Intervenção psicológica no acompanhamento hospitalar de uma criança queimada

 

Azevêdo, A. V. D. S., & Santos, A. F. T. D. (2011). Intervenção psicológica no acompanhamento hospitalar de uma criança queimada. Psicologia: Ciência e Profissão31(2), 328-339. https://doi.org/10.1590/S1414-98932011000200010

Resenhado por Maísa Carvalho

A literatura em Psicologia da Saúde pontua que a percepção e o enfrentamento acerca do processo de hospitalização eventualmente geram consequências a nível cognitivo, emocional e comportamental, as quais, podem impactar positiva ou negativamente o tratamento do indivíduo. Em crianças, pode ser ainda mais complexo, visto que esse público possui uma gama reduzida de estratégias de enfrentamento, sendo relevante o acompanhamento psicológico nessa etapa. Nos quadros de pacientes hospitalizados com queimaduras, esse atendimento torna-se ainda mais necessário, pois os indivíduos podem apresentar dificuldades de lidar com a dor mesmo em lesões já cicatrizadas. A partir disso, o presente estudo objetivou analisar um modelo de intervenção psicológica utilizado no acompanhamento hospitalar de uma criança queimada.

Foram utilizadas as técnicas de entrevista motivacional, mapa de rosto de sentimentos, jardim de flor de pensamentos, Escala Numérica de Relato Verbal para Avaliação da Dor, treino de relaxamento autógeno com respiração diafragmática e psicoeducação. Ao total, foram realizados 24 atendimentos semanais em dias alternados com participação da acompanhante, que era a genitora, e da equipe de saúde. A criança permaneceu hospitalizada durante 3 meses, todavia, as intervenções psicológicas foram iniciadas a partir do segundo mês e finalizadas com 8 semanas de atendimento psicológico.

Durante todo o processo, identificou-se que a criança possuía déficit nas habilidades de expressão verbal e vivências de dor que eram manifestadas pelos procedimentos hospitalares, os quais eram percebidos após a realização dos curativos. As crises surgiam normalmente pela manhã e eram acompanhadas de choro, que representava a extensão da dor sentida. Ao longo do período da intervenção, a criança passou a identificar os pensamentos, sentimentos e comportamentos associados às vivências no hospital, mostrou-se receptiva às técnicas de relaxamento e mais aberta aos contatos com a equipe de saúde, demonstrou melhor capacidade de lidar com a dor, reestruturou pensamentos, desenvolveu habilidades adaptativas e apresentou melhoras no humor e no comportamento, assim como a redução dos níveis de dor.

Diante do exposto, percebe-se que intervenções psicológicas são de grande valia para o tratamento de diferentes quadros clínicos, auxiliando o indivíduo em seu processo de ajustamento psíquico e enfrentamento dessas situações. Dessa forma, acredita-se ser importante o desenvolvimento de intervenções baseadas em evidências que utilizem o aporte teórico da Psicologia da Saúde e da Psicologia Clínica, assim como a disseminação dessas práticas entre os profissionais da psicologia como forma de superar procedimentos pouco eficazes e pautados basicamente no acolhimento e escuta clínica.

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