Concepções sobre morte e luto: Experiência feminina sobre a perda gestacional

Resenhado por Joelma Araújo

Lemos, L. F. S., & Cunha, A. C. B. (2015). Conceptions of death and grieving: eminine experience of miscarriage. Psicologia: Ciência e Profissão, 35(4), 1120-1138. 

            Enfrentar a morte de um filho antes mesmo do nascimento é algo traumatizante, significa uma grande perda para os pais, familiares, principalmente para a mãe que sofreu diversas  transformações em seu corpo decorrentes da gravidez. A mulher enlutada sofre ao ver ir embora seus planos e sonhos, principalmente se for o primeiro bebê, e se torna ansiosa diante da possibilidade de uma nova gestação, com medo de não conseguir gerar um filho saudável, se sentindo muitas vezes incapaz de ser mãe. Pelo fato de haver uma construção social do papel feminino concretizado na maternidade, a mulher pode se sentir incompleta e inferior, além de experimentar sentimento de culpa. Já em relação ao homem é exigido que este exerça o papel de forte, de ser suporte para a esposa, por isso muitos destes respondem de forma mais controlada diante da perda gestacional.
O luto enfrentado pelas mães é um processo doloroso que consiste em um reajustamento do psicológico da mulher e de toda a família. Neste processo o sujeito enlutado substitui certos esquemas por outros (Bousso, 2011). Ou seja, não se retorna ao estado de antes,mas se reinventa um novo. Assim, o luto que estaria dentro do grau de normalidade segundo Freitas (2000) seria o que permite o surgimento de novos vínculos substitutivos, promovido pelo engajamento em novas atividades e apoio social. Já o considerado patológico é aquele que a partir do qual há grande investimento afetivo em um vínculo com alguém que não poderá corresponder, o que acarreta em reações que levam ao desequilíbrio emocional e ao adoecimento. Nazaré et al. (2010) classifica certas reações apresentadas por pessoas enlutadas são elas – as manifestações emocionais, cognitivas, comportamentais e fisiológicas. Contudo, é importante ressaltar que cada pessoa tem suas particularidades, por isso cada um terá sua maneira diferente de enfrentar esse momento.
            Levando em consideração o processo doloroso que as mães passam ao perderem seu bebê, a equipe de assistência à saúde não deve apenas tratar a dor física, mas tentar compreender os aspectos cognitivos e emocionais envolvidos no momento de dor que a mãe se encontra, dedicando a atenção e cuidados necessários à mesma e ao esposo. Com isso, realizou-se uma pesquisa qualitativa com 11 mulheres internadas no alojamento conjunto de uma maternidade pública, localizada na cidade do Rio de Janeiro. Foram aplicadas entrevistas abertas e os relatos verbais foram analisados de acordo com a Metodologia de Análise de Conteúdo de Bardin.

            Com os resultados pode-se observar que as mulheres vivenciam momentos de reações de choque e negação, seguido de um estado de humor deprimido, desmotivação, autoestima baixa e medo de novas perdas. Também se evidencia a importância do suporte familiar e da atuação empática da equipe de saúde como essenciais para ajudar no processo de elaboração do luto. Dessa forma, cabe ao profissional de psicologia  atuar juntamente aos outros profissionais da saúde no sentido de sensibilizá-los para a assistência humanizada além de oferecer suporte psicológico às pacientes e aos seus familiares. 

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