Psychosocial adjustment and physical health in children of divorce
Resenhado
por Mariana Menezes
Nunes-Costa,
R. A., Lamela, D. J., & Figueiredo, B. F. (2009). Psychosocial adjustment and physical health in
children of divorce. Jornal
de Pediatria, 85(5), 385-396.
A experiência da separação dos pais pode
ser uma situação potencialmente estressora que resulta em declínio do bem estar
da criança. Na maioria dos casos, após a separação dos pais a criança passa a apresentar
problemas no seu desenvolvimento. Diante disso, o artigo, através de revisão da
literatura, reuniu informações a respeito do impacto do divórcio dos pais sobre
a saúde física e psicológica das crianças. A primeira parte do artigo dedicou
atenção à vulnerabilidade e fatores de risco que interagem com as respostas
comportamentais desadaptativas de crianças à separação parental, com especial
enfoque nas características individuais das crianças, na situação financeira da
família, estilos parentais e qualidade da aliança coparental, características
individuais e níveis de ajuste dos pais, e o conflito interparental. Numa
segunda parte, o impacto do divórcio foi avaliado com base no desempenho
acadêmico das crianças, transtornos de internalização e externalização, os
níveis de estresse e resposta imunológica e saúde.
Vulnerabilidade
e fatores de risco:
Os cinco principais fatores de risco em resposta à adaptação da criança ao
divórcio são: 1. Fatores intrínsecos a cada criança; 2. Diminuição da segurança
financeira; 3. Psicopatologias dos pais (principalmente a depressão); 4. Co-parentalidade;
5. Intensidade e frequência de conflitos interparental antes e durante o período
de dissolução conjugal.
Características
individuais das crianças: Existem duas dimensões intrínsecas a cada criança
durante o processo de adaptação à separação: 1. Nível de temperamento: Crianças
que têm um temperamento fácil, que são responsáveis e socialmente sensíveis,
que têm a autoestima elevada, competência cognitiva e autonomia, demostram
melhor capacidade de adaptação positiva a esta transição familiar; e 2. Desenvolvimento:
A qualidade da adaptação ao divórcio dos pais também parece associada à fase de
desenvolvimento da criança no momento da dissolução conjugal, por exemplo, crianças
em idade pré-escolar estão sujeitas a maiores desajustes social e emocional em
comparação com crianças mais velhas.
Segurança
financeira da família: A redução da renda familiar pode prejudicar o bem estar
devido à redução dos recursos disponíveis para a saúde, educação e acesso a
bens culturais e de entretenimento.
Estilos
parentais e relações coparental: Características de comportamento dos
pais têm sido associadas aos níveis de ajustamento das crianças. Se a guarda é
compartilhada e os pais compartilham um estilo parental democrático, sendo
consistentes quanto à educação dos filhos, as chances de bom ajustamento das
crianças será maior e menor será a prevalência de depressão e mais elevados
serão os níveis de autoestima. Porém, se os pais não compartilham um estilo
parental democrático, a criança terá dificuldades para gerir emocionalmente as
mensagens educacionais mistas dos pais, o que aumenta a taxa de distúrbios de
ansiedade e depressão. Co-parentalidade é outro conceito essencial na
explicação da adaptação das crianças ao divórcio dos pais e diz respeito ao
envolvimento conjunto e recíproco de ambos os pais na educação, formação e
tomada de decisões sobre a vida de seus filhos.
Psicopatologia
e desajustamento psicossocial parental: É comum que durante e após o processo de
divórcio, os pais tenham depressão. A existência de depressão parental, além de
provocar diminuição do cuidado material e afetivo das crianças, caracteriza-se
como um fator de risco para o desenvolvimento de ansiedade, depressão, comportamento
opositor, baixa autoestima, comportamento antissocial, pior rendimento
acadêmico, déficits de atenção e problemas de relacionamentos interpessoais.
Conflito
interparental:
O conflito interparental,comum ao processo de divórcio, é indicado como o maior
estressor envolvido no desajuste das crianças ao divórcio. Gera nelas, insatisfação
e insegurança, e se manifesta através de comportamentos dos pais tais como raiva,
hostilidade, desconfiança, dificuldade de comunicação com as crianças e agressões
física e verbal.
Desempenho
acadêmico e relações interpessoais: Crianças de pais separados apresentam
menor motivação e desempenho acadêmico, menor capacidade de terminar projetos
escolares, enfrentam maior dificuldade de concentração em tarefas complexas e
são menos responsáveis. A diminuição da participação dos pais na vida acadêmica
das crianças pode ser o principal responsável pela queda nos resultados
escolares.
Transtornos
de internalização e de externalização: Filhos de pais divorciados podem
apresentar transtornos internalizantes como depressão, ansiedade e isolamento,
e também transtornos de externalização que abrangem comportamentos como condutas
aditivas, impulsivas ou hiperativas ou comportamentos antissociais.
Psicofisiologia
e saúde:
A experiência do divórcio é uma fonte potencial de estresse que impacta na
saúde.
Estresse
e psicofisiologia:
Uma vez que o divórcio é percebido e avaliado como um evento negativo pela
criança, ocorre uma reação fisiológica no organismo a partir da qual, hormônios
tais como o cortisol e a adrenalina são liberados. Em curto prazo, a reação ao
estresse decorrente do divórcio dos pais é adaptativa, porém, se o estresse se prolongar
o risco para doenças na criança é estabelecido, podendo contribuir para o
desenvolvimento de quadros de depressão, diabetes, hipertensão, imunossupressão
e etc.
Estresse
e imunologia:
Frente a situações estressoras (tais como o divórcio dos pais), o sistema
imunológico fica enfraquecido.
Estresse,
divórcio e imunologia: O divórcio, devido à diminuição da capacidade
imunológica, pode levar ao aumento na procura por serviços de saúde devido às doenças
psicológicas, psicossomáticas e físicas.
Portanto, os comportamentos
desajustados, bem como as psicopatologias em crianças podem ter origem nas
vivências de um ambiente familiar conflituoso, marcado pela transição familiar
desadaptativa e por práticas parentais inadequadas. Esse ambiente, rico em
estressores, tem um impacto negativo sobre a saúde física e psicológica das
crianças.
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