Acne vulgar e bem-estar em acadêmicos de medicina.


Resenhado por Brenda Fernanda

Ribas, J., Oliveira, C. M. P. B., & Ribeiro, J. C. S. (2008). Acne vulgar e bem-estar em acadêmicos de medicina. Anais Brasileiros de Dermatologia, 83(6), 520-525.

Sabe-se que doenças dermatológicas envolvem aspectos psíquicos, havendo ocorrência de 40,0% de comorbidade psiquiátrica em pacientes dermatológicos adultos (Henkel, Moehrenschlager, Hegerl, Moeller, Ring, & Worret, 2002). Estima-se que pelo menos um terço dos pacientes com doença dermatológica apresente aspectos emocionais associados (Taborda, Weber & Freitas, 2005). As condições psicodermatológicas podem ser divididas em quatro grandes grupos. Entre as dermatoses, destaca-se a acne. Trata-se de uma enfermidade genético-hormonal, de localização pilossebácea, caracterizada pela formação de comedões, pápulas e cistos. Quando há inflamação mais intensa, formam-se pústulas e abscessos que regridem, em geral deixando cicatrizes (Costa, Alchorne, Michalany, & Lima, 2007; Ramos-e-Silva et al., 2003). É uma doença típica de adolescentes, com frequência elevada (85,0%), que acomete tanto o sexo feminino (60,0%) quanto o masculino (70,0%).
Clinicamente, é classificada em quatro níveis. As complicações mais relevantes da enfermidade são cicatrizes físicas e sequelas psicossociais, que podem persistir após o desaparecimento das lesões ativas (Chiu, Chon, & Kimball, 2003; Ramos-e-Silva et al., 2003). A literatura sugere que a depressão seja um dos distúrbios psiquiátricos mais comuns em dermatologia, atingindo 25 a 40,0% dos pacientes. No entanto, em decorrência da rotina conturbada e da rapidez dos atendimentos nos consultórios médicos, prejuízos à saúde mental podem ser subdiagnosticados em detrimento do foco da consulta. O dermatologista deve estar preparado para receber, identificar e encaminhar o paciente com tais agravos para o devido acompanhamento psiquiátrico ou psicológico.
Foi realizado um estudo de caso-controle de agosto de 2007 a abril de 2008, com 100 acadêmicos de medicina entre 18 e 30 anos, divididos em dois grupos iguais, um com acne e o outro sem. Foi utilizado um questionário padronizado de entrevista. Dos participantes diagnosticados com acne (grupo caso), 62,0% eram mulheres e 38,0% homens. No grupo controle, 52,0% eram homens e 48,0% mulheres. O teste qui-quadrado não demonstrou associação estatisticamente significativa entre a doença dermatológica e o baixo nível de bem-estar (p = 1,000). Quanto à duração da doença, fez-se menção ao tempo em anos na totalidade dos casos, sendo o período médio de evolução da acne de 6,5 anos.
Apesar de as mulheres serem maioria no grupo de casos, foram nos homens que apareceram as formas mais graves da doença. Ademais, 96,0% dos sujeitos com acne apresentavam atitudes ou sentimentos desencadeados pela acne, sendo mais recorrente a manipulação frequente das lesões, observada em 77,0% dos casos, seguida pelo desgosto por ter acne, em 73,0%. Observou-se, ainda, ansiedade em 50,0% dos casos; insatisfação e frustração quanto à aparência física em 41,6%; medo de a acne nunca cessar em 35,4%; medo de ser fotografado em 14,6%; aversão a se olhar no espelho em 12,5%; inadequação (constrangimento) social pela aparência física figurou em 10,4%, e medo de encontrar pessoas pela primeira vez e de reencontrar conhecidos em 6,25% dos casos.
Por fim, pode-se ressaltar o impacto psicossocial que a presença da acne ocasiona aos indivíduos, sendo de suma importância estudar estes aspectos psicológicos das dermatoses, a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida a estes pacientes.  

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