Por que a regulação emocional é importante?
Leahy, R. L., Tirch, D., & Napolitano, L. A.
(2013). Por
que a regulação emocional é importante? In Leahy, R. L., Tirch, D., &
Napolitano, L. A. (Eds.), Regulação emocional em psicoterapia - Um guia para
o terapeuta cognitivo-comportamental (pp. 20-36). Artmed.
Resenhado
por Maísa Carvalho.
Quando
as pessoas pensam em momentos marcantes em suas vidas, sejam eles bons ou
ruins, conseguem descrevê-los quase que perfeitamente por terem sido marcados
por emoções. Elas, tão importantes, possuem um papel relevante ao longo do
processo evolutivo, pois prepararam os seres humanos para agir rapidamente com
o objetivo de evitar o perigo, preservando a existência. Descritas como
processos complexos, as emoções são provocadas por estímulos e eventos
específicos (internos e externos), possuindo um caráter momentâneo (durando
segundos ou minutos) e mobilizando os indivíduos para a ação ou inação.
Entretanto, ainda que todos os seres humanos possuam a capacidade de sentir
emoções, nem todos conseguem regulá-las de forma adaptativa ou funcional,
gerando impactos na saúde física e mental. Logo, o capítulo objetivou discorrer
sobre a importância da regulação emocional na vida das pessoas e como ela pode
estar associada a psicopatologias.
A
regulação emocional é entendida como o processo de controle, monitoramento e
avaliação das reações emocionais, incluindo qualquer estratégia de
enfrentamento (adaptativa ou problemática) que deve ser analisada dentro de um
contexto ou de uma situação. Em contrapartida, desregulação emocional é a
inabilidade de lidar com as experiências ou processar emoções, manifestada
tanto em uma intensificação ou desativação excessiva dessas. Para ilustrar os
dois processos, pode-se pensar em duas situações hipotéticas: duas pessoas
diferentes passaram por términos de relacionamentos. Uma delas apresenta-se
triste e com raiva, expressando essas emoções para pessoas próximas e buscando
suporte para enfrentar a situação. A outra pessoa apresenta as mesmas emoções,
mas busca suprimi-las e utiliza jogos e bebidas alcóolicas como válvula de
escape. Ambas apresentaram estratégias de enfrentamento, todavia, a primeira
pessoa apresentou uma estratégia de regulação emocional adaptativa, aceitando
as emoções e buscando suporte social; a segunda utilizou-se de uma estratégia
problemática, evitando a experiência emocional. Caso ela apresente um padrão
semelhante para diferentes situações, tem-se a presença da desregulação
emocional.
O
exemplo supracitado ilustrou diferentes desfechos envolvendo a regulação
emocional. Estudos mostram que padrões desadaptativos ou de desregulação
emocional estão associados a dificuldades emocionais e, sobretudo, ao
desenvolvimento de diferentes psicopatologias, como transtornos depressivos,
transtornos de ansiedade, transtornos alimentares e transtornos da
personalidade, a exemplo do transtorno de personalidade borderline. Comportamento de risco a exemplo da a automutilação e
comportamento suicida também são comumente atrelados.
As
emoções motivam as pessoas a mudar, a conectar-se com outros e a promover uma
vida mais significativa. A forma como os indivíduos concebem e lidam com as
emoções, ou seja, como aprendem a regulá-la, está associada à socialização
emocional. Essa socialização acontece em toda a vida, porém tem uma importância
maior na infância, pois as pessoas aprendem com pessoas importantes (familiares
e outras pessoas significativas) o que pensam sobre sentir e como manejar suas
emoções. Caso a infância seja atravessada por sucessivas experiências de
invalidação emocional, é possível que um padrão de desregulação emocional seja
estabelecido, o que aumenta a vulnerabilidade a psicopatologias. A partir do
exposto, pesquisas em Psicologia da Saúde são relevantes para mapear o quanto a
regulação e a desregulação emocional podem ser determinantes nos processos que
envolvem a saúde mental, especialmente no desenvolvimento de transtornos
psicológicos.
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