Má noticia em saúde: Um olhar sobre as representações dos profissionais de saúde e cidadãos
Resenhado por Lucila Moraes
Gonçalves Pereira, Maria Aurora. Má noticia em saúde: um olhar sobre as representações dos profissionais de saúde e cidadãosTexto & Contexto Enfermagem [On-line] 2005, 14 (janeiro-março) : [Datadeconsulta:15/marzo/2014]Disponível em:<http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=71414104> ISSN 0104-0707.
O presente artigo tem como objetivo
apresentar os resultados obtidos através de um estudo, que teve como finalidade
conhecer as representações de má noticia para profissionais de saúde e outros
cidadãos, e proporcionar com isso, algumas reflexões sobre a temática, tendo
vista a importância de uma comunicação clara e eficaz entre o profissional da
saúde e seu paciente.
A comunicação de “más notícias” está relacionada
com situações que modificam de forma grave e negativa o pensamento futuro do
doente, e geralmente está associada à perda de objetos ou sujeitos importantes
na vida de um indivíduo. Os prestadores de cuidado são os principais
transmissores da ‘má notícia’, e muitas vezes ficam tão perturbados quanto quem
a recebe. Os medos enfrentados por esses profissionais estão relacionados, em
sua maior parte, ao medo de serem culpados pelo o que aconteceu, ou ainda em
demonstrar alguma reação emocional diante do paciente, e não raras vezes,
acreditam que fracassaram em sua dever de preservar a vida ou a saúde do
sujeito em questão. Em virtude desses medos, muitas vezes esses profissionais
comunicam a ‘má notícia’ de forma menos cuidadosa e clara, o que pode prejudicar
também a reação e o enfrentamento do paciente ou familiar que recebe a noticia.
Nota-se que o maior problema enfrentado
por esses profissionais da saúde não está na informação que está sendo passada,
mesmo sendo ela uma ‘ má notícia’, e sim, em como e quando ela será revelada.
Com isso, o ato de informar deve estar envolto de quatro princípios básicos da
bioética: princípio da beneficência, princípio da autonomia, princípio da
justiça e o princípio da não maleficência, todos sendo aplicados de acordo com
cada situação específica e levando em consideração os valores e sentimentos dos
envolvidos.
Para avaliar a representação de “má
noticia”, quer para os profissionais de saúde quer para outros cidadãos, foi
realizado um estudo, com entrevistas semiestruturadas feitas com médicos,
enfermeiros e cidadãos, para compreender tal fenômeno. Os informantes (12
enfermeiros, 3 médicos e 8 cidadãos) foram selecionados de forma aleatória, tendo
como objetivo coletar a opinião pessoal dos entrevistados sobre o significado
de má noticia. Os resultados mostraram que a “má notícia” é quase sempre
associada à morte ou a uma doença que pode preceder a morte, principalmente
doença grave sem cura e doença oncológica. A doença grave, em sua maioria, é
vista como uma ameaça à vida e à integridade pessoal, causando medo e
ansiedade, e podendo afetar negativamente a vida futura e as relações pessoais
do sujeito que a possui. Já a doença oncológica é, muitas vezes, envolta de
mitos e crenças, que se não forem desfeitas, causam medo, insegurança e
desesperança que afeta o paciente e seus entes mais próximos.
Hoje em dia as pessoas ainda evitam
falar da morte e encará-la como a última fase da vida e, muitas vezes, por
tentar sempre evitar falar nela de forma natural e presente, criam-se ainda
mais mitos e medos que obscurecem seu verdadeiro sentido, valor e, por que não,
importância. Isso dificulta ainda mais a
tarefa para os profissionais de saúde em comunicar uma notícia ruim, já que
eles próprios encaram a morte do paciente como um fracasso ou com vergonha, pois
foram formados e educados na expectativa de vencer a doença e, portanto a
morte.
A reflexão que se faz com a comunicação
de uma ‘má notícia’ é que, ela está muito associada não só a própria temática
que será comunicada (seja uma doença como o câncer, um acidente grave ou até a
morte iminente), mas a forma como ela é comunicada e o apoio social que se
oferece ao indivíduo que recebe a informação. Aliado a isso, a percepção de
morte como sendo algo negativo e muitas vezes tratada como tabu em nossa
sociedade, não ajuda na comunicação da notícia, muito menos na repercussão que
trás para o sujeito que a recebe e as pessoas mais próximas, afetando o
processo de luto para a família ou o enfrentamento da doença pelo paciente.
A
leitura é indicada para não só para profissionais de saúde, mas para qualquer
cidadão que deseja refletir mais sobre o processo e os desafios presentes na
comunicação de uma notícia ruim, além de incentivar a reflexão sobre a
importância e impacto que a transmissão de uma ‘ má notícia’ pode causar na
vida de um indivíduo ou de uma família.
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