Gênero e saúde: o cuidar do homem em debate.


Resenhado por Brenda Fernanda
Alves, R. F., Silva, R. P., Ernesto, M. V., Lima, A. G. B., & Souza, F. M. (2011). Gênero e saúde: o cuidar do homem em debate. Psicologia: Teoria e Prática, 13(3), 152-166. Recuperado em 04 de julho de 2015, de http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872011000300012&lng=pt&tlng=pt.

        A saúde do homem é um objeto que tem sido negligenciado ao longo de tempo. Isso ocorre principalmente em decorrência de processos culturalmente arraigados. A importância do presente estudo teve origem na necessidade de compreender os fatores que levam os homens a descuidarem-se com sua saúde e, consequentemente, procurarem menos que as mulheres os serviços de Atenção Primária à Saúde (APS).
        Ao longo do texto, constata-se a grande relevância que a cultura tem para a significação dos papéis de gênero de cada um, principalmente no que diz respeito a sua saúde. Assim, foram encontrados dados que relatam estrita relação entre um modelo culturalmente construído de masculinidade e sua influência nos cuidados com a própria saúde (Gomes, Nascimento e Araújo, 2007; Villar, 2007; Korin, 2001). No entanto, algumas pesquisas apontam para a possível existência de outros fatores intrínsecos ao funcionamento dos serviços de saúde que podem ser um obstáculo para o acesso do público masculino a esses serviços.
O artigo em questão foca na política criada pelo Ministério da Saúde, após identificar essa problemática, em agosto de 2009: a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH) (Brasil, 2008), para assistir os homens entre 25 e 59 anos, com a pretensão de identificar os elementos psicossociais que ocasionam a vulnerabilidade da população masculina à maior exposição de riscos em saúde. Esse Programa almeja mudar a cultura sobre a prevenção dando ênfase na mudança paradigmática da percepção masculina em relação a seus cuidados com a saúde, bem como a compreensão do universo masculino e suas motivações e empecilhos para fazer a prevenção de doenças.
A metodologia empregada no presente trabalho foi de caráter transversal, descritivo e analítico, com abordagem quantiqualitativa (Minayo; Sanches, 1993). Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram: um questionário sociodemográfico (Rea; Parker, 2000), e uma entrevista por pautas (Gil, 1999). Foram analisadas duas amostras de homens entre 25 e 59 anos: a amostra número 1, composta por homens que costumam buscar auxílio nas Unidades Básicas de Saúde da Família (UBSF); e a amostra número 2, formada por homens que, ainda que cadastrados nos programas de Saúde da Família, não costumam procurar esses serviços. A delimitação das amostras seguiu uma estratégia acidental e os critérios de inclusão foram a acessibilidade aos sujeitos e a disponibilidade (Sarriá; Guardiã; Freixa, 1999).
Participaram do estudo 82 sujeitos. Observou-se que o estado civil dos participantes não possui correlação com a procura ou não pelos serviços de saúde. Assim, não confirmam os resultados de outras pesquisas, realizadas em outros contextos culturais. Outro dado relevante é o relato da ausência de doença entre os dois grupos. Na amostra 1, 57,89% (n = 22) afirmaram não possuir doença alguma. Desse modo, a procura pelo serviço de saúde pode ser entendida como preocupação e cuidado com a própria saúde, uma ação voltada à prevenção de doenças, sendo o traço de qualidade que diferencia uma amostra da outra. Na amostra 2, 77,27% (n = 34) dos sujeitos afirmaram não terem sido diagnosticados com alguma doença. Esse dado nos permite questionar a real ausência de doenças na medida em que não ir ao médico impossibilita a constatação de alguma doença, considerando que existem enfermidades que são assintomáticas.
Os dados obtidos da análise discursiva da categoria ‘O que você faz para cuidar da sua saúde?’ demonstrou que os resultados foram semelhantes para as duas amostras. No que diz respeito à amostra 1, as atitudes consideradas positivas nos cuidados com a saúde destacaramse ante as atitudes negativas, principalmente as posturas de procura pelo médico por prevenção; alimentação balanceada; realização de atividades físicas; mudança de hábitos de fumar e beber. Quanto às atitudes negativas, ressaltou-se a procura pelo médico apenas em caso de doença; falta de atividade física; hábitos de beber e fumar praticados durante uma vida inteira. Em relação à amostra 2, as atitudes positivas também se sobrepõem às negativas, conclusão esta que aproxima as duas amostras. Especificamente, destacase a ida ao médico pelo medo de adoecer, o que em geral esteve associado à realização do exame do toque retal para o diagnóstico do câncer de próstata. Dentre as atitudes que se distanciam das observadas na amostra 1, constatouse que os hábitos de fumar e beber e os maus hábitos alimentares acabaram por compor, junto com a ausência de atividades físicas e a falta da procura pelo médico, um quadro de negligência com a própria saúde. Essa situação foi justificada pela dedicação excessiva ao trabalho, restando pouco tempo para a prática de outras atividades.
Concluindo, o estudo analisou múltiplos aspectos que dizem respeito ao universo masculino e seus cuidados com a saúde, com a finalidade de explicar a baixa procura dos homens pelos serviços de saúde. Dessa forma, foi constatado que as práticas preventivas, por vários motivos, sejam elas de ordem estrutural e/ou cultural, não fazem parte do cotidiano dessa população. Além disso, não sendo o público masculino o foco de atuação das equipes de saúde, a mínima procura pode ter sido originada pelo fato de os homens serem “invisíveis”, no que se refere à assistência nos serviços de APS. Assim, identificar esses fatores psicossociais que contribuem para a maior vulnerabilidade dessa população pode ser relevante para a construção de uma cultura de prevenção.

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