi: 10.1136/annrheumdis-2013-204631
Edwards, R. R., Dworkin, R. H., Sullivan, M. D., Turk, D. C., & Wasan, A. D. (2016). The role of psychosocial processes in the development and maintenance of chronic pain. Journal of Pain, 17(9), T70–T92. doi: 10.1016/j.jpain.2016.01.001.
Feitosa, A. S. A., Lopes, J. B., Bonfa, E., & Halpern, A. S. R. (2016). Estudo prospectivo de fatores prognósticos em lombalgia crônica tratados com fisioterapia: Papel do medo-evitação e dor extraespinal. Revista Brasileira de Reumatologia, 56(5), 384–390. https://doi.org/10.1016/j.rbr.2015.11.001
Golob, A. L., & Wipf, J. E. (2014). Low Back Pain. Medical Clinics of North America, 98(3), 405–428. doi: 10.1016/j.mcna.2015.08.015.
Hoy, D., March, L., Brooks, P., Blyth, F., Woolf, A., Bain, C., … Buchbinder, R. (2014). The global burden of low back pain: estimates from the Global Burden of Disease 2010 study. Annals of the Rheumatic Diseases, 73(6), 968–974. doi: 10.1136/annrheumdis-2013-204428.
Lazarus, R. S., Folkman, S. Stress, appraisal, and coping. (1984). New York : Springer Publishing Company.
Murray, C. J. L., Vos, T., Lozano, R., Naghavi, M., Flaxman, A. D., Michaud, C., Lopez, A. D. (2012). Disability-adjusted life years (DALYs) for 291 diseases and injuries in 21 regions, 1990-2010: A systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2010. The Lancet, 380(9859), 2197–2223. doi: 10.1016/S0140-6736(12)61689-4.
Nijs, J., Apeldoorn, A., Hallegraeff, H., Clark, J., Smeets, R., Malfliet, A.; Ickmans, K. (2015). Low back pain: Guidelines for the clinical classification of predominant neuropathic, nociceptive, or central sensitization pain. Pain Physician, 18(3), E333-46. Retirado de: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26000680
Remor, E. A. (1999, January-June). Psicologia da Sáude: Apresentação, origem e perspectivas. Revista Psico: Porto Alegre. v. 30; n.1, 205-217, Recuperado de https://www.researchgate.net/publication/264240302_Psicologia_da_Saude_apresentacao_origens_e_perspectivas
Turk, D. C., Fillingim, R. B., Ohrbach, R., & Patel, K. V. (2016). Assessment of Psychosocial and Functional Impact of Chronic Pain. Journal of Pain, 17(9), T21–T49. doi: 10.1016/j.jpain.2016.02.006.
Vos, T., Barber, R. M., Bell, B., Bertozzi-Villa, A., Biryukov, S., Bolliger, I., … Murray, C. J. L. (2015). Global, regional, and national incidence, prevalence, and years lived with disability for 301 acute and chronic diseases and injuries in 188 countries, 1990-2013: A systematic analysis for the Global Burden of Disease Study 2013. The Lancet, 386(9995), 743–800. doi: 10.1016/S0140-6736(15)60692-4.
Zanuto, E. A. C., Codogno, J. S., Christófaro, D. G. D., Vanderlei, L. C. M., Cardoso, J. R., & Fernandes, R. A. (2015). Prevalence of low back pain and associated factors in adults from a middle-size Brazilian city. Ciência & Saúde Coletiva, 20(5), 1575–1582. https://doi.org/10.1590/1413-81232015205.02162014

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