Tolerância à incerteza e coping: Preditores e mediadores da saúde mental durante a pandemia da Covid-19
Rettie, H., & Daniels, J. (2020). Coping and
tolerance of uncertainty: Predictors and mediators of mental health during the
COVID-19 pandemic. American
Psychologist,
76(3). https://doi.org/10.1037/amp0000710
Resenhado por
Luiz Fernando de Andrade Melo
A pandemia da Covid-19 provocou
diferentes impactos nos indivíduos em geral, desde socioeconômicos até
psicológicos, especialmente por ter sido um período incerto, com consequências
até então desconhecidas. Na pandemia também houve aumento dos níveis de alguns
transtornos psiquiátricos como a ansiedade e a depressão, bem como a acentuação
do estresse na população. Determinados grupos, inclusive, tiveram atenção maior
pela sua vulnerabilidade ao vírus e, consequentemente, nos danos à saúde mental
devido ao contexto vivido pela Covid-19.
Para enfrentamento de crises como a
pandemia da Covid-19, adotar estratégias de coping se torna uma das
opções que buscam lidar melhor com tais danos na saúde mental. Entretanto,
algumas dessas estratégias podem ser mal adaptativas e resultar no agravamento
do estado mental que o indivíduo se encontra. A intolerância ou a baixa
tolerância à incerteza poderiam ser construtos que estariam ligados com o uso
de diferentes tipos de coping diante de uma crise como foi a pandemia.
Isso pode ser explicado por que a intolerância à incerteza se trata de uma
dificuldade que a pessoa tem em lidar com eventos incertos e com suas
consequências, a exemplo da crise da Covid-19. Assim, o objetivo deste estudo
se deu em verificar se a intolerância à incerteza prediria o processo de coping,
mal adaptativo ou não, e se o coping estaria mediando a relação entre a intolerância
à incerteza e a saúde mental.
Participaram da pesquisa 974 adultos,
sendo que 132 não completaram os questionários utilizados e seus dados foram
descartados da análise, no mês de abril de 2020. Utilizou-se a Intolerance
of Uncertainty Scale, com 27 itens distribuídos em escalas tipo Likert de 1
a 5 pontos, para mensuração da intolerância à incerteza. O Patient Health
Questionnaire – PHQ-8 foi usado para avaliação dos níveis de depressão
através de 8 itens e a General Anxiety Disorder – GAD-7 para os de
ansiedade por meio de 7 itens. A ansiedade também foi medida com o Short
Health Anxiety Inventory com 14 itens. Já o coping foi avaliado por
meio do Brief Coping Orientation to Problems Experienced – COPE, dividido
em 14 diferentes tipos de respostas numa escala Likert de 4 pontos para os 28
itens do instrumento. Por fim, foram feitas correlações de Pearson, testes t, análise multivariada de variância e
mediação paralela com o SPSS para análise dos dados obtidos.
Os resultados demonstraram que pessoas
com altos níveis de intolerância à incerteza são mais prováveis de usar
estratégias mal adaptativas de coping, embora não houvesse nenhuma
correlação com as estratégias adaptativas. Além disso, o uso de medidas mal adaptativas
de coping esteve relacionado com maiores níveis de ansiedade, depressão
e ansiedade de saúde. Também foi notada a predição de impactos na saúde mental
por meio da intolerância à incerteza e que o coping mal adaptativo medeia
a relação entre o construto e os níveis das variáveis psicológicas estudadas.
A relevância desses resultados se dá
justamente porque entendendo a mediação e as relações encontradas torna-se
viável interferir na saúde mental por meio do uso de estratégias adaptativas de
coping e aumento da tolerância à incerteza. Em períodos de crises como
da pandemia da Covid-19, pode-se incentivar a aceitação e a busca por suporte
pode ser uma ferramenta para melhor lidar com as consequências incertas
presentes em tais contextos. Por fim, é possível também minimizar os danos
psicológicos e promover a adesão de comportamentos saudáveis para o
enfrentamento desses eventos incertos, demonstrando a atuação da Psicologia da
Saúde em crises semelhantes à pandemia.
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