Gravidez na adolescência: prevalência de depressão, ansiedade e ideação suicida

Resenhado por Laís Santos

Freitas, G.V.S & Botega, N.J. (2002). Gravidez na adolescência: Prevalência de depressão, ansiedade e ideação suicida.  Revista Associação Médica Brasileira; 48, 245-249. doi: 10.1590/S0104-42302002000300039

            De acordo com a literatura, a gravidez é a primeira causa de internações (66,0%) em adolescentes com idade entre 10 e 19 anos. Além da gravidez precoce, outro fator de internação ligado a essa população específica, é a tentativa de suicídio. A literatura aponta que a gravidez na adolescência está muito associada ao risco de suicídio. Esse risco pode surgir durante a gestação, como também no período pós-parto.
             Além do risco de suicídio também podem aparecer a depressão e uma percepção negativa da rede de apoio social em adolescentes gestantes.  Estudos apontam ainda, que abusos físicos e sexuais são bem frequentes nessa população, e muitas das vezes tais fatos estão intimamente ligados a ideação suicida, tentativas de suicídio e aos sintomas da depressão crônica no primeiro ano após o parto.
            O artigo em questão buscou estimar a incidência de depressão, ansiedade e ideação suicida em adolescentes gestantes durante os primeiros três meses de gestação. Além disso, objetivou-se aferir possíveis associações entre ideação suicida, depressão, ansiedade, história de abuso sexual, de agressão física, de tentativa de suicídio anterior, intenção de engravidar, período gestacional, situação conjugal e apoio social.
            A amostra foi composta de 120 adolescentes grávidas – 40 no primeiro trimestre de gestação, 40 no segundo e as demais no terceiro. Todas as adolescentes foram selecionadas de modo aleatório entre 329 adolescentes atendidas pelo Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM 2) de Piracicaba, SP, no período de 1999 e fevereiro de 2000. Fizeram parte da amostra, apenas adolescentes entre os 14 e 18 anos de idade, com no mínimo cinco anos de escolaridade, e sem outros filhos. Os instrumentos utilizados foram um questionário para orientar a anamnese, baseado no “European Parasuicide Standardized Interview Schedule”, a Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão (HADS), a Escala de Ideação Suicida de Beck (BSI) e uma Entrevista Clínica Estruturada - edição revisada (CIS-R), que avalia transtornos psiquiátricos não-psicóticos.
            Os resultados deste estudo foram indicaram que 37,0% das adolescentes haviam abandonado os estudos a mais de um ano; 50,0% eram filhas de pais separados. Além disso, a faixa etária das mães das adolescentes entrevistadas, em sua primeira gestação, variou dos 12 aos 28 anos.
             No que tange aos parceiros das adolescentes e pais dos bebês das mesmas, a média de idade deles variou dos 15 aos 50 anos. O tempo de relacionamento destas adolescentes e os pais das crianças giravam em torno dos 18,5 meses. No se que refere ao abuso físico, 41,6% das adolescentes relatou ter sofrido abusos físicos na maioria das vezes, provenientes de seus genitores (pais, mães, irmãos e avós). Quanto ao abuso sexual, 19 adolescentes (15,8%) relataram que tinham sofrido tal abuso; na maioria dos casos os agressores eram os pais – 3 casos – e padrastos – também três casos. 45,8% das adolescentes afirmaram que não tinham intenção de engravidar e 7,5% alegaram terem praticado alguma tentativa de aborto na gestação atual.
            Com relação aos dados de ideação suicida, 20 (16,7%) das entrevistadas demonstraram a presença de ideação suicida, oito (40,0%) também apresentavam ansiedade e depressão, cinco (25,0%) apresentavam somente depressão, duas (10,0%) apresentavam somente ansiedade. Além disso, 16 (13,3%) tentaram o suicídio anteriormente, e entre as adolescentes com ideação suicida, apenas cinco (20,0%) não apresentaram indícios de ansiedade ou de depressão.
            Diante dos dados encontrados, observou-se que foi aproximadamente igual à incidência de depressão, ansiedade e ideação suicida na amostra estudada. Além disso, a ideação suicida apareceu intimamente correlacionada à depressão, ansiedade, pouco apoio social e estado civil destas adolescentes. De modo geral, as adolescentes gestantes entrevistadas, é um grupo bem diversificado quanto à idade dos parceiros, e até mesmo ao desejo de ter um filho. Algumas das adolescentes demonstraram estar felizes e até relataram planos anteriores de ter um filho. Em contra partida, outro grupo demonstrou sentimentos totalmente inversos, apresentando ideação suicida, sentimento de solidão, de desespero, dentre outros.
            Em suma, os resultados encontrados e o crescente número de adolescentes gestantes evidenciam a necessidade e importância de programas de orientação que possam servir como suporte social para adolescentes. É relevante que tais programas possam enfatizar não apenas a prevenção de gravidez nessa fase do desenvolvimento, mas que também se voltem para aspectos tais como: indícios de ideação suicida, depressão e ansiedade, a fim de reduzir tais sintomas e possíveis consequências danosas.


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