Dinâmica temporal do insight no Transtorno Dismórfico Corporal: Um estudo de avaliação ecológica momentânea

Schulte, J., Dietel, F. A., Wilhelm, S., Nestler, S., & Buhlmann, U. (2021). Temporal dynamics of insight in body dysmorphic disorder: An ecological momentary assessment study. Journal of Abnormal Psychology, 130(4), 365–376. https://doi.org/10.1037/abn0000673

Resenhado por Ana Beatriz Silveira

Segundo a Associação Americana de Psiquiatria (APA), o transtorno dismórfico corporal (TDC) é um transtorno mental prevalente e debilitante que é caracterizado por uma preocupação com falhas e defeitos de aparência percebidos, muitas vezes focados na pele, no rosto e no cabelo. Esse transtorno envolve preocupações excessivas sobre várias partes do corpo e crenças disfuncionais relacionadas à aparência, como parecer “feio” ou “anormal”. Uma das mais marcantes características da cognição relacionadas ao TDC é o insight, que é a convicção nas crenças sobre a aparência e a capacidade de reconhecer que as próprias crenças podem ou não ser verdade (APA, 2013), o que o torna aspecto de particular importância terapêutica e diagnóstica. Sendo assim, o insight foi o foco do estudo em questão, sendo analisado através da avaliação ecológica momentânea, que consiste em medições das mudanças momentâneas ao longo do dia do indivíduo por meio de um smartphone.

O estudo avaliou dois grupos e foi conduzido na Universidade de Münster entre abril de 2016 e 2018. O primeiro grupo foi composto por 30 indivíduos com TDC, de 18 a 65 anos. Os critérios de inclusão foram: ter diagnóstico primário atual de TDC, não ter nenhum histórico ou diagnóstico de anorexia nervosa, transtorno de personalidade limítrofe, transtorno bipolar ou esquizofrenia e não estar usando benzodiazepínicos ou ter mudado a medicação psicotrópica dois meses antes e durante o estudo. Já o grupo controle foi composto por 30 pessoas mentalmente saudáveis de 18 a 65 anos. Os participantes monitoraram os próprios insights (divididos nas dimensões convicção, percepção da visão dos outros, ideias de referência, distresse relacionado às crenças e interferência relacionada às crenças), sua autoestima e seus afetos por seis dias, incluindo no plano de monitoração a gravação contingente de intervalo (avaliação matinal e noturna) e gravação contingente de sinal (oito comandos semi-aleatórios diários avaliados a cada 30 minutos durantes um intervalo de oito horas). Além disso, após o monitoramento, os participantes responderam a questionários sobre seus níveis de carga e de reatividade aos comandos.

Uma substancial variabilidade intraindividual nas dimensões do insight em TDC foi encontrada, havendo flutuações consideráveis ao longo dos seis dias. Apesar de essas flutuações terem ocorrido de forma semelhante em ambos os grupos, o grupo com TDC foi convencido da visibilidade de suas falhas percebidas por períodos de tempo mais longos do que o grupo controle. A convicção foi um aspecto que obteve variabilidade ao longo do tempo nos dois grupos, mostrando que no grupo controle há também preocupações sobre a aparência que se mantém com convicção e que podem interferir na vida diária. No tocante à relação do insight com a autoestima e o afeto, um insight mais pobre refletido em todas as dimensões do insight co-ocorreu com mais afeto negativo, menos afeto positivo e baixa autoestima no grupo com TDC. No grupo controle, não houve predição dos insights através do tempo em relação a esses aspectos. Assim, os resultados reforçaram a ideia de que o insight é contínuo e situacional e de que a autoestima é um foco interessante para intervenções no início do tratamento. Com isso, o estudo mostra-se relevante para a Psicologia da Saúde, visto que traz informações interessantes para o diagnóstico e para a intervenção no TDC, promovendo assim avanços na promoção de saúde física e mental.

 


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