Drive for Muscularity: Um Estudo Exploratório no Exército Brasileiro

Resenhado por Monique Carregosa

Campana, A. N. N. B., Morgado, J. J. M., Morgado, F. F. R., Campana, M. B., Ferreira, L., & Tavares, M. C. G. C. F. (2014). Drive for Muscularity: Um Estudo Exploratório no Exército Brasileiro. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 30, 213-222.

Trata-se de um estudo transversal exploratório, cujo objetivo foi analisar os traços de drive for muscularity em homens militares brasileiros, por ser um público que necessita de um porte físico musculoso aliado a uma boa qualidade de vida, e, por esta razão, demonstrar uma grande preocupação com o corpo. 
Drive for muscularity diz respeito ao desejo de alcançar o corpo muscular idealizado, à necessidade de estar no padrão de atratividade física masculina  e ao grau de preocupação em relação ao aumento da sua musculatura. Esse termo passou a ser estudado, como um construto, quando a musculatura ganhou um aspecto central na temática imagem corporal. 
Dentre os chamados comportamentos negativos que estão atrelados ao drive muscularity destacam-se o uso dos esteróides anabólicos androgênicos (EAA), a prática exagerada de exercícios resistidos, a verificação assídua do volume muscular e até a evitação do corpo, o qual pode representar um quadro clínico de dismorfia muscular, uma vez que o sujeito apresenta uma grande insatisfação corporal, podendo acarretar em sérias consequências biopsicossociais.
 O presente estudo se faz importante no contexto brasileiro, devido à relevância que o homem do nosso país dá ao corpo musculoso, e, no cenário militar, esse aspecto é ainda mais preponderante. Todavia, sabe-se também que essa conjuntura no chamado quartel é reforçada pelas exigências corporais do Exército Brasileiro, inclusive como critério para o êxito na carreira militar, o que influencia em vários segmentos, desde a escolha das armas e até da Unidade que o soldado servirá após o curso, fomentando tanto o monitoramento do corpo quanto possíveis transtornos associados, como a ansiedade e os transtornos alimentares.
Por esta via, analisou-se dados de uma amostra não-probabilística de 654 homens, no Curso de Formação de Sargentos do Exército Brasileiro, de um quartel situado numa cidade do estado de Minas Gerais, dos quais 50% eram ingressantes.
Utilizou-se os seguintes instrumentos: Versão Brasileira da Drive for Muscularity Scale - DMS; Versão Brasileira da Swansea Muscularity Attitudes Questionaire - SMAQ; Versão Brasileira da Masculine Body Ideal Distress Scale - MBIDS; Versão Brasileira da Social Physique Anxiety Scale - SPAS; e um questionário demográfico. Os voluntários receberam um pacote de questionários autoaplicáveis e anônimos e os responderam numa sala com capacidade para receber até 20 participantes simultaneamente.
No geral, os resultados indicaram associações entre as variáveis de drive for muscularity e os hábitos de prática de atividade física, satisfação com a vida e com o corpo e ansiedade físico-social, sendo o investimento na musculatura o elemento de drive for muscularity que tem mais influência na satisfação com a vida e com o corpo. Também encontrou-se distinções nos traços de drive for muscularity em relação ao status de relacionamento amoroso, segurança financeira e tempo de carreira no exército, sendo o primeiro o que mais chamou a atenção, uma vez que observou-se resultados relevantes tanto nos comprometidos como nos não comprometidos afetivamente, destoando de estudos que apontam para variações estatísticas significativas apenas no primeiro status.

Portanto, é notória a importância do assunto, pois trata-se de uma pesquisa para além do subjetivo e do "culto ao corpo". Ela perpassa por questões profissionais e de âmbito social, sendo caracterizada pela pressão do contexto militar, podendo ocasionar um grande sofrimento psíquico. Para tanto, sugere-se acompanhamentos dos níveis de drive for muscularity no Exército e cuidados psicossociais para esses profissionais.

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