Crescimento pós-traumático e aplicabilidade em Psicologia da Saúde.

Postado por Danielle Alves Menezes

Referência: Tedeschi R. G. & Calhoun, L. G. (2004): Posttraumatic growth: Conceptual foundations and empirical evidence. International Journal for the Advancement of Psychological Theory, 15 (1), 1-18, doi: 10.1207/s15327965pli1501_01

Crescimento pós-traumático é um conceito relativamente novo, proposto por Tedeschi & Caulhon em 2004, e diz respeito à experiência de mudança psicológica positiva que ocorre como resultado de lutas em momentos altamente desafiadores da vida. Fazendo parte dessas mudanças são relatadas atribuição de maior relevância à vida e a relações interpessoais, vida espiritual e existencial mais rica, mudança de prioridades, aumento da sensação de força pessoal.
As circunstâncias que envolvem crescimento pós-traumático incluem desafios significativos aos recursos adaptativos do indivíduo e implicam ressignificação de formas de ser e estar no mundo, como aqueles que se contituem como traumas ou situações angustiantes (a exemplo do adoecimento). Não se refere a um retorno a um estado psicológico anterior ao evento, mas a uma profunda experiência de mudança positiva.  Ele ocorre concomitantemente a consequências negativas de eventos estressores e às tentativas de adaptação do indivíduo, seja nos aspecto físicos ou emocionais.
Os estudos que relevam mudanças positivas, presente desde os anos 1980,  vão na contramão de uma perspectiva ainda predominante em relevar apenas as experiências negativas, gerando um interesse pelos aspectos psicológicos que permitem que experiências traumáticas se transformem em crescimento pessoal.
O crescimento pós-traumático se difere dos conceitos de resiliência, otimismo, resistência e senso de coerência: o primeiro diz respeito uma habilidade para continuar com a vida após dificuldades e adversidades, ou para continuar a viver de forma organizada, mesmo depois de experimentar dificuldades e adversidades. Otimismo envolve expectativas de resultados positivos para eventos. Resistência consiste em tendências para o empenho, controle e desafio em resposta a eventos de vida. Senso de coerência descreve pessoas que conseguem reagir bem ao estresse, pois o gerenciam ou o enfrentam encontrando um significado importante para eles.
O crescimento pós-traumático é um construto, ligado à descrição de um processo e ao mesmo tempo resultado, refere-se a uma mudança nas pessoas que vai além de uma capacidade para resistir e não ser prejudicado pelas circunstâncias altamente estressoras, e envolve um movimento para além dos níveis anteriores ao trauma de adaptação. Tem, então, uma qualidade de transformação, ou uma mudança qualitativa em funcionamento que envolve mudança de esquemas ao contrário dos conceitos aparentemente semelhantes de resiliência, senso de coerência, otimismo e resistência. Ele não acontece como resultado direto do trauma, que continua sendo percebido como angustiante, mas a reestruturação cognitiva incorporada a esquemas anteriores e a expectativas de eventos futuros (como a mudança de possibilidades de vida futuras).
Características individuais como traços de personalidade, forma de gerenciamento das emoções, suporte social são alguns dos aspectos responsáveis pelos níveis de variabilidade referentes ao construto.
Percebe-se, por fim, que é um construto relevante se formos considerar situações limites ligadas ao adoecimento físico, inaugurando um campo relevante para a Psicologia da Saúde que poderá contribuir para o desenvolvimento de habilidades mais adequadas para o enfrentamento.

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