O Apadrinhamento Afetivo é um meio eficaz de suprir as demandas afetivas de crianças e adolescentes.
Notícia por Juliane Ishimaru
Sabe-se que os
relacionamentos sociais são essenciais para o desenvolvimento psíquico e para a
promoção do bem-estar subjetivo, pois, a partir deles, formam-se os as bases do
apoio afetivo sentido pelo indivíduo. Por esta razão, e como forma de suprir as
demandas emocionais e afetivas de crianças e adolescentes de instituições de
apoio, tais como orfanatos e abrigos, o programa de Apadrinhamento Afetivo foi
criado. Entenda a sua importância na matéria abaixo:
Fonte: http://hojecentrosul.com.br/?id=956
“O Apadrinhamento Afetivo busca inserir esporadicamente a criança e o adolescente, em acolhimento ou à espera de adoção, em um ambiente familiar para que ele vislumbre como é ser pertencente à uma família.No ano passado, um dos atendimentos em uma escola municipal iria mudar a experiência de vida da psicóloga Teresa Cristina Magnabosco de Oliveira nos próximos meses e traria para o convívio da sua família um adolescente que estava em acolhimento.“Eu o conheci na semana seguinte ao acolhimento. Ele foi para uma escola que eu sou a responsável (...) e ele estava lá. A coordenadora falou: ‘Tem um garoto muito tímido, está com muita dificuldade, ele foi acolhido há poucos dias, você não quer conversar? ’. E eu comecei a entrar em contato com ele”, conta.Tão logo soube da realização do projeto Apadrinhamento Afetivo, Teresa manifestou a sua vontade de participar e se tornar a madrinha-afetiva do adolescente que encontrou em uma das escolas.De acordo com a psicóloga do Serviço de Acolhimento Institucional, Janaina Del Cielo, o Apadrinhamento Afetivo tem a intenção de suprir a necessidade de afeto individual que as instituições por onde essas crianças e adolescentes passam não conseguem realizar. “O objetivo geral é proporcionar o direito à convivência familiar comunitária, laços afetivos, uma assistência educacional e até mesmo material, para crianças e adolescentes a partir de oito ou nove anos e adolescentes que têm difícil ou remota possibilidade de integração familiar no acolhimento ou de adoção”, explica.“Que ela [criança ou adolescente] saiba como é conviver numa família, que eventualmente ela possa estar lá, e receber principalmente afeto, atenção, um carinho. (...) Esse caráter de pertencimento de individualidade a gente só consegue através da convivência com a família”, explica Janaína.A aproximação de Teresa e o adolescente foi gradativa. Ela conta que os primeiro encontros entre ela, seu marido e o adolescente foram realizados ainda na sala de atendimento da Assistência Social. Foi a partir de novembro, com as atividades culturais e atividades extras que o adolescente e a família de Teresa começaram a realizar em conjunto que eles ficaram mais próximos. “Foram essas atividades que foram nos aproximando, e uma vez ou outra na minha casa, num sábado de tarde, então a gente fez uma aproximação bem gradativa para não assustá-lo e também pra gente”, conta.Em dezembro, Teresa, seu marido e seus quatro filhos já estavam totalmente integrados com o adolescente que participava das programações familiares de fim de ano, chegando a pernoitar na noite de ano novo. “Ele começou a fazer parte do dia a dia, não é todo dia, mas vai num almoço, numa janta, pernoita na casa”, conta. “É uma casa bastante animada, com bastante gente, sempre jogam bastante, brincam bastante, coisas com tabuleiro, essas coisas e ele sempre foi envolvido, então rapidinho foi feito o vínculo, tanto da parte dos meus quanto do dele [adolescente]”.No início deste ano, o adolescente saiu do acolhimento e foi morar com os tios no interior de Fernandes Pinheiro. Mesmo assim, Teresa conta que pretende continuar o contato com o adolescente e que estão em fase de adaptação por causa da distância e do clima, que tem atrapalhado as visitas. “Agora com o desacolhimento está sendo um pouco mais difícil, porque nas primeiras semanas que ele foi desacolhido choveu duas semanas em seguida, impossibilitando a gente de ir vê-lo no interior de Fernandes”, conta. “Temos que encontrar uma forma de continuar as visitas (...) Acho que é até uma obrigação. Eu não me sentiria bem em ter feito tudo isso e de repente de uma hora abandoná-lo. Acho que será uma injustiça. E o coração dele não merece isso”, diz.
Quem pode participar do Apadrinhamento AfetivoSegundo a psicóloga do Serviço de Acolhimento Institucional, Janaina Del Cielo, todas as configurações de família podem participar do programa. “Não precisa necessariamente ser um casal, pode ser uma pessoa que mora sozinha, um adulto que mora sozinho, pode ser um adulto que seja casado com filhos, pode ser qualquer configuração de família que esse apadrinhamento proporcione uma convivência familiar e comunitária”, explica. “Hoje existem, não só aquela família considerada tradicional, como pai, mãe, e seus filhinhos, mas existem famílias formadas pelos avôs apenas, que cuidam de uma criança, tios que cuidam de uma criança, famílias homossexuais que cuidam muito bem de uma criança, pessoas que moram sozinhas que são chamados famílias também - embora muitos desconheçam - que podem sim ofertar toda uma assistência afetiva que essa criança precisa”, conta.Os candidatos também precisam obedecer alguns critérios para participar do programa (no box de informações). Além disso, eles passam por entrevistas, visitas domiciliares e reuniões, palestras e oficinas com a equipe do Serviço de Acolhimento. “O padrinho ou madrinha precisa participar das atividades que a gente desenvolve para eles (...) Essas oficinas, palestras e reuniões são feitas eventualmente, não é uma coisa toda a semana”, conta a psicóloga.A equipe ainda realiza atendimentos particulares quando há necessidade. “A equipe irá dar todo o apoio aos candidatos. Haverá orientação psicológica e social. As famílias não vão ficar sozinhas e abandonadas”, esclarece.
Apadrinhamento Afetivo não é adoçãoA psicóloga Janaina Del Cielo explica que o Apadrinhamento Afetivo não pode ser encarado como um passo para a adoção. “A gente percebe que alguns padrinhos nos procuram como um caminho mais perto para a adoção, no intuito de apadrinhar uma criança pequena que esteja para adoção, e daí passar por toda uma fila, todo um cadastro nacional, pra criar vínculo e justificar por isso a adoção daquela criança. Então, a gente deixa claro que o apadrinhamento é uma convivência familiar esporádica, a criança não está indo morar com os padrinhos (...) A criança vai continuar morando no acolhimento, na Casa Lar e vai passar um fim de semana, vai passear uma vez por semana, a cada 15 dias, depende muito do caso, a gente combina com a família, vai participar de festas com a família, vai a eventos comunitários, às vezes pode pernoitar na casa do padrinho nos finais de semana, ou em alguma ocasião especial, alguma data. Mas não vai morar com os padrinhos afetivos, não se trata de uma adoção”, esclarece.Há casos em que alguém que conheceu a criança ou o adolescente durante o Apadrinhamento Afetivo, criou laços e acabou adotando ou pedindo a guarda. Mas a psicóloga Janaina destacou que isso não pode ser a regra. “É algo que sim pode acontecer (...) Vai depender do caso, se a equipe avalia que aquele apadrinhamento tem sido positivo pro adolescente, que a família tenha o desejo de aprofundar esses laços afetivos através de uma guarda ou até mesmo uma adoção, que o adolescente também tem esse desejo. Se for algo positivo para aquela criança, ótimo. A gente só toma muito cuidado pra que já de início não entre com essa ideia de adotar uma criança utilizando o projeto como um caminho mais curto”, alerta.
O que é visto no ApadrinhamentoUm dos principais itens vistos durante o apadrinhamento afetivo é a disponibilidade de afeto da família candidata e se o ambiente familiar causará a experiência que o programa quer proporcionar para essa criança ou adolescente.“Muitos acham que é só uma assistência financeira e material, que pode sim ser ofertado esse tipo de assistência a mais para essa criança, mas não é o único objeto ou o principal objetivo. O principal objetivo é realmente essa disponibilidade afetiva dessa família e que também tenha condições familiares e que o ambiente familiar seja adequado”.Por isso, qualquer família interessada no programa pode participar, independente da renda. “A questão financeira é o último fator a ser avaliado pra aquela família. (...) O que importa realmente é a disposição afetiva de cuidado de proteção e de afeto que aquelas pessoas vão ofertar pra aquela criança, essa base afetiva, é isso que a gente procura”, conta.
Desenvolvimento da criançaA intenção do programa é ajudar no desenvolvimento da criança e do adolescente para que ele possa vislumbrar um futuro melhor. “[A convivência familiar] vai ser bom para seu desenvolvimento emocional, psicológico, então essa família vai prestar todo esse apoio afetivo para aquela criança de uma forma individualizada, pra ela se sentir especial, pra ela se sentir amada por uma família, cuidada, protegida, mesmo morando no abrigo ela sabe que tem o suporte e o acolhimento de uma família, mesmo que não seja dela. Então esses momentos que ela passa com essa família são muito importantes, esses momentos mesmo que esporádicos”, conta a psicóloga Janaina.“Quando falo em base familiar é sentir-se pertencente a uma família, se sentir único e amado, e ter outros valores em relação à própria condição humana, nas questões éticas, na questão de empatia, se colocar no lugar do outro, principalmente de afeto, que muitas vezes na história de vida daquela criança teve direitos que ela tinha que foram negados. Direitos que foram violados nessa história de vida, então é interessante que eles vejam que por mais que elas vieram de uma família que não conseguiram garantir a proteção, o cuidado, o afeto necessário, existem outras famílias que podem ofertar isso e que realmente ele também pode vir a construir sua família com cuidado com proteção, com o mínimo esperado pro desenvolvimento da criança”, conta.
DicasPara a psicóloga Teresa Cristina Magnabosco de Oliveira, que participou do programa, é importante que as pessoas interessadas conversem com seus familiares antes de participar do programa e que pensem sobre a participação. “A primeira é de pensar bem porque cria expectativa [na criança]. Pensar bem, porque o programa é bom, eles precisam de um afeto, de um carinho”, conta.Além disso, ela conta que é necessário que a relação com o apadrinhado seja de honestidade, para que ambos possam saber o que está acontecendo com o outro. “Essas duas coisas foram sempre importantes, de conversar com ele tudo, a gente tinha o pacto de ser sincero e acho que pensar bem no que faz. É um programa importante porque nem todos eles entendem muito bem o que está acontecendo com eles, porque eles estão acolhidos”, explica.“Quem quer se candidatar tem que pensar que se aquele apadrinhamento for positivo ele vai ser uma referência para a vida daquela criança e ele pode ser a base familiar, o modelo familiar que a criança precisa pra que ela tenha uma vida saudável, uma vida de qualidade”, conta Janaina.Segundo Janaina, é possível que haja desligamento do programa, seja por pedido da madrinha ou do padrinho, ou até mesmo do adolescente ou criança, e inclusive por avaliação da equipe técnica. Contudo, isso não é regra. “A gente não mantêm algo forçado que não seja do desejo e positivo para todos. Claro se for algo que não for positivo, a gente realiza o desligamento, mas a gente evita que isso aconteça pra que evite mais uma ruptura de vínculo na vida daquela criança”, conta.
Critérios para o Apadrinhamento Afetivo:- ter no mínimo 21 anos – é preciso respeitar a diferença de 16 anos entre a pessoa que irá apadrinhar e o apadrinhado.- Apresentar documentação solicitada: comprovante de residência, atestado de antecedentes criminais, cópia da carteira de identidade e do CPF; no caso de casais é preciso que o companheiro ou a companheiro assine uma declaração de concordância em participar do programa, além de fornecer cópia da carteira de identidade e CPF do parceiro e apresentar a certidão de casamento ou união estável, ou algum documento que provem que moram juntos.- Os candidatos a padrinhos ou madrinhas devem passar por entrevistas, visita domiciliar e participar de reuniões, palestras e oficinas realizadas pelo Serviço de Acolhimento Institucional.- Não possuir uma demanda judicial que envolva a criança ou o adolescente. Se houver, a equipe do Serviço de Acolhimento Institucional irá avaliar antes de decidir pelo apadrinhamento.- Disponibilidade afetiva e ter um ambiente familiar receptivo.”
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