Morbidade Hospitalar por ingestão de Esteróides Anabólico-Androgênicos (EAA) no Brasil
Resenhado por Monique Carregosa
Silva Junior, S. H. A. (2013). Morbidade Hospitalar por ingestão de Esteróides
Anabólico-Androgênicos (EAA) no Brasil. Rev Bras Med Esporte, 19,
108-111.
O
artigo em questão objetivou descrever as principais características da
morbidade por ingestão de Esteróides Anabólico-Androgênicos (EAA) no Brasil, no
período de 2000 a 2010. Para tal intento,
utilizou-se das informações dos bancos de dados informatizados do
Ministério da Saúde acerca das internações hospitalares. Essas informações
sobre as internações ocorridas estão inseridas na Autorização de Internação
Hospitalar (AIH), um instrumento preenchido nos hospitais, o qual é obrigatório
para a internação de pacientes e financiado pelo sistema público de saúde.
Com o
intuito de identificar as causas de internação e analisar a ingestão de EAA como
diagnóstico principal e secundário de hospitalização, utilizou-se os códigos
E28.1 (excesso de andrógenos), E34.5 (síndrome de resistência a andrógenos),
T38.7 (intoxicação por andrógenos e anabolizantes congêneres) e Y42.7 (efeitos
adversos de andrógenos e anabolizantes congêneres) do CID-10. Como o cálculo
das taxas de internações foi realizado com base na população residente na área,
utilizou-se os dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatistica (IBGE).
Como
resultado do estudo, encontrou-se que as hospitalizações por EAA no
Brasil, nestes 11 anos analisados, foram
responsáveis por 0,001% do total de 1.319 internações (média = 119,9, DP =
99,01), sendo o ano de 2002 o de maior índice. Como principal causa de permanência
no hospital destaca-se a síndrome de resistência a andrógenos, visto que
corresponde a 55,8% do total. Intoxicação por andrógenos e anabolizantes
congêneres e excesso de andrógenos alcançaram, respectivamente, 41,35% e 2,6%
do total de internações.
Dentre os pacientes internados, 1%
evoluiu para óbito e o tempo máximo de permanência foi de 47 dias (média = 3,8
e DP = 4,7). A média de idade foi de 27,7 anos (DP = 19,5 anos). Nos anos de
2002 a 2007, os estados de Minas Gerais, Maranhão e Espírito Santo possuíram as
maiores taxas de internações por 1.000.000 de habitantes. Já o estado do
Tocantins, em 2002, chegou a uma taxa de 8,3 por 1.000.000 de habitantes.
Assim, no geral,
pode-se concluir que os resultados do referido estudo indicaram uma
hospitalização por ingestão de EAA relativamente baixa, uma vez que mulheres e
indivíduos na faixa etária de 15 a 29 anos obtiveram as maiores taxas no
periodo estudado, 82,5% e 37,7%, respectivamente.
Em
relação às possíveis causas associadas à morbidade por ingestão de andrógenos,
constatou-se que 11,9% refere-se principalmente às condições do modo de vida.
Queda (3,3%) e estreitamento e atresia da vagina 1,4%, também foram causas
significativas.
O
autor defende que a motivação ao uso dos EAAs é, em sua maioria, de natureza
estética e que por mais que a literatura científica há tempos venha associando
essas substâncias a inúmeros malefícios, é difícil atestar que estes sejam os
principais causadores. Além disso, argumenta que a conclusão hospitalar ou
óbitos precisam ser mais claros, pois segundo ele existem poucos dados sobre o
efeito dessas substâncias ao longo da vida dos indivíduos. Isso pode justificar
o porquê da taxa de hospitalização por ingestão de EAA no Brasil ter sido
relativamente baixa, já que não ocorre o preenchimento de AIH nos atendimentos
de pronto-socorro e este grande problema não é compulsoriamente denunciado.
A
leitura é recomendada para os profissionais de saúde e estudiosos da área, visto
que revela dados importantes à luz do CID-10, bem como falhas do sistema
público de saúde como a subnotificação, o sub-registro, a falta de completitude
dos campos e a cobertura do sistema, os quais devem ser imediatamente
solucionados, a fim de que dêem dados
mais precisos e mostrem a verdadeira relevância e magnitude das doenças. Para a
Psicologia da Saúde, a importância do estudo também é notória por envolver
questões como a imagem corporal e a autoestima associadas ao uso de esteróides
anabólico-androgênicos.
Nenhum comentário: