Transtornos de Ansiedade
Resenhado
por Laís Santos
Castillo, A.R; Recondo,
R.; Asbahr, F e Manfro, G. (2000). Transtornos de Ansiedade. Revista Brasileira de Psiquiatria; 22
(Supl II): 20-23.
A ansiedade é um estado emocional com componentes
psicológicos e fisiológicos, típico dos seres humanos. Ela passa a ser patológica quando se torna
desproporcional ao estímulo a que se refere, ou nos casos em que não há um
desencadeador específico. No caso das crianças, é um pouco mais difícil
distinguir um simples sentimento de medo, de tensão, daqueles que vão além dos
padrões normais.
Há uma distinção pontual entre transtornos de ansiedade e
sintomas ansiosos. Os transtornos ansiosos são quadros clínicos nos quais os sinais
de ansiedade não derivam de outras condições psiquiátricas, como a depressão,
por exemplo. Os sintomas ansiosos propriamente ditos estão presentes em outros
transtornos psiquiátricos, porém, não desencadeiam um transtorno de ansiedade
em si, pelo fato de nesses casos serem consequências dos transtornos a eles
associados.
Em termos práticos, os transtornos de ansiedade são
comuns tanto em crianças quanto em adultos; em média há uma predominância de 9%
e 15% respectivamente. Em crianças, é mais comum a incidência de transtornos de
ansiedade de separação, transtorno de ansiedade generalizada (TAG) bem como,
fobias específicas. No que tange ao gênero, de modo geral, os transtornos de
ansiedade se manifestam de forma semelhante, exceto com relação ao transtorno
de estresse pós-traumático, fobias específicas e transtorno de pânico, nos
quais há maior ocorrência em mulheres.
O transtorno
de ansiedade de separação, como citado anteriormente, está bastante
presente nas fases da infância e adolescência. Ele se caracteriza por uma
ansiedade exarcebada que persiste por no mínimo quatro semanas, e está
relacionada ao afastamento dos genitores ou cuidadores. A criança ou
adolescente apresenta um comportamento de apego exagerado a seus cuidadores,
não permitindo o afastamento destes ou buscando sempre manter contato para
assegurar-se de que está tudo bem.
Uma das consequências desse
transtorno é a recusa escolar secundária. Muitas crianças, mesmo gostando de
estar na escola, negam-se a ir por conta do medo se afastar de seus pais. As
manifestações somáticas mais comuns são: dor abdominal, dor de cabeça, náusea e
vômito. Com crianças maiores, além desses sintomas, pode haver palpitações,
tontura e até sensação de desmaio. No tratamento, nos casos de recusa escolar,
o ideal é tentar fazer com que a criança retorne à escola o mais rápido
possível, de forma gradual, respeitando os limites da criança/adolescente. É de
suma importância que haja um trabalho conjunto entre terapeuta, pais e a
escola. A família deve estar ciente e empenhada em ajudar a criança/adolescente
a retomar sua autonomia.
O transtorno de ansiedade generalizada (TAG), também muito comum em
crianças, caracteriza-se por um medo excessivo generalizado. As crianças que apresentam
tal transtorno estão sempre muito tensas, ansiosas, sentem dificuldade para
relaxar, além de apresentarem traços de hiperatividade autonômica, dentre
outros. No que diz respeito ao
tratamento, é importante que haja um trabalho conjunto entre os pais e o
terapeuta.
As fobias específicas caracterizam-sepela presença de um medo
excessivo e relacionado a um determinado objeto ou situação, que não seja
situação de exposição pública ou medo de ter um ataque de pânico. Com relação à
incidência deste transtorno na infância, ele se diferencia dos medos ‘normais’
por fugir do controle da criança, e causar prejuízos à mesma.No que tange ao
tratamento das fobias específicas na infância/adolescência, de modo geral,
várias técnicas psicoterápicas podem ser utilizadas, a depender da linha do
terapeuta.
A fobia social corresponde a um medo intenso e persistente de
situações que exponham o sujeito à avaliação alheia, ou a comportamentos
‘vergonhosos’, ‘humilhantes’. Geralmente, crianças com fobia social se sentem
mal em diversas situações como, por exemplo, ler em voz alta em sala de aula,
ir a festas, e etc. Os adolescentes apresentam choro, acessos de raiva e até
mesmo acabam se afastando terminantemente das situações que os levam a sentir
esse ‘medo excessivo’. Além desses sintomas, os sujeitos podem vir a sentir
palpitações, tremores, bem como náusea, dentre outros. Com relação ao
tratamento terapêutico, não há uma vertente que se destaque mais que as outras,
cada linha tem seu modo de lidar com tal transtorno.
O transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) é caracterizado por um
conjunto de sintomas físicos, psíquicos e emocionais, com duração mínima de
mais de um mês, que geram o comprometimento das atividades do paciente. O TEPT
ocorreapós o sujeito ter sido vítima ou testemunha de atos violentos ou de
situações traumáticas que, em geral, representaram ameaça à sua vida ou à vida
de terceiros. No momento em que o indivíduo se recorda de tal acontecimento, é
como se ele revivesse esse episódio com a mesma sensação de dor e sofrimento.
As crianças, principalmente as mais novas, tendem a ter mais dificuldade para
compreender e falar sobre tais eventos traumáticos; geralmente observa-se que temas
relacionados ao trauma são representados através de brincadeiras repetitivas. Com
relação ao tratamento do TEPT, o planejamento terapêutico deve se basear a
partir da existência ou não de uma associação com outras patologias.
Por fim, é importante diferenciar um simples medo ou tensão de reações de caráter
patológico. No caso de crianças e
adolescentes, tal preocupação é ainda maior, já que, um reconhecimento precoce
de algum transtorno de ansiedade pode ajudá-la, e muito, a evitar prejuízos,
não apenas durante a infância, mas, problemas psíquicos no futuro.
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