Padrões Especiais de Luto em mães que perderam filhos por morte súbita
Resenhado por Sara Andrade
Almeida, E. J. Haas, E. I. & Santos, S. G. (2011). Padrões especiais
de luto em mães que perderam filhos por morte súbita. Revista de psicologia da IMED. São Paulo. v. 3, 607-616.
É sabido que a morte é uma das situações
experienciadas que mais proporciona questionamentos acerca do sentido da vida e
da existência. Sendo esta uma situação dramática, é comum associá-la à
necessidade de ajustamento e adaptação às novas informações para uma posterior
acomodação das mudanças decorrentes dela no âmbito interno e externo da vida do
indivíduo.
Dentre as principais ocorrências provenientes do
crescimento urbano e populacional, situam-se a violência e os acidentes como,
por exemplo, a morte de jovens no trânsito e por homicídio, acontecimentos
desencadeantes do luto materno. Mesmo compreendendo que a adaptação às
situações adversas é um fenômeno comum no desenvolvimento das pessoas, se
verifica que situações estressoras muito intensas demandam uma acomodação mais
lenta e difícil.
Segundo Gonzaga (2006) não há dor mais terrível que
a vivenciada e sentida pela perda de um filho, na medida em que afeta vínculos
de afeto singulares, contraria a expectativa do ciclo de vida familiar e
social, e provoca rupturas em todo o sistema, também afetando cada um dos
integrantes do mesmo. O tipo de perda súbita exige de cada familiar uma elaboração
mais complexa do que a exigida em outros tipos de luto. Neste estudo, objetivou-se
identificar os padrões especiais de luto (PEL) presentes nos repertórios
comportamentais de mães enlutadas pela perda de um filho por acidente de
trânsito ou homicídio, a fim de ampliar os conhecimentos empíricos para a prática
de profissionais da saúde no acolhimento, aconselhamento e apoio dessas mães.
O
estudioso do luto, Willian Worden (1998), elencou oito Padrões Especiais de
Luto por morte súbita (PEL) expressos nas seguintes manifestações: 1) sensação
de irrealidade sobre a perda; 2) exacerbação de fortes sentimentos de culpa; 3)
desejo extremamente forte de censurar alguém pelo que aconteceu; 4) frequente
envolvimento com autoridades médicas e legais, dificultando o processo e
conclusão do luto; 5) sensação de desamparo; 6) depressão agitada; 7) preocupação
por sensação de um trabalho não-terminado; 8) interesse especial crescente e
necessidade de compreensão da morte.
Participaram da amostra 22 mães, com idades entre 38
e 74 anos, participantes
dos grupos de apoio do Programa Vida Urgente, desenvolvido pela Fundação Thiago
de Moraes Gonzaga. Dezoito das
mães participantes perderam seus filhos em decorrência de acidente de trânsito
e quatro por homicídio. Quinze dos filhos eram do sexo masculino e sete do sexo
feminino, com idade entre 14 anos e 28. Para obter informações sobre os PEL foi
construída uma escala, fundamentada no referencial teórico de Worden (1998),
formada por 51 itens no total, dos quais para este estudo foram considerados os
itens 1 a 14, que se referiam aos oito padrões especiais de luto por morte
súbita.
Os
resultados demonstraram que 92% das mães apresentam manifestações relacionadas
a pelo menos um dos PEL e as manifestações que mais ocorreram foram relativas
aos padrões seis (63,5%), sete (54,5%), um e oito (50%), e cinco (45,5%). Em
suma, estes dados corroboram a ideia de que os padrões e manifestações de luto,
nas mães estudadas, surgem de uma percepção realista e inesperada provocada por
um grave evento externo que repercutiu na morte do filho, e não da distorção da
realidade provocada pela depressão (Moorey, 2005). Visto isso, os autores, recomendam
mais estudos com a escala, a fim de auxiliar os profissionais no manejo do luto
materno.
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