Coping and Psychological Distress in Mothers of Adolescents with Type 1 Diabetes



Postado por Ariane de Brito


Jaser, S.S., Linsky, R., & Grey, M. (2014). Coping and psychological distress in mothers of adolescents with type 1 diabetes. Maternal and Child Health Journal, 18, 101–108. doi: 10.1007/s10995-013-1239-4


Cuidadores, especialmente mães, de filhos diabéticos tipo 1, costumam relatar altos níveis de estresse relacionado com a carga do gerenciamento do tratamento da doença do filho, e esse estresse tem sido associado ao aumento do risco de depressão e ansiedade. O diabetes tipo 1 (DM1) é uma das doenças crônicas mais comuns na infância, afetando aproximadamente 1 em cada 400 crianças, incidência esta que vem aumentando a cada dia. O estresse e os sintomas depressivos maternos estão ligados à resultados negativos no controle glicêmico, na qualidade de vida e no aumento de sintomas depressivos em adolescentes DM1.
Sabe-se que os pais (mãe e pai) desempenham um papel importante no controle do diabetes do filho, no entanto, são as mães as que normalmente ficam responsáveis pela maioria da gestão do tratamento, sendo elas as que também sofrem maior estresse (em comparação com os pais) relacionado com a '' vigilância constante '' de cuidar de uma criança/adolescente com diabetes. Alguns dos estressores comuns nesse contexto incluem: gestão de alimentos, conflitos familiares relacionados com o diabetes, administração de insulina e monitoramento de glicose no sangue. Além disso, as mães também relatam a preocupação com os níveis de açúcar no sangue de seus filhos (hiper e hipoglicemia) que podem levar a complicações a longo prazo; e a dificuldade em aprender e dominar o regime de tratamento do diabetes.
Os elevados níveis de estresse materno relacionado ao diabetes do filho estão associados com o aumentado do risco de depressão e ansiedade, com taxas de sintomas clinicamente significativos frequentemente relatados entre 20 e 30% das mães, variando para 74% entre pais de crianças recém-diagnosticadas. Características demográficas das mães tais como cor de pele (preta), renda (baixa), estado civil (solteira) e estrutura familiar (monoparental) têm sido associadas a maior vulnerabilidade de estresse (relacionado ao diabetes) dessas mães.
Apesar da necessidade de compreender como as mães lidam com o estresse relacionado ao diabetes de seus filhos, poucos estudos examinaram explicitamente o enfrentamento (coping) dessa população. Diante disso, o objetivo do presente estudo foi descrever o enfrentamento de mães de adolescentes DM1 e como o coping está relacionado com a adaptação materna e infantil. A hipótese que norteou o trabalho foi a de que o uso do enfrentamento, engajamento das mães, estaria relacionado com menos sintomas de ansiedade e depressão e um melhor ajuste do adolescente à doença. Por fim, com base no Modelo Transacional do Estresse e Coping, foi testado se o enfrentamento media a relação entre estresse (relacionado ao diabetes) e ajustamento psicológico materno e conflitos familiares.
Foram participantes 118 adolescentes com idade entre 10 e 16 anos e com diagnóstico mínimo de DM1 de 6 meses; e suas mães. Todas moravam com seus filhos. O estudo foi aprovado pelo Programa de Proteção e Pesquisa com Seres Humanos da Universidade de Yale (Institutional Review Board), e realizado durante uma visita de rotina à clínicas ambulatoriais de diabetes. As mães responderam um questionário demográfico contendo também questões clínicas sobre o diabetes do filho, o Questionário de Resposta ao Estresse (RSQ), Escala de Depressão do Centro de Estudos
Epidemiológicos (CES-D), Inventário de Ansiedade Traço-Estado (IDATE), e Escala de Conflito e Responsabilidade com o Diabetes (RDC). Os adolescentes responderam ao Inventário de Qualidade de Vida Pediátrica (que avalia a qualidade de vida em crianças com condições crônicas de saúde) e o Inventário de Depressão Infantil (CDI). O controle glicêmico foi medido a partir da hemoglobina glicosilada (HbA1c) do adolescente, dado este obtido no prontuário clínico do mesmo.
Os resultados demonstraram que todas as mães da amostra pesquisada relataram algum nível de estresse relacionado ao diabetes no RSQ (pontuação variando entre 5 e 22 pontos; M = 12,4; DP = 3,4). Cerca de 18% das mães pontuaram acima do ponto de corte clínico para a depressão (M = 10,2; DP = 8,3) na CES-D; e aproximadamente 13% das mães pontuaram acima do ponto de corte clínico para a ansiedade (M = 32,4; DP = 9,3).
Em relação ao coping e as diferenças demográficas, observou-se que mães de cor de pele preta usam mais estratégias de enfrentamento (M = 14,1) do que as mães de cor de pele branca (M = 12,2; F (1, 107) = 6,32; p = 0,013). O mesmo aconteceu para o estado civil: mães divorciadas usam significativamente mais estratégias de enfrentamento (M = 14,1) do que as mães casadas ou com união estável (M = 12,1; F (1, 109) = 8,35; p = 0,005). Não foram encontradas diferenças demográficas no uso de controle primário ou secundário de estratégias de enfrentamento; o enfrentamento materno não estava relacionado com o sexo da criança, escolaridade materna, renda familiar, ou o tipo de terapêutica com insulina (vs. bomba de injeção). A idade da criança e a duração do diabetes também não foram significativamente relacionados com o enfrentamento materno ou qualquer uma das variáveis desfechos.
As análises de correlação bivariadas indicaram, contrariamente a hipótese do estudo, que enfrentamento materno não foi significativamente relacionado com quaisquer resultados nos adolescentes. No entanto, os sintomas depressivos maternos foram associados com pior qualidade de vida dos adolescentes (r = - 0,22, p = 0,023). Além disso, conflito familiar esteve relacionado a maiores sintomas depressivos em adolescentes (r = 0,20, p = 0,032) e, notavelmente, para o controle da glicemia (r = 0,43, p < 0,001). Além disso, através de regressão linear, constatou-se que o uso de estratégias de enfrentamento de controle secundário, como aceitação e distração das mães, media a relação entre estresse relacionada ao diabetes e distúrbios psíquicos (depressão e ansiedade), e a relação entre estresse relacionada ao diabetes e conflitos familiares.
Modelos baseados no controle do coping sugerem que as estratégias de enfrentamento mais adaptáveis são as estratégias combinadas para o nível individual de controle percebido. Isso porque o estresse do DM1 é em grande parte incontrolável por mães de adolescentes, que pode não ser capazes de acompanhar a gestão do diabetes de perto durante este período do desenvolvimento, onde é natural o aumento da independência, sendo, portanto, o uso de estratégias de enfrentamento de controle secundárias, tais como a aceitação e o pensamento positivo, as que podem ser mostrar mais adaptativas. Não foram encontradas relações diretas entre coping materno e ajuste psicossocial dos adolescentes ou controle glicêmico.
Como limitações do estudos são apontadas: o corte transversal, que acabou não permitindo verdadeiros testes de mediação; o bom controle glicêmico dos adolescentes participantes e o elevado status socioeconômico das famílias, os quais limitam a generalização dos resultados encontrados. Diante disso, mais estudos são necessários para replicar tais descobertas numa amostra mais diversificada da população, para maiores esclarecimentos sobre o tema e o desenvolvimento de estratégias que ajudem as mães a lidarem de modo mais eficaz com o estresse relacionado ao diabetes, maximizando seus ajustamentos e os dos adolescentes DM1.

Nenhum comentário:

Tecnologia do Blogger.