Transtornos de ansiedade em mulheres: gênero influencia o tratamento?
Resenhado por Laís Santos
Kinrys, G., &Wygant, L. E. (2005). Revista Brasileira de Psiquiatria,
27,
43-50.
Os
transtornos de ansiedade são os mais comuns dentre os transtornos
psiquiátricos. De acordo com o DSM IV, eles se subdividem em: Fobia Social, Transtorno
do Pânico, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Ansiedade
generalizada (TAG), Agorafobia, Fobias Específicas e Transtorno de Estresse Pós-Ttraumático
(TEPT). Estudos realizados nos EUA apontam que as mulheres são mais suscetíveis
a adquirir transtornos de ansiedade. Diante de tal resultado, se faz necessário
identificar não só as características, mas também os fatores geradores de tais
transtornos.
Muitas
pesquisas estimam que os fatores genéticos, bem como sua associação com
questões ambientais, podem agir como desencadeadores desses transtornos.
Acredita-se que as variações hormonais exerçam influência no desenrolar de tais
distúrbios. Em termos práticos, as mulheres apresentam maior probabilidade de
desenvolver os seguintes transtornos: TAG (6%), Transtorno do Pânico (7,7%),
TEPT (12,5%), TOC (3,1%), Fobia Social (15,5%). Apesar dos dados quantitativos referentes
a essa questão, ainda há grande carência quanto a trabalhos que investiguem a
verdadeira causa dessa variação quanto à ocorrência de tais transtornos.
O Transtorno
de Ansiedade Generalizada, diz respeito a uma ansiedade exacerbada direcionada
a diversas atividades e questões, cujos sintomas permanecem por mais dias e por
pelo menos por seis meses. Retomando a questão de gênero, estudos apontam que
as mulheres têm duas vezes mais chances de desenvolver o TAG, e que aquelas de mais
idade (45 ou mais) tendem a estar mais propensas a adquirir tais transtornos.
Além disso, o sexo feminino está mais suscetível a desenvolver transtornos
psiquiátricos comórbidos. Em relação ao tratamento medicamentoso, por conta da
alta comorbidade com a depressão, os antidepressivos são muito prescritos, bem
como, benzodiazepínicos e diversos ansiolíticos.
O
Transtorno do Pânico é caracterizado por ataques inesperados recorrentes, além
da persistência de uma preocupação exagerada quanto à recorrência desses
ataques e/ou suas consequências. Estudos nos EUA mostram
que 4,7% das pessoas, ao longo da vida, adquirem o Transtorno do Pânico; dentre
essa porcentagem, 70% correspondem ao sexo feminino. Além disso, pesquisas
apontam que entre as mulheres os ataques de pânico ocorrem com maior frequencia
e tendem a ser concomitante com a agorafobia. Com relação à idade de início, em
geral, as mulheres acabam desencadeando esse transtorno de forma mais tardia,
em termos de idade, que os homens. De modo geral, quanto à sintomatologia
durante o ataque, as mulheres experimentam sintomas quanto à respiração. Estima-se
ainda que o gênero feminino tem maior risco de apresentar comorbidade com
outros transtornos psíquicos (fobia social, depressão, TAG, etc.), do que os
homens. O tratamento farmacológico em geral, é feito com antidepressivos
tricíclicos, benzodiazepínicos, inibidores seletivos da recaptação da
serotonina (ISRSs) e inibidores da monoamino-oxidase (IMAO).
A Fobia Social (FS) é o transtorno
de ansiedade mais comum, além de ser considerado o terceiro transtorno psíquico
mais prevalente. Ela é caracterizada como um medo exagerado a situações sociais
ou de desempenho, nas quais o sujeito é submetido a pessoas desconhecidas ou a
algum tipo de avaliação. Assim como nos outros transtornos, as mulheres têm uma
probabilidade maior (1,5 vezes) do que os homens de terem fobia social. As
mulheres apresentam mais medos sociais graves e quanto a situações especificas.
Além disso, o gênero feminino apresenta maior comorbidade com outras doenças
(agorafobia, fobia simples, por exemplo), do que o masculino.
O Transtorno Obsessivo Compulsivo
(TOC), diz respeito a obsessões entendidas como pensamentos, imagens,
persistentes, geralmente associados a questões de higiene, limpeza, que geram
sofrimento ao sujeito. Estudos apontam que após a menarca o índice de mulheres
com TOC aumenta bastante. Além disso, eles mostram que o TOC pode ser mais
episódico e menos grave para as mulheres, entretanto, pode ter um começo mais
agudo. Como dado adicional estima-se que as mulheres tenham mais ataques de
pânico e maior frequencia de obsessões de agressão após o início da doença. De
modo geral, acredita-se que o TOC tem seu início, desenvolvimento e gravidade
no que tange as mulheres, diretamente influenciados por conta dos ciclos
hormonais femininos.
O transtorno de Estresse
Pós-Traumático (TEPT) corresponde a lembranças persistentes de um trauma,
evitação constante dos estímulos associados ao evento, bem como a presença de
excitação e insensibilidade a situações gerais. As mulheres possuem duas vezes
mais chances de adquirir o TEPT ao longo da vida. A causa mais comum em mulheres
está ligada a abuso físico na infância e abuso sexual. Quanto à sintomatologia,
o sexo feminino apresenta maior probabilidade de manifestar o critério geral de
insensibilidade, assim como o de excitação generalizada. Estudos apontam que o
gênero feminino pode ter maior risco durante a gestação, em caso de TEPT.
Em suma, os dados quantitativos
apontam que há diferença quanto à manifestação dos transtornos de ansiedade,
bem como de seu desenvolvimento e gravidade. Porém, faltam estudos que revelem
de forma concreta as causas de tal distinção.
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