Resiliência e características demográficas prevendo distresse durante a crise de COVID-19
Kimhi, S.,
Marciano, H., Eshel, Y., & Adini, B. (2020). Resilience and demographic
characteristics predicting distress during the COVID-19 crisis. Social
Science & Medicine, 265, 1-6. DOI: 0.1016/j.socscimed.2020.113389
Resenhado
por Luanna Silva
A
pandemia provocada pelo novo coronavírus causou mudanças em quase todos os
aspectos da vida das pessoas, e embora não se saiba quando essa crise em saúde
irá acabar ou quais os seus efeitos a longo prazo, já se sabe que indivíduos,
nas mais diversas localidades geográficas, têm vivenciado distresse em função
da Covid-19. As características próprias do vírus, tal como elevado risco de transmissibilidade
e falta, até o momento, de cura, podem ocasionar uma sensação contínua de
perigo, a qual pode vir a influenciar negativamente o modo como as pessoas
reagem. Diante disso, esse artigo propõe a seguinte questão de pesquisa: até
que ponto a resiliência, o bem-estar e as características demográficas predizem
os sintomas de distresse e a sensação de perigo?
Resiliência
é definida como a habilidade de se recuperar de experiências difíceis, se
adaptar com sucesso às adversidades, ameaças ou fontes de estresse. Os três
tipos de resiliência mais frequentemente investigados são a individual,
comunitária e nacional. Estudos anteriores demonstraram que dentre essas três
categorias, a individual apresentou maior capacidade preditiva em relação ao
distresse por causa da Covid-19. Quanto, ao bem-estar, caracterizado pela sensação
subjetiva de saúde e percepção positiva da qualidade de vida de um indivíduo,
evidências demonstram associação negativa com sintomas de distresse. Por fim,
pesquisas anteriores mostraram que as características demográficas de idade,
sexo e renda familiar são capazes de prever estresse e resiliência, principalmente
no contexto de ameaças à segurança.
Essa
pesquisa contou com 1346 participantes, com idade entre 18 e 71 anos,
residentes em Israel. A coleta foi conduzida de modo online e foram aplicados a
Sense of Danger Scale, Brief Symptom Inventory, Connor-Davidson
Scale, Community Resilience Scale, National Resilience Scale, Recovery from War
Scale e questionário de dados sociodemográficos. Os resultados mostraram
que níveis mais altos de resiliência individual e bem-estar previram menor sensação
de perigo e sintomas de distresse. Ser mais velho, mulher, ser parte de grandes
comunidades e apresentar dificuldades econômicas, por conta da pandemia, previu
maior sensação de perigo e distresse. A
renda familiar mais baixa, em relação à renda familiar média em Israel, previu
níveis mais altos de sensação de perigo, mas não previu de modo
estatisticamente significativo os sintomas de distresse. Em comparação com
o modelo no qual eles não foram incluídos, a resiliência comunitária e nacional
não adicionou valor estatisticamente significativo à variância explicada tanto para
a sensação de perigo quanto para os sintomas de distresse.
Esse
estudo investigou fatores com poder de predizer distresse e sensação de perigo
em meio a pandemia da Covid-19, tendo identificado resiliência, bem-estar,
gênero, idade, tamanho da comunidade e situação econômica como indicadores
estatisticamente significativos. Uma vez que, o novo coronavírus ainda é uma
ameaça presente, e considerando a possibilidade de ocorrência de novas
pandemias no futuro, é importante que a Psicologia da Saúde se dedique a
investigar características que possam vir a influenciar o modo como as pessoas
lidam com situações como essa. Assim como desenvolva estratégias de
intervenções que colaborem com a adaptação às adversidades enfrentadas nessas
condições.
Nenhum comentário: