Envolvimento Religioso e Bem-Estar Subjetivo em Idosos

Resenhado por Brenda C.
       
Cardoso, M. C. S., & Ferreira, M. C. (2009). Envolvimento Religioso e Bem-Estar Subjetivo em Idosos. Psicologia Ciência e Profissão, 29 (2), 380-393.

A longevidade tem aumentado consideravelmente nas últimas décadas e com isso tem crescido o número de idosos. É comum também a presença de visões negativas sobre a velhice, geralmente fazendo associação à degeneração progressiva e irreversível. Diante desse quadro, a OMS (2002) preocupou-se em promover medidas que aproveitassem as competências de idosos, melhorando também sua qualidade de vida física e social.

Atualmente, estudos sobre qualidade de vida têm se preocupado com critérios de julgamento pessoal, tais como o nível de bem-estar e satisfação com a vida, ao invés de visar somente indicadores objetivos (econômicos e/ou sociodemográficos) que apenas descrevem as condições de vida do sujeito. Esses critérios de julgamento pessoal foram denominados Bem-Estar Subjetivo, e, por sua vez, a religião destaca-se entre as variáveis sociodemográficas que mais interferem nesse construto. Sendo a religiosidade um fator altamente benéfico capaz de contribuir para a manutenção do bem-estar, integração psicossocial e até mesmo para melhorias cognitivas dos idosos, o presente estudo buscou em primeiro plano investigar as inter-relações do envolvimento religioso com o bem-estar subjetivo em idosos. Procurou também verificar, em amostras brasileiras de idosos, as características psicométricas das três diferentes escalas: Escala de Satisfação com a Vida, Escala de Afetos Positivos e Negativos e Escala de Envolvimento Religioso.

A amostra foi composta de 256 idosos, destes 197 eram mulheres, todos com idades entre 60 e 87 anos, 43,8% eram católicos, todos residentes na cidade do Rio de Janeiro. Para a avaliação de satisfação com a vida foi utilizado um questionário com 28 itens adaptados das Escalas de Lawton (1975) e de Neugarten, Havighurst e Tobin (1961). Foi adotada também a Escala PANAS, de autoria de Watson, Clark e Tellegen (1988), para medir afetos positivos e negativos, com 20 itens. A avaliação de religiosidade foi realizada através da escala de Chatterset al. (1992), com 12 itens distribuídos em três fatores: religiosidade organizacional, religiosidade não-organizacional, e religiosidade subjetiva.

A Escala de Satisfação com a Vida obteve um coeficiente Alfa de Cronbach igual a 0,76. A escala foi corrigida no sentido da satisfação, ou seja, quanto maior o escore, maior a satisfação com a própria vida. Na Escala de Afetos Positivos e Negativos (PANAS), obtiveram-se coeficientes Alfa de Cronbach iguais a 0,79 e 0,70, respectivamente. Tais fatores foram corrigidos no sentido da característica mensurada, e, assim, quanto maior o resultado, maior o grau daquela característica. A Escala de Envolvimento Religioso obteve os coeficientes Alfa de Cronbach iguais a 0,73 e 0,69, respectivamente. Os resultados mostram que as escalas validadas são precisas, podendo ser utilizadas na etapa de análise dos dados da pesquisa.

A análise dos dados evidenciou uma correlação positiva entre religiosidade subjetiva e satisfação com a vida em idosos. Para explicar esse resultado, os pesquisadores citaram Ellison (1991) que afirmou que a religiosidade subjetiva atuaria tanto em nível cognitivo quanto afetivo, ou seja, influenciaria a percepção de mundo do indivíduo, levando-o, assim, a experimentar maiores níveis de satisfação com a vida e de afetos positivos e negativos. Os autores ressaltaram a importância de novas pesquisas que se aprofundem o estudo dos fatores que interferem no bem-estar subjetivo de idosos, sugerindo a análise em outros grupos religiosos, em faixas etárias mais amplas e em idosos com perfis distintos (ativos, sedentários, asilados, não asilados, etc.).

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