Fatores de risco para transtornos alimentares: Uma área em desenvolvimento
Appolinario, J. C.,
& Hay, P. (2021). Risk factors for eating disorders: a work in progress.
Brazilian Journal of Psychiatry. https://doi.org/10.1590/1516-4446-2021-1749
Resenhado por Luiz Guilherme Lima Silva
Sabe-se que existem diversos
fatores de risco para diferentes tipos de patologias. Porém, no senso comum
pode haver confusão com o significado desse termo, que remete a uma ou mais características
que aumentam a probabilidade que um indivíduo tem de desenvolver quadros
patológicos. Há duas características fundamentais em relação ao fator de risco:
a primeira é que deve estar presente antes do desenvolvimento do quadro, e a
segunda se refere à divisão da população em alto e baixo risco. Existem dois
tipos de fatores de risco: os marcadores fixos, que não podem ser alterados,
como etnia e sexo, e os fatores de risco variáveis – um comportamento ou uma
crença por exemplo –, que podem ser alterados com ou sem intervenção. Os
fatores de risco que diminuem ou aumentam a probabilidade de um desfecho são
denominados fatores de risco causais.
Existe literatura crescente
em relação aos fatores de risco de transtornos mentais, sobretudo os
transtornos alimentares, como anorexia nervosa (AN), bulimia e compulsão
alimentar (CA). Os transtornos mentais são caracterizados pela ocorrência multidimensional
dos fatores de risco, ou seja, para que se desenvolva um quadro
psicopatológico, existem fatores biológicos, ambientais, sociais e/ou
psicológicos, por exemplo. A literatura sugere que existem bases genéticas e
hereditárias relativas aos transtornos alimentares. A AN está associada a
estudos de neurotransmissores específicos, hormônios metabólicos, resposta
inflamatória e aos sistemas imunológico e neuroendócrino. A bulimia tem
associação com o polimorfismo de hormônios metabólicos e genes relacionados à
obesidade. Em diversos estudos, a CA teve associação com neurotransmissores
serotoninérgicos, dopaminérgicos e de opioides.
Os fatores de risco
ambientais mais apontados por estudos longitudinais com relação aos transtornos
alimentares foram a idealização da magreza, a pressão por ser magro (a),
insatisfação com o corpo, presença de afetos negativos e adoção de dietas
restritivas. Ressalta-se que a literatura acerca dos fatores de risco
relacionados a esse tipo de quadro psicopatológico ainda está em
desenvolvimento e, por isso, conta com poucas evidências sobre as características
ambientais até o presente momento.
Os transtornos alimentares
são uma classe de transtornos que apresentam poucos estudos relativos aos seus
fatores de risco e, por isso, demanda atenção dos pesquisadores. A Psicologia
da Saúde, como campo teórico que considera o desenvolvimento multidimensional
de quadros patológicos, pode contribuir com o corpo científico ao incentivar pesquisas
com populações-chave, a exemplo de adolescentes e jovens adultos, visto que
predominam os transtornos alimentares nessa faixa de desenvolvimento para
melhor compreender o fenômeno e prevenir a aparição de tais transtornos. Outra
forma de incrementar o campo de estudos sobre transtornos alimentares é a
realização de revisões de literatura a fim de sintetizar e dar maior
direcionamento àqueles que se encontram no âmbito clínico. Dessa forma, as
intervenções podem ser baseadas em evidências e podem ser mais eficazes.
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