Associações entre afetos positivos e negativos e o modo como pessoas percebem seus objetivos em saúde
Plys, E., & Desrichard, O. (2020).
Associations between positive and negative affect and the way people perceive
their health goals. Frontiers in Psychology, 11, 334. https://doi.org/10.3389/fpsyg.2020.00334
Resenhado por
Lucas Souza
É sabido que a vivência de sintomas
depressivos ou de humor cronicamente reduzido está relacionada com a menor
adoção de hábitos positivos em saúde. Este estudo objetivou avaliar o impacto
da presença de afetos negativos e positivos na percepção de metas em saúde e os
meios relacionados. A hipótese a ser testada foi de que afetos negativos levariam
a percepções que impediriam a adoção e busca de metas em saúde. No raciocínio
inverso, foi esperado que os afetos positivos levariam a percepções que promoveriam
a busca e adoção dessas metas.
Foram realizados três estudos. O
primeiro explorou as relações entre a vivência de afetos positivos e negativos
e as percepções de metas em saúde. Foram avaliados 97 participantes (57,7%
mulheres), com idade média de 40,0 anos (DP = 11,94), que moram na França. Para
acessar a vivência afetiva foi utilizado o instrumento Positive and Negative
Affect Schedule (PANAS), que contém 20 itens formados por escala do tipo likert.
As metas em saúde foram acessadas através do instrumento Personal Project
Analysis (PPA), que avalia metas pessoais baseadas em dimensões como importância
do objetivo, dificuldade do objetivo, prazer em trabalhar no objetivo, controle
percebido, entre outros. Os
estudos 2 e 3 voltaram-se para avaliar as relações entre as metas em saúde com
os afetos positivos e negativos, agora avaliados com traço e como estado. Para
mensurar as vivências afetivas, além do PANAS, foi utilizado o instrumento International
Personality Item Pool (IPIP), que avalia a personalidade segundo o modelo dos Cinco Grandes Fatores,
com as subescalas para os traços neuroticismo e extroversão. Baseados nos
resultados do estudo 1, foram escolhidas quatro dimensões do instrumento PPA
sobre as metas em saúde: percepção de atingibilidade, controlabilidade, congruência
com a própria identidade e dificuldade. O estudo 2 avaliou 185 participantes (63,2%
mulheres), com idade média de 40,6 anos (DP = 11,85), e o estudo 3 contou com 180
participantes (63,9% mulheres), com média de idade 40,8 anos (DP = 12,73).
Os
resultados indicaram que as percepções sobre as metas em saúde tendem a ser
congruentes com a vivência afetiva. A vivência de afetos negativos esteve
relacionada com a percepção de metas relacionadas à saúde como menos
controláveis, menos atingíveis, mais difíceis e menos congruentes com a própria
identidade. O oposto foi percebido em relação à vivência afetiva positiva. Além
disso, aqueles com maior vivência de afetos positivos avaliaram os meios de se
atingir as próprias metas em saúde como menos difíceis. Além disso, a vivência
afetiva como estado apresentou maior associação com a percepção de metas em
saúde do que como traço. Já o neuroticismo mostrou associações em relação à
percepção negativas de metas em saúde, mas a extroversão não apresentou
relações estatisticamente significativas com melhor percepção dessas metas.
Este estudo contribui com a psicologia
da saúde porque avalia uma forma pela qual a vivência afetiva pode influenciar na
adoção de estilo de vida mais saudáveis. Os resultados apontam para o papel da
avaliação cognitiva sobre as próprias metas em saúde, para assim entender como
indivíduos com vivências afetivas negativas se engajam menos em hábitos de vida
saudáveis, a exemplo de exercícios físicos e alimentação equilibrada.
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