Depressão: Conceito e Diagnóstico
Resenhado por
Mariana Menezes
Del
Porto, José Alberto. (1999). Depressão: Conceito e diagnóstico. Revista Brasileira de Psiquiatria, 21(Suppl.
1), 06-11.
De acordo com Del Porto a depressão
designa um estado afetivo normal (tristeza); um sintoma; uma síndrome ou uma
doença. A depressão enquanto tristeza é uma resposta às situações de perda,
derrota, decepções, e também uma resposta adaptativa, pois através do
retraimento a pessoa poupa energia e recursos para o futuro e também por ser um
sinal de alerta para os outros de que a pessoa precisa de ajuda e companhia. Enquanto
sintoma, a depressão pode surgir em vários quadros clínicos como no transtorno
de estresse pós-traumático, demência, esquizofrenia, alcoolismo, etc. Pode ocorrer
também como resposta a situações estressantes, ou a circunstâncias sociais e
econômicas adversas. Enquanto síndrome, a depressão inclui alterações do humor
como tristeza, irritabilidade, falta de capacidade de sentir prazer e apatia, e
também vários outros aspectos como alterações do sono, do apetite, cognitivas,
psicomotoras e vegetativas. Por fim, enquanto doença a depressão se classifica
de várias formas a depender do período histórico, da preferência dos autores e
do ponto de vista; pode ser classificada como transtorno depressivo maior,
melancolia, distimia, depressão integrante do transtorno bipolar tipos I e II,
depressão como parte da ciclotomia, etc.
No diagnóstico da depressão são
considerados os sintomas psíquicos, os fisiológicos e as evidências
comportamentais.
Os sintomas
psíquicos da depressão são:
Humor depressivo – que se
caracteriza por uma sensação de tristeza, autodesvalorização e sentimento de culpa
que os pacientes depressivos apresentam. Eles dizem que as coisas perderam a
importância para eles e que não sentem mais alegria e prazer na vida, tudo é
vazio e sem graça. Muitos se mostram insensíveis ao invés de tristes, já não se
emocionam com coisas que antes os emocionavam. Acham que são um peso para os
outros, e muitos até pensam em suicídio, algumas explicações para isso é que
eles percebem as dificuldades e perdas de maneira intensa, e porque sentem um
grande desejo de acabar com o estado emocional que estão vivendo, ou até mesmo
para pagar sua “culpa”.
Redução da capacidade
de experimentar prazer na maior parte das atividades antes consideradas como
agradáveis –
os depressivos já não se sentem bem fazendo o que antes eles gostavam de fazer,
ao contrário vêm tudo como obrigação.
Fadiga ou
sensação de perda de energia – a pessoa relata que sempre se sente
fadigado, mesmo sem ter feito esforço físico, e as tarefas leves parecem exigir
muito esforço, além da pessoa apresentar maior lentidão ao executá-las.
Diminuição da
capacidade de pensar, de se concentrar ou de tomar decisões – tomar
decisões passa a exigir um grande esforço; e o paciente pode demorar muito para
realizar atividades simples. O pensamento fica mais lento.
Os sintomas
fisiológicos da depressão são:
Alterações do
sono
– a alteração do sono mais típica entre os depressivos é a insônia, que pode
ser intermediaria, ou seja, a pessoa acorda no meio da noite e tem dificuldade
para voltar a dormir; ou terminal em que o sujeito acorda muito cedo pela
manhã. Também pode ocorrer sonolência excessiva mesmo durante o dia.
Alterações do
apetite
– pode ocorrer perda do apetite que é mais comum ou aumento do apetite. Maior
consumo de açúcar e carboidrato.
Redução do interesse
sexual
As evidências
comportamentais da depressão são: retraimento social, crises de choro,
comportamentos suicidas, retardo psicomotor, lentificação generalizada ou
agitação psicomotora (os pacientes dizem sentir um peso no corpo).
Em seu artigo Conceito e Diagnostico Del
Porto também nos apresenta os tipos de depressão:
Melancolia - a principal característica
da melancolia são as alterações psicomotoras. Os tratamentos biológicos são
mais positivos nos quadros melancólicos do que em outros tipos de depressão.
Depressão psicótica – é caracterizada
por quadros psiquiátricos nos quais ocorrem alucinações e delírios. Envolvem
delírios depressivos congruentes com o humor, e neste tipo de delírio a pessoa
se culpa de forma indevida e inapropriada. Ela também se acusa a por delitos e
atos culposos do passado e fica se remoendo. Os temas de ruínas delirantes
apresentam-se como ruína do corpo (a pessoa acredita estar com algum órgão
apodrecido ou tomado pelo câncer), espiritual (a pessoa se culpa por pecados e
faltas cometidos) e financeira (delírios que envolvem pobreza e miséria). Os
delírios incongruentes com o humor incluem temas de perseguição e delírios de
estar sendo controlado. As alucinações que acompanham a depressão são
transitórias e não elaboradas. O paciente ouve vozes que o condenam,
imprecações do demônio, choro de defuntos e etc. As formas mais severas da
depressão psicótica é a “melancolia fantástica”, nesta forma aparecem intensos
delírios e alucinações, alterando-se estados de violenta excitação e leve
alteração da consciência.
Depressões Catatônicas – é caracterizada
por intensas alterações da psicomotricidade, como imobilidade quase completa,
atividade motora excessiva, negativismo extremo, mutismo, estereotipias,
ecolalia ou ecopraxia, obediência ou imitação automática. A imobilidade motora
pode se apresentar como estupor ou catalepsia.
Depressões Crônicas (distimias) – os pacientes
com este tipo de depressão sofrem por não sentir prazer em atividades habituais,
e pela presença de uma morosidade irritável em suas vidas.
Depressões atípicas – é uma forma de depressão
caracterizada por reatividade do humor, sensação de fadiga acentuada e peso nos
membros, e sintomas vegetativos reversos, como aumento de peso e do apetite. As
pessoas com este tipo de depressão apresentam extrema sensibilidade ao que
consideram como rejeição por parte de outras pessoas.
Sazonalidade – algumas formas de
depressão acentuam-se de acordo com o padrão sazonal, geralmente as depressões
deste tipo ocorrem no outono e inverno. Alguns pacientes com depressão do tipo
bipolar II têm fases hipomaníacas na primavera.
O trabalho de
Del Porto é uma leitura rápida e muito rica para quem deseja saber mais sobre a
depressão. É feita uma revisão conceitual da depressão, dos estados depressivos
e seus subtipos. O artigo “Conceito e Diagnóstico” é o tipo de literatura que
deve fazer parte do acervo de quem estuda o tema, pois é a base que permitirá
entender os processos da depressão.
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