Luto: A perda de alguém muito querido e as dificuldades do processo
Postado
por Maisa Carvalho
Dentre
as experiências mais traumáticas da vida, a morte de um ente querido é tida
como uma das mais difíceis e dolorosas. As alterações emocionais que ocorrem neste
contexto podem afetar os demais sistemas - tais como individual, familiar,
social, trabalho – da vida de um indivíduo, fazendo-o adentrar no processo de
luto. O meio científico costuma dividir o luto em cinco fases, sendo elas:
negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Contudo, é sabido que o luto é
um processo natural, complexo, dinâmico, fluído, adaptativo e, sobretudo,
subjetivo, e, portanto, nem todos passam por todas estas fases. Por fim, assim
como em outras vivências, é relevante o papel do suporte social de pessoas
queridas no processo do luto, posto que a sensibilidade emocional costuma estar
mais ampliada neste momento e, em razão disto, as pessoas tornam-se mais
vulneráveis a doenças como depressão e outros transtornos mentais.
O luto é um processo psíquico de elaboração de uma perda a partir do rompimento de um vínculo significativo. A dor pela perda de alguém que se ama é algo subjetivo e pessoal. Depende de uma série de fatores que mudam de relação para relação. Cada dor é única e como não se sabe exatamente o que acontece depois que alguém morre, quem fica tem o grande desafio de renascer de uma dor profunda. “A morte de um cônjuge, por exemplo, traz mudanças na vida do parceiro, que terá que aprender a conviver com a ausência física daquela pessoa. E as mudanças acontecem desde aspectos práticos do dia a dia, até os subjetivos que permeiam a relação”, explica a psicóloga Juliana Guimarães, especialista em luto e sócia da clínica EntreSeres. Quando a perda é repentina, como no caso de acidentes, ou latrocínios, existe o fator do inesperado, que pode dificultar o processo de luto, pois quem fica não tem a chance de se despedir, de fechar ciclos, resgatar histórias passadas não digeridas, e outras oportunidades. “Essas oportunidades podem ajudar no processo de enfrentamento da perda, mas não se pode afirmar que a morte repentina é pior ou melhor do que uma longa despedida, no caso de alguém doente”, explica Juliana. “Cada luto é único, porque cada relação é única, e quando falamos em vínculo estamos falando de algo muito pessoal, como por exemplo, o lugar que aquela pessoa ocupava em cada uma de suas relações”.As fases do lutoO conceito de fases do luto surgiu para ajudar na compreensão desse processo complexo que é o enfrentamento de uma perda. Diversos estudos científicos elencaram comportamentos e emoções que costumam ser comuns aos enlutados. “Nem todo mundo sente tudo, passa por ‘todas as fases’. O luto é um processo dinâmico e fluido”. Mas dentre os comportamentos e emoções que costumam aparecer estão: Negação: entorpecimento, com atitudes de choque, descrença e mecanismos de defesa da negação que costumam acontecer em um primeiro momento após a perda; Protesto: na medida em que surge a consciência da perda estariam manifestações de raiva, protesto e busca pela pessoa perdida. Essa fase também pode ser marcada por desorganização, desespero, melancolia, raiva e culpa. Reestruturação - quando o enlutado adquire mais tolerância às mudanças e consegue se reorganizar. O apoio social, de amigos e familiares, é um potente recurso nesse processo. “Oferecer ajuda na parte burocrática dos rituais, cuidados com alimentação e hidratação, disponibilidade para estar com aquela pessoa nos momentos em que ela precisar, manifestações de carinho, suporte no retorno à rotina, são movimentos que amigos de enlutados podem fazer para ajudar”, diz Juliana. “O enlutado precisa estar cercado de amor e de presenças que deem a ele sensação de segurança, que é uma das coisas mais abaladas quando perdemos alguém ou algo muito importante para nós”. O luto é um processo que transforma as pessoas, que pede delas uma revisão da vida, ressignificando alguns aspectos. Passar pelo luto não é fácil, mas é possível sair dele transformado, com mais aprendizado e com mais recursos para se enfrentar dores.
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