Sexualidade masculina e saúde do homem: Proposta para uma discussão
Resenhado por
Geovanna Souza
Gomes, R. (2003). Sexualidade masculina e saúde do
homem: proposta para uma discussão. Ciência
& Saúde Coletiva, 8, 825-829.
O
objetivo do autor ao escrever esse texto foi de problematizar aspectos da
sexualidade masculina que, se não devidamente abordados, poderão vir a comprometer
a saúde do homem. Para isso, logo no inicio do texto ele traz uma
problematização: “Por que discutir, especificamente, sexualidade masculina e
saúde do homem?”. Ao buscar oferecer uma resposta objetiva para os leitores ele
aborda a questão da singularidade e dos papéis sexuais.
O
termo “saúde do homem” pode ilustrar o encontro de uma política que preconiza a
superação do modelo que tem por foco a saúde da mulher, estabelecendo-se enquanto
saúde, independente do gênero. Segundo o autor, “o termo gênero passou a ser
utilizado pelas feministas para traduzir as diversas formas de interação
humana, buscando conceituar o gênero como forma de legitimar e construir as
relações sociais” (p. 826), e isso ajudou a compreender melhor a relação entre
homens e mulheres. Com o intuito de atingir o objetivo da escrita desse
trabalho o autor utilizou o desenho de ensaio, entendendo tal modalidade como um
exercício crítico de procura, de caráter exploratório, acerca de um tema ou objeto
de meditação, buscando uma nova forma de olhar o assunto (Tobar & Yalour,
2001).
O
autor traz algumas narrativas acerca da masculinidade, da sexualidade e de suas
crises. Pode-se dizer que desde sempre a sociedade dita as regras do que o
menino pode ou não fazer, do que é ser homem ou mulher. A ideia de que homem de
verdade tem que ser reservado e solitário aparece na maioria das falas
masculinas quando o assunto é sua vida pessoal. No entanto, há também uma
demanda que exige que o homem seja compreensivo quando os assuntos se referem a
sua parceira. Estabelecer para a sociedade uma identidade masculina é fonte de
inquietação para muitos homens, na qual eles devem expressar sua iniciação
sexual e a negação de homossexualidade, por exemplo. Com isso, há homens que
utilizam padrões tradicionais, como poder, agressividade, iniciativa e
sexualidade incontrolada, para construir a sua identidade sexual.
No
Brasil, na década de 90, começou a se falar numa possível “crise da
masculinidade” na qual o gênero masculino não é exatamente o foco da crise, mas
sim a procura constante pela masculinidade. Para alguns autores a crise pode
estar associada a inúmeros fatores, que vão desde impotência à valores sociais.
O autor cita que para Goldenberg (2000), “talvez o machão esteja realmente em
crise, mas é possível que até ele consiga sobreviver, só que será obrigado a
coexistir com outras formas de ser homem”. Dessa forma surgem novas
possibilidades de construção da masculinidade a partir de outros referenciais.
Aspectos
relacionados a crise da masculinidade estão refletidas na saúde do homem,
principalmente no que se refere a prevenção de doenças, sendo a principal delas
o câncer de próstata. No Brasil, o câncer de próstata tem se revelado como um
problema de saúde pública devido às altas taxas de incidência e mortalidade. Segundo
o Instituto Nacional de Câncer (INCA), a detecção precoce desse tipo de câncer
é o que eleva as chances de sobreviver.
Um
dos fatores que elevam a não procura pelo atendimento médico é o exame
realizado para detecção do câncer de próstata, conhecido como toque retal. Esse
exame é uma medida preventiva que mexe com a imaginação de muitos homens,
levando-os a pensar que se realizar esse exame sua masculinidade poderá não ser
a mesma. Para o autor, fazer esse exame pode suscitar no homem o medo de ser
tocado na sua parte “inferior”, associando o exame à dor e ao desconforto
físico e psicológico de estar sendo tocado. Outra coisa comum entre os homens é
o medo de ter uma ereção enquanto realiza o exame, mesmo que essa ereção seja
apenas uma reação fisiológica. Assim, não se pode deixar de pensar nos
constrangimentos que muitos homens sentem ao realizar o exame, mesmo aqueles
que procuram ser mais racionais frente à sua realização.
Por
fim, o autor coloca que não há constrangimentos somente por parte do homem que
realiza o exame, mas também de alguns profissionais. O profissional também pode
sofrer influências de seu imaginário, prevendo a existência dos medos que podem
surgir a partir de seu toque. Dessa forma, é imprescindível que ao pensar em
políticas de saúde pública possam ser melhor discutidas questões que envolvam a
sexualidade masculina, para que haja uma melhor preparação e aceitação diante
de exames que mexem tanto com o imaginário das pessoas. Há uma forte necessidade de reflexão sobre a masculinidade
para uma compreensão dos comprometimentos da saúde do homem.
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